Desde o dia 23 de Novembro de
2015, que tenho estado a reflectir, em jeito de contribuição para o debate de
ideias, sobre a crise económica que afecta actualmente Moçambique. O meu
primeiro “post” dessa época era intitulado: "Moçambique pode entrar em
colapso a qualquer momento". À época dessa primeira reflexão, o dólar
norte-americano custava 40 e poucos. E pouca gente, mas pouca mesmo, estava
ciente do que estava para acontecer, ou o que levava o dólar a custar 40
meticais. Posso até garantir que muitos não consideraram a realidade da
situação ao extremo. Hoje já é diferente. Custou mas as pessoas despertaram.
Percebem que o caos está eminente. O dólar hoje, no banco, está cotado a quase
70 meticais, e a qualquer momento poderá chegar a 80, 90 ou 100 meticais e para
que isso aconteça, não falta muito.
Reflectindo
A 15 de Janeiro de 2015, quatro
dias antes da tomada de posse do nosso Presidente da República e meu
conterrâneo Filipe Nyusi, o dólar estava 32,5 meticais. Hoje custa o dobro
desse valor. Os produtos da primeira necessidade estão a subir gradualmente.
Assim é porque ainda se trata do stock antigo que os comerciantes têm nos seus
armazéns. Daqui a nada, a subida não será gradual, mas, sim, galopante. Se não
aumentaram os preços de forma arrepiante é porque também tinham medo de sofrer
represálias de quem regula este sector.
Estou convencido que dentro de
algumas semanas iremos observar uma subida de preços jamais vista em
Moçambique. Não devemos esquecer que 90% dos produtos em Moçambique são
importados. 99% da matéria prima usada para vários fins é importado, o
combustível é também importado. Automaticamente, tudo vai subir, desde os
transportes até à alimentação. A economia moçambicana é dolarizada, o que se
chama em linguagem técnica de dolarização, daí que alguns serviços são pagos em
dólares, ou seja, o seu cálculo é feito nesta moeda. Temos escolas onde paga-se
em dólares, bem como alguns exemplos que ora me ocorrem que são a DSTV e a Tv
Cabo. Com certeza que estes serviços irão aumentar os seus preços.
Dívidas
Não vou falar das dívidas da
Ematum e outras, porque este assunto até já virou chacota. Qualquer criança de
três anos em Moçambique, goza com isso. A verdade é que estas dívidas, de cerca
de dois biliões de dólares, vão ser pagas. Pode não ser a breve trecho, mas um
dia terá de ser e será com juros.Em Janeiro último, o Banco de Moçambique criou
medidas duras sobre cartões de crédito e débito, muitos até criticaram Ernesto
Gove, o governador do banco emissor, e Adriano Maleiane, o ministro das
Finanças. Ao tomarem estas medidas, quase que cirúrgicas, eles foram claros:
" Não temos divisas, Moçambique não exporta nada ".A mensagem de que Moçambique
estava à beira do caos veio camuflada com a nova norma de que cada moçambicano
só poderia levantar até um limite de 700 mil meticais. Algumas pessoas
perceberam a partir desta decisão do Banco de Moçambique que a economia
moçambicana estava a agonizar.
Western Union
Todos os moçambicanos que têm
algum familiar no estrangeiro faziam as suas transferências via Western Union
ou Moneygram. Acontece, porém, que estes já nem querem saber do metical, apenas
dólar. Os que têm necessidade de enviar algum valor para fora, são obrigados a
levar um enorme volume de meticais, trocar em USD no mercado negro, depois
fazem as suas transacções normais nestas instituições. E aqui também as
transferências são limitadas.
Agências de viagem
As agencias de viagem em
Moçambique podem entrar em ruptura, isto porque quase todas trabalham com a
IATA. A IATA deve pagar às companhias aéreas em dólares. Logicamente, a própria
IATA, por estas alturas, tem os mesmos problemas em adquirir a moeda americana
nos bancos, por não haver divisas. E isto pode forçar a IATA, a qualquer
momento, a suspender os acordos que tem com as agências de viagem. Os
moçambicanos terão que viajar para África do Sul para adquirir passagens aéreas
para outras partes do mundo e as viagens custarão muito mais caras porque a
cada dia o metical perde o seu valor.
Mercado negro
Ontem dia 27 de Junho, o BCI
vendia o dólar, com comissão, a 69,300 meticais. No mercado negro, o dólar era
vendido a 67,300 meticais. Quer dizer, dois meticais mais abaixo que o banco.
Isto significa que há escassez da nossa própria moeda, o metical, nos circuitos
normais de circulação. Normalmente deveria ser o contrário, no mercado negro
deveria estar a 71 meticais e o banco vender mais baixo.
Financiamento bancário
Os bancos comerciais em
Moçambique estão à beira do colapso, não assumem publicamente apenas porque não
têm como devolver o dinheiro dos clientes, estão a ganhar tempo. O banco
emprestava dinheiro com uma taxa de juro de 24% ao ano, e só num ano houve
desvalorização da moeda em 100% .O que o banco ganhou neste um ano? Aliás, as
taxas directoras do Banco de Moçambique tem estado a ser actualizadas, isto é,
quem tem empréstimos vai pagar mais pelo valor que obteve...
Imobiliária
Os preços de imóveis em seis
meses caíram cerca de 50%. Um apartamento que era vendido por 200 mil dólares,
que na altura eram seis milhões de meticais, hoje custa cerca de 95 mil dólares,
sendo que se trata de um valor proibitivo, ou seja ninguém compra.
As rendas baixaram acima de 70 %
e mesmo assim ninguém quer. Uma loja que há 15 meses alugava-se por dois mil
dólares, hoje a mesma loja está a 50 mil meticais, valor que não chega 800
dólares e mesmo com este preço a procura diminuiu.
Importação
Como disse anteriormente, as
importações já caíram quase 90%, primeiro não há divisas nos bancos para
importação, segundo, os comerciantes não têm capital suficiente para importar
um contentor que está duas vezes mais caro que o que pagava anteriormente. Se o
comerciante, porventura importar, corre o risco de não vender porque o produto
custa 130% mais caro do que no passado recente, e ainda porque o vizinho que
tem o stock antigo vende 100% mais barato do que quem importa agora.
Conclusão
Moçambique não está em colapso,
Moçambique está de tangas, sinto muito por usar esta expressão "
TANGAS". Sou moçambicano de gema. Sinto
quando vejo compatriotas meus a sobreviver. Ademais, alguns há que ainda não
caíram na realidade e quando isso acontecer, provavelmente vai ser tarde
demais. Ou seja, estamos a caminho de termos duas classes: a rica e a pobre.
PS: Recebi este texto por email
através do meu amigo Kekobad Patel. Não sei quem é o autor. Publico-o porque é
simplesmente uma narrativa sincera sobre a crise. Quem lê nossos jornais não
encontra este tipo de abordagem sobre a economia real. Até parece que não
estamos em crise.(MM in facebok)
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