População da cidade de Quelimane, província da Zambézia, centro do país,
mas principalmente os que acompanharam atentamente a visita do líder do maior
partido da oposição em Moçambique naquela parcela do país, consideram Afonso
Dhlakama como sendo um actor de teatro que não usa a política para resolver os
problemas dos moçambicanos, mas sim para entreter o povo, avançou o site Diário
da Zambézia. Alguns munícipes que assistiram o último comício proferido por
Afonso Dhlakama na cidade de Quelimane, em entrevista ao Diário da Zambézia,
foram unânimes em dizer que não ouviram nada novo. Os mesmos, dizem que a
insatisfação, começa quando Dhlakama escala a cidade de Quelimane na passada
tarde de terça-feira (18), e dizia de viva voz que na reunião que teria com os
desmobilizados de guerra do seu partido, cabia a eles decidirem o futuro deste
país. Arnaldo Jorge um dos presentes, disse que as expectativas em torno das
decisões que seriam tomadas na reunião eram enormes.
quarta-feira, agosto 26, 2015
Dhlakama começa a fartar
Uma República sem republicanos
Há um certo sentido em que
podemos dizer que o conflito que opõe a Renamo ao Governo é a expressão duma
crise política que me parece mais profunda do que estamos preparados para
aceitar. Moçambique é uma república, mas o que isso significa para cada um de
nós não me parece claro. Há uma noção “cafreal” de república que se pode
facilmente depreender de várias intervenções nos espaços de discussão. É
herdeira do discurso político da Frelimo gloriosa e consiste numa interpretação
literal do termo “República” (res publica, isto é, o que diz respeito a todos)
para servir de suporte à indignação como quando reclamamos que as riquezas do
país pertencem a todos – o cavalo de batalha da sociedade civil
profissionalizada – ou que devem ser distribuídas de forma equitativa, o
principal discurso político. Fora dessa noção não consigo vislumbrar nenhum
outro entendimento. Isso incomoda-me, pois parece explicar algumas das
dificuldades que temos com este conflito.
Nós temos a sorte de não
precisarmos de re-inventar a roda em muitas coisas. Isso não significa, porém,
que o único que nos resta seja apenas copiar fielmente o que os outros fizeram.
Claro que não. Mas uma boa parte do trabalho de construção dum Estado-Nação
consiste em adequar o que os outros inventaram as nossas condições. A ideia
republicana foi formulada no Império Romano e, ao que me parece, aperfeiçoada
pelos americanos e um pouco, talvez, pelos franceses na sua revolução. O que
caracteriza a república é a definição da liberdade como não-dominação. Essa liberdade
implica duas coisas. Implica, primeiro, que nenhuma pessoa livre pode estar
sujeita à vontade de outrem. Se para eu ser o que quero ser preciso do aval de
outra pessoa, ou duma instituição, não posso dizer que seja livre. Mesmo também
quando a pessoa que me podia impedir de ser o que quero ser não o faz por
benevolência não posso dizer que seja livre. Liberdade é uma vida sem
restrições, nem limitações. É claro que isto não é absoluto, pois essa
liberdade termina quando afecta a liberdade dos outros. A liberdade implica,
segundo, que tenho o direito de interpelar criticamente aquele que me governa.
Isto é, a minha participação na administração da vida pública é fundamental
para a minha liberdade. A protecção deste meu direito de interpelar criticamente
quem me governa dá qualidade a minha liberdade. Este é o sentido profundo de
“República”. Construir uma república é adaptar estes princípios fundamentais as
nossas condições. Construir o Estado-Nação em Moçambique é procurar saber que
tipo de instituições precisamos de ter para protegermos esta liberdade. Talvez
seja importante dizer que o republicanismo não é liberalismo. O liberalismo é
apenas uma interpretação do republicanismo.
