Lucas
Barrarijo, Lucas II para muitos, já não é treinador da equipa principal
de futebol do Clube Ferroviário da Beira por ter colocado o seu lugar à
disposição da direcção da colectividade que, entretanto, aceitou a sua
decisão. Fica-nos a ideia, portanto, de que Lucas não foi propriamente
demitido, como se pode depreender.
Para
trás ficam aproximadamente três épocas recheadas de muitas alegrias
algumas das quais jamais vividas num clube que há muitos anos investe
“rios de dinheiro” na sua equipa principal de futebol sem, contudo,
ainda ter atingido o topo, ou, dito de forma mais directa, sem ainda ter
ganho um campeonato nacional, o nosso Moçambola.
Lucas
deixa assim nas vitrinas do clube duas Taças de Moçambique. Deixa
igualmente um vice-campeonato nacional e duas meritórias participações
consecutivas nas afro-taças, nas quais, verdade se diga, a sua equipa
não se portou tão mal como se pode julgar por ter sido eliminada. E este
ano até foi mesmo afastada um pouco porque o adversário teve de
recorrer a algum extra-jogo para lograr os seus intentos.
Não
se pretende com estas linhas apoiar ou discordar da sua saída. Longe
disso, até porque no desporto o critério são os resultados e quando eles
não aparecem, como é neste momento o caso do Ferroviário da Beira,
normalmente o treinador é o sacrificado.
Pretende-se,
tão-somente, recordar que mais do que as duas Taças de Moçambique e o
vice-campeonato nacional que conquistou, no meu entender, Lucas foi,
neste período em que orientou o Ferroviário da Beira, um treinador que
teve sempre coragem de lançar novos jogadores.
Estamos
habituados a treinadores que resistem a isso, preferindo agarrar-se às
“velhas glórias” sob pretexto de que só elas lhes dão garantias
hipotecando dessa forma o futuro.
Mas
no Ferroviário da Beira Lucas voltou a afinar por um diapasão que lhe é
característico enquanto treinador de futebol. Quem acompanha ou
acompanhou a sua trajectória sabe perfeitamente disso, e que esta foi
sempre a sua postura desde os tempos do Têxtil do Púnguè.
Só
para refrescar algumas memórias, nessa altura - do Têxtil do Púnguè -
em que dava os seus primeiros passos como treinador, Lucas andava pelos
bairros à busca de jovens talentos que depois lapidava e lançava na
alta-roda. Só para exemplificar e para quem eventualmente não tenha
conhecimento, Caíto, que se tornou depois capitão do Costa do Sol e
cliente da Selecção Nacional, foi também “descoberto e atirado às feras”
por Lucas.
Como
dizia, no Ferroviário, Lucas voltou a adoptar a sua forma de estar e
aqui teve a felicidade de encontrar uma colectividade que conta com um
autêntico viveiro de novos talentos, o que naturalmente tornou
relativamente mais fáceis as suas pesquisas.
Abra-se
aqui uns parênteses para dizer que o Clube Ferroviário da Beira deve
ser das poucas colectividades no país que nunca fechou as suas portas às
acções de formação, mantendo sempre os respectivos escalões.
Aí,
Lucas deu-se bem. Nunca hesitou e foi dando oportunidades a todos os
jovens que se revelassem muitas vezes perante a incredulidade de outros
“entendidos”.
Para
não estarmos a elaborar “no escuro”, basta citar os nomes de Reinildo e
seu irmão Mandava, mais recentemente de Gildo, Dayo e Edson, tudo
“prata da casa” que Lucas lançou e que hoje são certezas do futebol
nacional.
Tanto
é assim que pelo menos Reinildo, Gildo e Dayo já são clientes assíduos
da Selecção Nacional sub-23, por enquanto, mas com largas possibilidades
de chegarem à equipa principal, aliás o primeiro já chegou a ser opção.
Para
dizer, portanto, que Lucas não só deixa no Ferroviário da Beira as duas
taças e o vice-campeonato, mas também alguns jogadores jovens para o
clube e para o país e, mais ainda, um exemplo para outros treinadores,
principalmente nacionais que hesitam e não têm coragem de lançar novos
atletas, hipotecando, como digo, o seu futuro e o futuro do país.
Eliseu Bento
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