terça-feira, abril 28, 2015

Estupefacto!!!!!


O Presidente da República visitou a Província de Maputo. No final fez um balanço, cujo resumo foi apresentado em vídeo no portal do Governo. Três assuntos despertaram a minha atenção, todos eles reveladores duma maneira de fazer e pensar a política que dificilmente nos levará a lugar que seja. Acho. E não é a primeira vez que reclamo sobre estas coisas. A primeira coisa que chamou a minha atenção foi a constatação que o Chefe do Estado fez sobre a coincidência entre o anseio do governo pela paz e o anseio da população pela paz. Repito: toda a gente em Moçambique, incluindo a Renamo, quer a paz. Não há nenhuma controvérsia aqui. A controvérsia está nesta pergunta: que tipo de paz? Enquanto o discurso não for para além da constatação de que o povo quer a paz (eu quero paz eu!) vai ser difícil traçar uma estratégia útil para lidar com os inimigos da paz, onde quer que eles estejam. Infelizmente, não há novidade nesta constatação. Todos queremos a paz, mas que paz e como?
A segunda coisa que me chamou atenção foi a afirmação, segundo a qual a sua delegação teria constatado que a Província de Maputo tem potencial para a criação de gado. 40 Anos após a independência do País, mais de 100 anos desde a colonização efectiva de Moçambique pelos portugueses, o terceiro Presidente democraticamente eleito da República de Moçambique descobre que a Província de Maputo tem potencial para a criação de gado! Eu fico estupefacto quando oiço coisas do gênero. E ele continuou dizendo que apelara à Província para se concentrar na produção de carne, leite, etc. “… para sairmos gradualmente da dependência de carne (suponho que se refira à dependência da carne importada)”. O maior problema está justamente aqui. Um Governo dispõe de instrumentos para fazer política. O apelo é um deles, mas não é suficiente. Mais interessante seria saber que instrumentos fiscais, que apoios materiais, que estratégias económicas, etc. o seu governo vai adoptar para que o potencial pecuário da Província de Maputo seja realmente explorado. Porque a Província pode, de facto, se concentrar em obediência ao chefe. Mas sem um quadro institucional, fiscal e económico claro pode não conseguir fazer nada. Não obstante, mais grave do que esta omissão vai ser a omissão dos partidos de oposição, dos meios de comunicação de massas e dos investigadores que não vão pegar em nenhum destes assuntos e produzir uma discussão mais útil. Ao fim de cinco anos alguém, ou ele mesmo, vai de novo descobrir o potencial da Província…
A última coisa que me chamou atenção foi aquela parte que nunca falta nos comícios com a “população”, aquela parte, portanto, da lista de compras. No eufemismo político moçambicano chama-se de apresentação de preocupações ou questões. Quais foram? A população quer água, energia e estradas. O que disse o Presidente? Sabemos, estamos à espera da aprovação do Orçamento, está no Plano Quinquenal, etc. Esta é a cultura política do Estado-Pai, uma cultura que promove a dependência, a falta de responsabilidade cívica e a centralização do poder. Para quando um Governo que aborda estas listas de compras com uma mensagem política clara de devolução da responsabilidade, uma mensagem que procura por soluções que vão apenas complementar os esforços locais? Neste ponto o Presidente é apenas porta-voz dum modo de fazer política que é bastante generalizado entre nós e que precisa urgentemente de ser ultrapassado.Moçambique dificilmente vai mudar com mais do mesmo. É nossa obrigação, como esfera pública, interpelar os fazedores de política para mudarem de discurso e, quem sabe, de práticas… Alguém vai ver mesquinhice inútil neste tipo de interpelação, como sempre. Eu vejo crítica constructiva. Jaimito (Langa), o que achas? (Elísio Macamo in facebbok)

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