Moçambique é uma República, mas
tem republicanos? Duvido. A Frelimo, pela sua história, nunca foi republicana
no sentido em que expus essa noção aqui. Havia um pouco de Rousseau na sua
ideia de “soberania popular”, mas devido ao Marxismo que adoptou infletiu mais
para uma concepção Hobbesiana duma liberdade que é produzida por um Suserano de
quem depende tudo o resto. O abandono oficial do Marxismo e a adopção duma
constituição republicana democrática não alterou muita coisa. Para já essa
adopção foi formal com o “copy and paste” de constituições europeias. Os que
defenderam o Marxismo com convicção continuam a achar que o país estaria melhor
se eles tivessem a prerrogativa de definir o que é a liberdade para cada um de
nós. Os que abandonaram o Marxismo continuam convencidos de que eles é que
corporizam a vontade do povo. Ainda não vi, no nosso país, nenhuma intervenção
de peso da parte de juristas, cientistas políticos ou filósofos – para já não
falar de políticos – que indique um compromisso mais sério com o espírito
republicano. Antes pelo contrário, muitas intervenções sugerem quase sempre ou
a ausência desse espírito ou então uma tremenda confusão. Muitas intervenções
que leio (de juristas contra ou a favor do governo) raramente revelam um
compromisso com este espírito. São, na maior parte das vezes, interpretações
técnicas de leis. Acho isto muito pobre, mas sintomático.
A Renamo, também pela sua
história, nunca foi republicana e está ainda mais longe de o ser do que a
Frelimo. O seu credo é o despotismo disfarçado em demagogia. Há um pouco de
Frelimo gloriosa na Renamo actual. Quando se presta atenção ao discurso e à
prática do seu líder, mas também aos discursos e às práticas dos seus
colaboradores, sobretudo no que diz respeito às funções do Estado, à atitude em
relação à sociedade, etc., nota-se imediatamente que “democracia” é um termo
funcional, não é um valor. Serve para produzir um mito fundador (pai da
democracia) e serve para reclamar um espaço específico na arena política e
económica nacional que não garante necessariamente a liberdade dos outros, mas
sim a prerrogativa do chefe de conceder liberdade aos outros. Uma prova muito
simples do compromisso democrático da Renamo é a sua hostilidade ao alargamento
do diálogo político a outras forças, os seus constantes insultos à liderança do
MDM e a instrumentalização do diálogo para ganhos políticos particulares (isto
é, só para a Renamo).
Não se explica que a Renamo nunca
tenha adoptado a postura de formar uma frente comum com todas as outras forças
políticas para contestar o que considera ser a perversão da democracia no país.
E isso não se explica porque a sua preocupação central não é a democracia, mas
sim as suas prerrogativas, ou mais especificamente, as prerrogativas do seu
líder. É só ver a forma como ele trata os seus próprios colaboradores e gere o
seu partido para perceber que democracia tem um outro sentido naquelas hostes.
E há “intelectuais” que caiem nisto, mas percebe-se. Em todo o intelectual há
aquele lado romântico que nos leva a crer, contra todas as evidências, na nossa
capacidade de domesticarmos um líder guerrilheiro. Alguns destes “intelectuais”
padeceram do mesmo mal em relação a Samora Machel e encontraram justificação
para todos os seus desmandos por causa do mesmo tipo de fascínio… Para mim não
há dúvidas de que o país, nas mãos da Renamo, seria um grande retrocesso
justamente porque não só não tem espírito republicano como também o seu
principal credo é o despotismo. A Frelimo, pelas suas clivagens internas, não
tem espaço para o despotismo, mas a cultura do poder absoluto pode, como
infelizmente pareceu fazê-lo no último mandato de Guebuza, criar condições para
que indivíduos com este tipo de motivação ganhem supremacia.
Em relação ao MDM não me ocorre
quase nada. O partido insiste em andar a reboque da Renamo, mesmo que seja
maltratado e humilhado, e para além de frases vazias de conteúdo como
“Moçambique para todos” não revela muito que possa consubstanciar um espírito
republicano. É o partido que está melhor posicionado para cultivar esse
espírito, pois não tem as tradições militares dos outros dois e a sua luta por
espaço no contexto nacional é, no fundo, a luta que todos os moçambicanos
travam pela liberdade. Não está à frente de nenhum movimento cívico – apesar de
se auto-intitular de “movimento” – em prol do espírito republicano e contra o
espírito anti-democrático do diálogo entre a Frelimo e a Renamo. Fica à espera
do que de lá sair para se posicionar. Acresce-se a este vazio de liderança
cívica a extrema incoerência de algumas pessoas que se consideram intelectuais
– sobretudo nos jornais ditos independentes – que confundem hostilidade à
Frelimo com posição pró-democracia. Ainda há pouco li um texto de Machado da
Graça, articulista do Savana – o mesmo jornal que coroou o líder da Renamo
figura do ano – em que critica, com certa legitimidade, a postura do governo em
relação ao diálogo político, mas não aproveita esse momento para se distanciar
claramente do recurso à violência, do incitamento à sessação e à rebelião, dos
insultos aos órgãos do Estado, nada. E essa omissão reforça a ideia de que os
fins justificam todos os meios, um princípio diametralmente oposto à ideia
republicana.
