O que aconteceu no domingo
passado não foi uma alteração das regras segundo as quais este país é
governado. Foi apenas uma mudança na pessoa que governa acima de tudo. Só que
esse APENAS teve uma importância fundamental devido à personalidade e maneira
de estar do dirigente afastado. Com Armando Guebuza no poder nós estivemos o
mais perto, desde a Independência, de voltarmos ao fascismo. A sua forma
arrogante e prepotente, apoiada nos enormes poderes que a Constituição dá ao
Chefe de Estado e o facto de controlar, através do seu partido a Assembleia da
República e uma infinidade de órgãos do Estado, onde se aplica a regra da proporcionalidade,
deram-lhe um poder absoluto. E, diz o povo, “o poder corrompe e o poder absoluto
corrompe absolutamente”. Se a isso adicionarmos o que parece ser uma ganância
insaciável por bens materiais temos o quadro montado para o que foi a última
década em Moçambique. Ora, o facto de as regras não terem sido alteradas, mas
apenas a pessoa que mandava, diz-nos que não estamos livres de que isto volte a
acontecer. De que, daqui a uns anos, estejamos a acusar Filipe Nyusi dos mesmos
pecados de que, até agora, acusávamos Guebuza. E, para que isso não aconteça,
creio ser necessário encarar a questão dos poderes do Presidente da República
com seriedade.
Neste momento ele é o Chefe do Governo o Comandante em Chefe de todas
as Forças de Defesa e Segurança, é ele quem nomeia os Presidentes e os juízes
dos Tribunais Supremos e do Conselho Constitucional, os Reitores das
Universidades Públicas, o Presidente do Conselho Superior da Comunicação
Social, os comandantes de todas as forças militares, policiais e de segurança e
sei lá que mais. Através do seu Governo são nomeadas as direcções dos órgãos de
informação do sector público, de longe os mais potentes do país. Através da
regra da proporcionalidade igual à das bancadas do Parlamento é completamente
posta em causa a democracia de bastantes órgãos em que, à partida, se sabe já
quem vai ganhar, tenha ou não tenha razão, seja qual for o assunto. Ora, quando
se fala da despartidarização do Estado, é de todas estas coisas que creio que
tem de se falar e não de decidir se o Chefe de Estado pode tratar de assuntos
partidários entre as 7h 30m da manhã e as 15h 30m da tarde. Despartidarizar o
Estado é ter uma situação em que, ao contrário do que agora acontece, todos os
dirigentes, desde o Presidente da República até ao chefe do posto
administrativo são TODOS do mesmo partido, até porque, se não fossem, não
estariam a ocupar esses cargos. O que gera, imediatamente, uma sensação de
exclusão por quem não pertence ao partido governamental. Filipe Nyusi tem
afirmado, repetidamente, que quer conseguir uma Paz sustentável para o país.
Quanto a mim essa Paz sustentável passa pela alteração desta situação.(Machado
da Graça)
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