Chama-se Ernesto Afonso, é médico neurologista no Hospital Central
de Nampula, profissão que desempenha com muito sacrifício e dedicação há 18
anos. Na semana (28 Março), em que se comemora-se o Dia do Médico moçambicano,
e fez uma "radiografia" das condições em que a classe trabalha e
vive. Nos últimos anos, disse, a situação dos médicos tem estado a
deteriorar-se porque o salário que lhes é pago não corresponde ao esforço
empreendido nem ao custo de vida. As pessoas que se formam para ser médicos não
têm a mínima ideia do que se passa no terreno. “Por vezes somos obrigados a encontrar uma solução urgente para
determinados problemas de saúde. E muitos profissionais acabam por ficar
frustrados quando terminam o curso superior em ciências médicas porque na
realidade, o médico não é um homem rico, mas sim, um homem de sacrificio”,
considerou Afonso. Segundo as suas palavras, no geral, a situação do médico vai
de mal a pior em Moçambique porque antigamente assistia-se uma visão social,
onde o Governo acolhia o médico atribuindo uma habitação condigna, um fundo
social que era usado para custear as despesas escolares dos seus filhos,
pagamento dos serviços de comunicação, energia, água e transporte. Condições
que, actualmente, já não existem. “Hoje, com a condição moral que existe, o médico é considerado como
um trabalhador que desempenha as suas actividades com sacrifício na sociedade,
sem, no entanto, preocupar-se em criar melhores condições da sua vida porque o
salário não chega. O médico é olhado como se fosse um padre, pessoa que
desempenha actividades de caridade, ao invés de estar preocupado em lutar para
melhorar a sua própria vida”, acrescentou a fonte, que recorda que a fase mais
triste da sua profissão foi quando terminou a sua especialização e regressou
para a província de Nampula, numa altura em que a região era afectada por um
surto de cólera que vitimou mais de doze mil pessoas. A experiência foi muito
dura, pois, tinha de se deslocar para todos os distritos no sentido de
sensibilizar as comunidades sobre a necessidade de prevenir, através da observação
das regras elementares de higiene, a doença. Em relação ao seu tempo de
ingresso no Sistema Nacional de Saúde, a fonte revelou que escolheu a profissão
de médico porque na província de Nampula havia uma carência de técnicos para
esta área. Formou-se em 1985 e no primeiro ano de trabalho foi afecto ao
distrito de Angoche, onde ficou até o ano de 2000. De acordo com Ernesto
Afonso, houve momentos difíceis, pois, em algum momento foi obrigado a
assegurar todas as áreas no hospital rural local, devido à insuficiência de
profissionais qualificados. Teve de aprender, forçosamente, a fazer uma
cirurgia, aplicar uma anestesia, lidar com a pediatria, fazer uma cesariana,
incluindo algumas amputações. Nessa altura, era apenas um médico clínico geral, recebia e atendia
doentes transferidos dos distritos de Moma, Nametil e Mogovolas porque as
unidades sanitárias locais não tinham salas operatórias. A parte mais
complicada na sua experiência foram os programas de prevenção de certas
doenças, que exigiam muito esforço, sobretudo, nas campanhas de vacinação. Na
circunstância, apareceu a ideia de promover cursos de pequena duração
destinados aos enfermeiros e serventes (agentes de serviços) para lhes
capacitar sobre trabalhos adicionais em casos de urgências. Os serventes
aprendiam técnicas de canalização de veias para assegurar a salvação de vidas
humanas. Depois desta fase, as dificuldades que se registavam com muita
frequência, estavam relacionadas com as limitações financeiras para a aquisição
de novos equipamentos de trabalho e escassez de medicamentos nas farmácias
públicas. Volvido algum tempo, Ernesto Afonso beneficiou de uma oportunidade de
formação em Maputo e Brasil para a especialização. Enganou-se quando pensou que
terminado o curso, as coisas no terreno teriam melhorado. Ele era o único
especialista neurologista afecto no Hospital Central de Nampula e tinha a dura
missão de atender a todos os pacientes que aquela unidade sanitária recebia,
transferidos de outras regiões da zona norte do país. Aliás, afirmou que uma
das coisas que lhe marcam pela negativa é a falta de medicamentos e de
aparelhos para testes de neurologia.(@V)
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