Portanto, somos uma república,
mas não temos republicanos. É aqui onde me parece residir a crise política no
país. É pelo menos uma pista… (Elisio Macamo in facebook)
domingo, agosto 16, 2015
Plágio!!!
O
Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) publicou, há dias, o relatório
de um estudo sobre plágio em cinco universidades moçambicanas, entre públicas e
privadas, com o título “Plágio em 5 Universidades Moçambicanas: Amplitude,
Técnicas de Detecção e Medidas de Controlo”. O referido estudo, da autoria de
Peter Coughlin, teve como amostra 150 trabalhos de fim de curso (monografias de
licenciatura e dissertações de mestrado), tendo concluído que nada mais, nada
menos que 75 por cento dos mesmos continham plágio. Antes de nos alongarmos,
talvez valha a pena dizer o que é plágio. De forma simples e segundo Thomas e Bruin
(2015), plágio é um “roubo intelectual” que consiste no uso de ideias e/ou
pensamentos alheios como se fossem nossos, ou seja, sem atribuição ou citação, ofendendo
os mais supremos valores da academia, adiando a aprendizagem séria, a
disseminação de conhecimento novo e a integridade da academia como instituição.
Ele pode ser derivado da falta de rigor nas citações, o que pode induzir os
leitores a pensarem que aquelas são ideias do autor. E há também o chamado self-plagiarism
(auto-plágio), ou seja, um autor usar um texto seu como se fosse um novo texto,
mudando-lhe, quase sempre, apenas o título), que não é menos preocupante. Numa
altura em que existe um “consenso generalizado” sobre a baixa qualidade do
ensino no país a todos os níveis, não deixa de ser preocupante que três em cada
quatro (75 por cento) trabalhos de fim de curso nos níveis atrás referidos
contenham níveis elevados de plágio. É certo que o estudo admite que pode ser
que parte de situações tais tenham que ver com deficiências metodológicas dos
autores desses trabalhos, mas, mesmo assim, não estamos perante uma boa
notícia. A limitada observação que tenho feito ao longo dos tempos, tanto em
universidades públicas como privadas, me leva a inferir que a grande lição que
o estudo do IESE nos dá é no sentido de se leccionar as disciplinas de métodos
e técnicas de investigação e redacção de trabalhos científicos de forma mais
rigorosa, para que não tenhamos almas empurradas ao estatuto de plagiadores por
mera inocência metodológica, ao que se juntaria, naturalmente, a própria
negligência dos autores dos estudos tais, e porque não dos seus tutores e
examinadores, que, pelo menos nas situações particularmente graves, deveriam ou
ter evitado ou ter detectado situações de atropelo à ética. Entretanto, para
averiguar a gravidade da situação do plágio no país, que tal se se fizesse algo
similar para com as teses de doutoramento e artigos científicos sujeitos à
revisão de pares da autoria dos doutores da nossa República? Se a diferença
entre uma e outra situação fosse similar, confesso que não me espantaria assim
tanto, considerando a dimensão potencialmente universal do problema do plágio
académico. Aliás, há algumas semanas um renomado investigador doméstico denunciava
um seu colega de profissão, por alegado plágio. E, ao que tudo indica, de forma
reiterada!
