1980, Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique entrevistado sobre os índices de corrupcção na jovem República:
O Senhor Presidente diz que
ainda há corrupção em Moçambique. Mas a opinião geral em todo o mundo é que o
seu país é dos menos corruptos em África. O que tem a dizer sobre isto?
Samora Machel: Penso que a podemos afirmar
com satisfação no termo de cinco anos de independência, que avançámos muito
mais no combate à corrupção de que muitos países africanos independentes há
mais tempo. Simplesmente, julgamos que ainda não avançámos o suficiente, que
estamos ainda muito longe dos nossos objectivos.
SM:No Ocidente, em especial,
formou-se uma certa imagem dos países africanos. Dessa imagem fazem parte a
corrupção, a desorganização, a incompetência, o desleixo. São coisas já
consideradas "normais" em África. Assim, quando aparece um país como
o nosso, onde há um combate consequente contra esses males, os observadores
estrangeiros têm tendência a dizer que, "comparado com outros países
africanos", o nosso não é assim tão mau. Pensamos que esta perspectiva é
incorrecta e revela paternalismo, mesmo quando é assumida por observadores simpatizantes
do nosso processo.
É realista exigir mais?
SM:O nosso termo de comparação são
os países mais avançados, onde foi construída uma sociedade mais justa e onde
esses males foram eliminados ou quase eliminados, a ponto de já não
constituirem um problema sério. É com esses países que queremos comparar-nos. O
nosso objectivo não é sermos um país africano menos corrupto do que os outros -
o nosso objectivo é eliminar radicalmente a corrupção do nosso país.Queremos demonstrar, neste
processo, que a corrupção, a ineficiência, não são características africanas -
são sim características da ideologia do subdesenvolvimento.
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