O
Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) publicou, há dias, o relatório
de um estudo sobre plágio em cinco universidades moçambicanas, entre públicas e
privadas, com o título “Plágio em 5 Universidades Moçambicanas: Amplitude,
Técnicas de Detecção e Medidas de Controlo”. O referido estudo, da autoria de
Peter Coughlin, teve como amostra 150 trabalhos de fim de curso (monografias de
licenciatura e dissertações de mestrado), tendo concluído que nada mais, nada
menos que 75 por cento dos mesmos continham plágio. Antes de nos alongarmos,
talvez valha a pena dizer o que é plágio. De forma simples e segundo Thomas e Bruin
(2015), plágio é um “roubo intelectual” que consiste no uso de ideias e/ou
pensamentos alheios como se fossem nossos, ou seja, sem atribuição ou citação, ofendendo
os mais supremos valores da academia, adiando a aprendizagem séria, a
disseminação de conhecimento novo e a integridade da academia como instituição.
Ele pode ser derivado da falta de rigor nas citações, o que pode induzir os
leitores a pensarem que aquelas são ideias do autor. E há também o chamado self-plagiarism
(auto-plágio), ou seja, um autor usar um texto seu como se fosse um novo texto,
mudando-lhe, quase sempre, apenas o título), que não é menos preocupante. Numa
altura em que existe um “consenso generalizado” sobre a baixa qualidade do
ensino no país a todos os níveis, não deixa de ser preocupante que três em cada
quatro (75 por cento) trabalhos de fim de curso nos níveis atrás referidos
contenham níveis elevados de plágio. É certo que o estudo admite que pode ser
que parte de situações tais tenham que ver com deficiências metodológicas dos
autores desses trabalhos, mas, mesmo assim, não estamos perante uma boa
notícia. A limitada observação que tenho feito ao longo dos tempos, tanto em
universidades públicas como privadas, me leva a inferir que a grande lição que
o estudo do IESE nos dá é no sentido de se leccionar as disciplinas de métodos
e técnicas de investigação e redacção de trabalhos científicos de forma mais
rigorosa, para que não tenhamos almas empurradas ao estatuto de plagiadores por
mera inocência metodológica, ao que se juntaria, naturalmente, a própria
negligência dos autores dos estudos tais, e porque não dos seus tutores e
examinadores, que, pelo menos nas situações particularmente graves, deveriam ou
ter evitado ou ter detectado situações de atropelo à ética. Entretanto, para
averiguar a gravidade da situação do plágio no país, que tal se se fizesse algo
similar para com as teses de doutoramento e artigos científicos sujeitos à
revisão de pares da autoria dos doutores da nossa República? Se a diferença
entre uma e outra situação fosse similar, confesso que não me espantaria assim
tanto, considerando a dimensão potencialmente universal do problema do plágio
académico. Aliás, há algumas semanas um renomado investigador doméstico denunciava
um seu colega de profissão, por alegado plágio. E, ao que tudo indica, de forma
reiterada!
Um
trabalho recente (Abril de 2015) de dois professores sul-africanos (Adèle
Thomas e Gideon de Bruin, da Universidade de Joanesburgo, intitulado “The
millions we spend on stolen ideas”, revela a gravidade da situação naquele que
é o país que mais se destaca, ao nível de África, no ranking das melhores
universidades do continente (as cinco melhores instituições de ensino superior de
África são sul-africanas). E, diferentemente do que constituiu objecto do
estudo de Coughlin, Thomas e Bruin tiveram como amostra 371 artigos científicos
publicados em 19 revistas científicas, em 2011, depois que aprovados em sede de
revisão de pares. O que se constatou na pátria das melhores universidades do
continente, com recurso às plataformas tecnológicas de detecção de plágio
(Turnitin), é simplesmente alarmante: 68 porcento dos artigos submetidos ao
exame continham similaridades e evidência bastante para qualificar como produto
de plágio. Os que continham plágio considerado nitidamente excessivo correspondiam
a 21 por cento, enquanto que 27 por cento se inseriam na categoria de níveis
muito elevados de plágio. E convém sublinhar o seguinte: como que se inspirando
no sagrado princípio constitucional e jurídico-penal segundo o qual a dúvida
beneficia o réu, os investigadores sul-africanos fizeram o mesmo para com os
autores que estivessem na fronteira entre o rigor académico e o plágio. Os dois
investigadores referem, no seu estudo, que os contribuintes sul-africanos
dispenderam pelo menos sete milhões de randes na recompensa à fraude: naquele país
vizinho, o Governo paga 120 mil randes por cada artigo científico publicado
numa revista científica, depois da relevante revisão de pares. Compete a cada universidade
a que os autores estão associados a definição da margem ou parcela que é
alocada a estes últimos. Se no caso de estudantes moçambicanos ainda se pode aventar
a possibilidade de o plágio ter que ver com deficiências na sua formação, no
caso dos investigadores sul-africanos, os doutorados sobretudo, a situação é mais
de pendor ético. Naquele país, as verbas públicas disponíveis e em tantos
outros países, há-de estar a propiciar situações de oportunismo.
Adicionalmente, a luta pela promoção na carreira universitária, que toma as
publicações científicas como um dos requisitos centrais, há-de fazer parte da
triste equação do plágio académico. Domesticamente, seria interessante saber da
posição do Conselho de Reitores!
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