Um
trabalho recente (Abril de 2015) de dois professores sul-africanos (Adèle
Thomas e Gideon de Bruin, da Universidade de Joanesburgo, intitulado “The
millions we spend on stolen ideas”, revela a gravidade da situação naquele que
é o país que mais se destaca, ao nível de África, no ranking das melhores
universidades do continente (as cinco melhores instituições de ensino superior de
África são sul-africanas). E, diferentemente do que constituiu objecto do
estudo de Coughlin, Thomas e Bruin tiveram como amostra 371 artigos científicos
publicados em 19 revistas científicas, em 2011, depois que aprovados em sede de
revisão de pares. O que se constatou na pátria das melhores universidades do
continente, com recurso às plataformas tecnológicas de detecção de plágio
(Turnitin), é simplesmente alarmante: 68 porcento dos artigos submetidos ao
exame continham similaridades e evidência bastante para qualificar como produto
de plágio. Os que continham plágio considerado nitidamente excessivo correspondiam
a 21 por cento, enquanto que 27 por cento se inseriam na categoria de níveis
muito elevados de plágio. E convém sublinhar o seguinte: como que se inspirando
no sagrado princípio constitucional e jurídico-penal segundo o qual a dúvida
beneficia o réu, os investigadores sul-africanos fizeram o mesmo para com os
autores que estivessem na fronteira entre o rigor académico e o plágio. Os dois
investigadores referem, no seu estudo, que os contribuintes sul-africanos
dispenderam pelo menos sete milhões de randes na recompensa à fraude: naquele país
vizinho, o Governo paga 120 mil randes por cada artigo científico publicado
numa revista científica, depois da relevante revisão de pares. Compete a cada universidade
a que os autores estão associados a definição da margem ou parcela que é
alocada a estes últimos. Se no caso de estudantes moçambicanos ainda se pode aventar
a possibilidade de o plágio ter que ver com deficiências na sua formação, no
caso dos investigadores sul-africanos, os doutorados sobretudo, a situação é mais
de pendor ético. Naquele país, as verbas públicas disponíveis e em tantos
outros países, há-de estar a propiciar situações de oportunismo.
Adicionalmente, a luta pela promoção na carreira universitária, que toma as
publicações científicas como um dos requisitos centrais, há-de fazer parte da
triste equação do plágio académico. Domesticamente, seria interessante saber da
posição do Conselho de Reitores!
Contestação ao Prosavana
A resistência ao Prosavana, o controverso
programa de desenvolvimento agrícola no corredor de Nacala, norte de Moçambique, não
acontece de uma forma isolada. Ela está inserida dentro de um contexto em que várias
outras formas de resistência vem ocorrendo. Nos últimos tempos, revoltas
populares e manifestações de repúdio aconteceram em Moçambique, desde campanhas
organizadas por grupos da sociedade civil até demostrações espontâneas nas cidades moçambicanas. Se fossem
persistentes, tais manifestações poderiam resultar na queda ou desestabilização
do sistema. Alguns defendem que os recentes motins nalgumas cidades em
Moçambique advêm da insatisfação popular pelo bloqueio, ineficiência ou descrédito dos
mecanismos formais de comunicação com o estado1. É provável que isso contribua
consideravelmente, porém, é preciso compreender que os moçambicanos poderão estar a contestar a
ditadura do modelo. Esse modelo de desenvolvimento que, por um lado coloca o país
nos melhores rankings de crescimento económico do continente- resultado de um modelo
baseado no extrativismo e no destrutivismo, engrandecendo apenas os números do
PIB - e por outro não reduz a pobreza e não proporciona, de forma mais ampla,
desenvolvimento social e económico para as pessoas2. O ministro moçambicano da
Agricultura e Segurança Alimentar, José
Pacheco, voltou a defender o Prosavana, com
unhas e dentes, desta vez no parlamento (22 de Julho), como sendo a
salvação para a nossa situação de insegurança alimentar. O ministro disse aos
parlamentares que, contrariamente ao que pensam os movimentos sociais, grupos da sociedade
civil e a oposição política, o Prosavana visa transformar os camponeses em
produtores intensivosorientados para o mercado.É verdade que as condições em
que trabalham os camponeses moçambicanos precisam ser melhorados, mas será verdade que eles precisam, necessariamente,
ser transformados em agricultores de larga escala e entrar no circuito do
agronegócio?
Para os opositores ao Prosavana isso não só é
desnecessário como nunca será possível. É que o Prosavana está inserido num
modelo de desenvolvimento de orientação capitalista: destruição do meio
ambiente, exploração de homens e mulheres e acumulação para poucos. No
entendimento dos grupos que se opõem, serão companhias agroindustriais, e não
camponeses, os que se vão, efectivamente, beneficiar. Forçar produtores de
escala familiar, que geralmente usam técnicas
agroecológicas e sementes locais, a se tornarem “competitivos”pode ser considerado,
não só como uma falácia, como também um exercício de violência. Movimento de
camponeses, vários grupos da sociedade civil e alguns académicos progressistas
– incluído gente ligada ao governo - aperceberam-se disso desde o início, em 2012. Por essa razão a
resistência ao Prosavana é de uma magnitude incomodativa. É provável que, na
história pós-colonial de Moçambique, nunca tenha havido uma resistência tão
corpulenta e persistente a um modelo de desenvolvimento como está a acontecer
com o Prosavana. Mesmo assim, o governo e seus aliados insistem em avançar. O director provincial da
Agricultura e Segurança Alimentar em Nampula – uma das províncias abrangidas
pelo Prosavana –, Pedro Dzucula, provavelmente o defensor mais tenaz do
Prosavana dentro do governo, depois do ministro Pacheco, foi citado pelo jornal notícias, em Agosto de 2014, a garantir que o
Prosavana vai inevitavelmente avançar. Dzucula acredita que a oposição ao
Prosavana, que ele considera de subversão, é “induzida de fora do país, usando
alguns segmentos da sociedade civil”, sem nunca ter apresentado provas que sustentam
essas acusações. Essa abordagem amaneirada do governo,no lugar de intimidar,
pode estar a atiçar a resistência ao Prosavana.
Vários activistas acusam tanto a Pedro Dzucula, como ao ministro Pacheco
de terem uma abordagem ameaçadora. No dia 12 de Junho, durante uma auscultação
pública
sobre o Prosavana, o ministro Pacheco não podia
ter sido mais claro: “qualquer obstáculo vamos atropelar e avançar”, depois de ordenar
aos participantes a terem intervenções patrióticas numa consulta pública, confundindo
o seu papel de “auscultador” com o de quem dita regras. Mas o governo de
Moçambique e os promotores do Prosavana também se apercebem da expansão da resistência, que se
tornou internacional, e mudaram gradualmente o discurso. A linguagem usada na
primeira versão do Plano Director do Prosavana, vazada para a sociedade civil em
2013 – o qual, segundo a sociedade civil, confirmava o pior é totalmente diferente
da que se usou na última versão, apresentada em Junho de 2015. A última versão pode enganar
se o leitor não prestar atenção nos detalhes. O diabo, dizem, está nos
detalhes. A linguagem mudou, mas a essência da coisa continua. Há quem defenda que, a oposição ao
Prosavana é infundada, visto que os seus “adversários” se opõem a algo que não
conhecem. Na óptica dos menos sépticos, é preciso deixar o Prosavana avançar
para ver, na prática, seus resultados. O risco que secorre ao deixar a “caravana passar” é que os
danos ambientais que poderá causar (com o uso de agrotóxicos, contaminação
das águas, destruição de florestas nativas) não se reparam e a desintegração
social advinda do deslocamento de comunidade custa repor. Mas talvez isso possa ser um mal
“necessário”, se no futuro as comunidades negativamente afectadas vierem a insurgir-se.
Quando milhares de camponeses tenham perdido o único que lhes garante sustento,
eventualmente formarão movimentos radicais de luta pela terra e dignidade, e
estaremos vendo o gigante adormecido despertar. O governo precisa dialogar, e
não apenas informar, com o povo. O governo, mesmo que constitucionalmente eleito,
é representante do povo, e não seu dono. É problemático que, em pleno século 21 os governantes insistam
em implementar programas incongruentes, agindo como se fossem eles os pastores e
o povo o rebanho. Ou seja, não importa a opinião das massas, das organizações.
Eles são clarividentes,visionários e sabem para onde conduzir o rebanho. São as mesmas tendências
vanguardistas, características dos regimes comunistas, mas implementadas num
contexto de neoliberalismo de direita. É uma enorme contradição. Esta contradição se
evidencia quando, um governante acredita, sinceramente, que vai trabalhar com
“pequenos e médios produtores, avicultores e criadores de gado, que num processo de
transformação gradual (...) evoluirão de uma agricultura predominantemente de
subsistência para uma agricultura intensiva, orientada para o mercado6”, sem explicar como será
possível esse milagre de transformar milhões de pessoas em agroempresários.
* Boaventura Monjane/Jornalista e activista social.
Atum & Armas
Não há nenhum outro negócio
no mundo sujeito a um sistema tão rigoroso de controlo como a movimentação de armas
de guerra. Nesta era de armas de destruição maciça, agências de espionagem em
todos os cantos do planeta gastam vastas somas de dinheiro e outros recursos,
seguindo a trajectória de equipamentos militares que temem que se caírem em mãos
erradas ou de regimes hostis, podem ser usadas contra os seus países. Deve ter
sido por isso uma grande ingenuidade alguém acreditar que um negócio de armas
pudesse ficar permanentemente encoberto como um investimento para a pesca de
atum. Hoje, quase dois anos depois das primeiras informações terem começado a
circular dando conta de que Moçambique se endividara no mercado europeu em 850
milhões de dólares, ficamos a saber, a partir dos mesmos governantes que
tentaram esconder a informação, que na verdade, somente 40 porcento do volume
de todo o negócio estarão provavelmente ligados à pesca de atum. Os restantes
60 porcento constituem matéria directamente ligada à defesa. E no meio de todo
o manto de mentiras que foram sendo ditas durante este tempo todo, poucos
estarão ainda preparados a acreditar que mesmo na componente respeitante à
defesa, se trate apenas de barcos para patrulhar a longa costa moçambicana. Ninguém
questiona o direito legítimo de Moçambique organizar-se para proteger os seus
recursos naturais e defender-se de qualquer
agressão externa. Até porque pelos padrões de muitos países do seu nível
de desenvolvimento, mesmo que todos os 850 milhões de dólares tivessem sido
aplicados para despesas militares, esse valor dificilmente poderia ser
considerado um escândalo. O que levanta a questão da nebulosidade com que esta
transação foi tratada. Mesmo admitindo que negócios de armas decorrem geralmente
em ambientes de secretismo, o seu impacto sobre as contas públicas, aliado ao
facto de que a defesa nacional é uma acção legítima para a protecção do Estado,
há um nível de transparência que seria necessário imprimir, para que não haja
suspeitas de que indivíduos estejam a enriquecer em nome da segurança do Estado.
De qualquer modo, quando em dias festivos são exibidos materiais de guerra que
se sabe que até há pouco tempo não existiam, os menos distraídos ficarão a
saber o que se passa na verdade. E esta não será a primeira vez que Moçambique
compra armas. Há alguns sectores que defendem a pouca clareza deste negócio com
o argumento de que se tudo tivesse sido feito de forma transparente, isso teria
levantado objecções por parte de parceiros internacionais. Mas estes são os
mesmos parceiros que insistem que Moçambique deve assumir responsabilidades
pela protecção da sua costa, um corredor privilegiado do comércio mundial, para
além dos avultados investimentos que companhias desses mesmos países estão a
realizar nesta costa na área dos hidrocarbonetos. É importante sublinhar também
que este negócio foi feito na França, com o envolvimento de bancos franceses e
suíços. Pelas leis dos seus países, estes bancos devem prestar contas aos seus respectivos
governos. Estes, que por sua vez obteriam, dessa forma, a mesma informação que
a sua contraparte moçambicana entende que deve ser ocultada. Na ausência de uma
defesa mais consentânea, surgiu também nos últimos tempos o argumento de que o
questionamento a toda esta operação estará a ser feito por interesses
(estrangeiros, entenda-se), que gostariam de continuar a beneficiar da
incapacidade de Moçambique de controlar a sua longa costa. O facto, porém, é
que não é isso que preocupa os moçambicanos. Para uma operação desta magnitude,
com todos os seus efeitos sobre a economia do país no futuro, é importante que
os cidadãos deste país tenham o entendimento comum de que estão a sacrificar os
seus recursos para investir para um bem que é também comum. Para isso existe o
parlamento. Porque quando em negóciosdo Estado se tenta sacrificar a
transparência em nome de uma suposta segurança do Estado, corre-se o risco de
se perder ambos.
terça-feira, agosto 11, 2015
"tuga" esqueceu-se que em Moçambique se fala português
O Ministério do Trabalho, Emprego e
Segurança Social (MITESS) interditou, segunda-feira, com efeitos imediatos, o
direito de exercício laboral em Moçambique ao director geral da empresa
'Custódio Construções', Lda, o português Sabino Filipe Custódio por
irregularidades laborais. Sabino Custódio e' acusado de ter violado os
'Direitos Fundamentais' estabelecidos na Constituição da República e as demais
leis em vigor no país. A violação dos direitos foi constatada pela Inspecção
Geral do Trabalho, numa visita que realizou àquela empresa com sede em Maputo
onde, além de irregularidades laborais, constatou ainda manifestação de maus
tratos perpetrados aos trabalhadores moçambicanos pelo respectivo director
geral.
Com antigos colegas
Muitos dos seus antigos
colegas são agora figuras importantes em grandes empresas indianas, alguns dos
quais com interesses em Moçambique, enquanto outros manifestaram interesse em
expandir para o mercado da Africa Austral, incluindo Moçambique. Sunil Gen, que
actualmente exerce o cargo de director financeiro da Videocon, um conglomerado
indiano, com vários interesses, desde produtos electrónicos de consumo a
petróleo e gás, disse que ele e Nyusi eram grandes amigos e lembra-se do
Presidente como sendo 'intelectualmente poderoso'.'Estamos muito orgulhosos com
o facto de um dos nossos colegas ser agora Presidente de Moçambique',
acrescentou. Outros no grupo agradeceram Nyusi 'por trazer-nos todos juntos
novamente depois de 12 anos'.
Houve também momentos
mais relaxantes, como quando um antigo colega disse que “eu costumava sentar
atrás do camelo, para evitar que você caísse”.
Estudantes moçambicanos
continuam a frequentar instituições de ensino superior em Gujarat, e Nyusi teve
um breve encontro com um grupo num hotel de Ahmedabad que contou com a
participação de 21 dos 49 residentes naquele estado. Cinco do grupo são agentes
da polícia moçambicana, com diplomas universitários, e que estão a frequentar
um curso de mestrado em ciência forense.A chefe do grupo, Liana Cumbe, uma estudante
do terceiro ano de engenharia informática assegurou ao presidente que todos os
alunos estão comprometidos com o desenvolvimento de Moçambique. 'Tenho a
certeza que vão sair daqui quadros bem formados”, disse ela.
Mas, quando Nyusi
questionou se eles tiveram alguma dificuldade em se adaptar às condições da
Índia, um dos membros do grupo admitiu que a falta de laboratórios em muitas
escolas secundárias moçambicanas, significa que muitos estudantes acabaram
encontrando equipamento desconhecido que tiveram que aprender a lidar em
Gujarat.O grupo também
manifestou a sua preocupação com as perspectivas de emprego após o seu regresso
a Moçambique, e afirmaram que poderão tentar encontrar empregos com empresas
indianas que operam no país.
Oportunistas preparam-se para tomar o futebol
As eleições da próxima quinta-feira (13),
que deverão eleger o homem forte do fraquinho futebol moçambicano, centra-se
numa discussão errada. O processo está voltado para a discussão das pessoas.
Há também o que é considerado homem do
desporto e pai do sucesso do Moçambola. Esse campeonato envolto em suspeição
cujos direitos de transmissão nunca foram canalizados aos clubes. Esse bom
gestor, que muita gente apoia – como expressão mais alta da nossa senilidade
colectiva -, faz-se, nas suas deslocações às províncias, acompanhar-se por
jornalistas da mesma estação televisiva que deve milhões à Liga Moçambicana de
Futebol e aos clubes nacionais. Um gestor de topo do Desportivo de Maputo foi
ao cúmulo de afirmar, nas redes sociais, que o seu clube não paga aos atletas
porque espera receber o montante das transmissões televisivas, pasme-se.
Na nossa lógica o problema não reside
aí. Na nossa lógica o problema reside no facto de termos espremido os
manifestos eleitorais e daí, para nossa desgraça – aliás, desgraça do futebol
nacional – não ter resultado sequer uma gota de suor. Ou seja, da leitura dos
manifestos, pejados de erros que denunciam que foram escritos em cima do
joelho, não há nenhuma ideia para alavancar o pútrido futebol moçambicano.
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