Rosário Mualeia diz que os CFM
tiveram que adaptar a linha de Sena porque não foi feita para o transporte de
carvão. Em entrevista ao “O País Económico”, o PCA da companhia ferroviária
explica como desencravar o carvão em Tete.
Onde
é que o governo irá buscar 25 biliões USD necessários para realizar os
projectos ferro-portuários?
É verdade que todos os projectos
que temos não serão feitos num só ano, nem em cinco. A nossa esperança é que
não sejam feitos por um único operador, portanto, são vários os operadores que
se apresentam e uma parte já está a entrar e acreditamos que, pelo interesse
que o negócio mostra, pelos desenvolvimentos em descobertas, quer em gás
natural, quer em carvão mineral, quer em outros minerais, como o ferro, por
exemplo, vamos poder ter esses investimentos.
Para
que empresa foi concessionado o projecto do complexo ferro-portuário de
Techobanine?
Já existe uma concessão à Bela
Vista Holding, que está a fazer uma parceria para desenvolver o negócio.
Sabemos que existem disponibilidades, mas, como sabe que o segredo é a alma do
negócio, os operadores ainda não se apresentaram. Mas em breve eles vão apresentar-se.
Mas
em termos de financiamento, já está garantido, tendo em conta que são
necessários sete biliões de dólares?
Uma parte desse financiamento.
Aqueles que se apresentaram nesta altura e que connosco já negociaram andam à
volta de 375 milhões de dólares, acredito que eles vão conseguir muito
rapidamente. Os restantes, os processos são lentos, incluindo os de concessão,
os de prova de que, de facto, são capazes, mas nós acreditamos que são
projectos viáveis e que envolvem os três países. O que sabemos de alguns operadores
é que estão a trabalhar, porque têm interesse de levar as suas mercadorias para
o mar, daí que os projectos são exequíveis.
Em
que pé está o projecto ferro-portuário de Macuse, recentemente anunciado?
Este projecto está em processo de
avaliação e o Ministério dos Transportes e Comunicações lançou o concurso de
manifestação de interesse para o estudo de pré-viabilidade. Já foram apurados
alguns e já vamos avançar para a segunda fase. Acreditamos que também este vai
ter financiamento. E, para este tipo de projectos e pelas dificuldades que nós
temos de transportar o carvão, assim como pela qualidade do carvão coque, temos
fé que os investidores vão vir de braços abertos, vão de facto financiar. Aqui
devo referir que nalguns casos a participação dos Caminhos de Ferro de
Moçambique é mínima, neste caso, por exemplo, não vai participar porque os
valores são avultados e já participámos no projecto com a Vale, no Corredor de
Nacala, no projecto Techobanine fazemos parte da Bela Vista Holding. São
grandes investimentos, através dos quais vamos ter de envolver o sector privado
nacional e este vai ter que interagir com o sector privado internacional. A
mesma coisa vai acontecer no porto de Pemba. Nós temos uma sociedade com a
Empresa Nacional de Hidrocarbonetos e a partir daí vamos fazer uma SPV para
fazer outros terminais. Fizemos um terminal provisório e vamos inaugurar
próximo mês. Há já actividades no terreno e projectos em curso, portanto, nada
nos diz que os projectos são apenas ditos de boca para fora, há uma convicção
de que os mesmos andem.
Nestes
projectos de linha-férrea será mantido o actual padrão?
Este aspecto depende mais dos
financiadores. O que nós queremos é manter as linhas existentes com a bitola
actual, mas as outras, por exemplo, essa de Macuse, os que nos haviam
aproximado falavam em Bitola Standard, com 1,4 metros. E todas as outras a sua
tendência é de usar a Bitola Standard e não voltar para a métrica, porque quase
todo o mundo hoje já não a usa, por essas vantagens económicas. pelo volume de
mercadorias que passa, vê-se que vale a pena, afinal de contas, adoptar essa
Bitola, traz muitas vantagens.
A
linha de Sena já está a funcionar segundo o prometido semana passada?
Já está a funcionar, mas é claro, a
época chuvosa pode comprometer. Depende da intensidade das chuvas, porque a sua
estabilização nunca é sólida. Mesmo em mecânica de solos, há um teor óptimo em
que o solo deve ser compactado para ter uma certa resistência. quando se tenta
compactar enquanto é lamacento, ai não se está a fazer um trabalho consistente.
Enquanto as chuvas não pararem, o problema continua aí, agora, posso dizer que
a linha está restabelecida, mas se chover voltamos para atrás. Isto advém de um
problema de base de preparação da própria plataforma. Ela foi preparada numa
altura em que não se previa o carvão, a carga máxima por ano era de três
milhões de toneladas por ano, hoje estamos a lutar para fazer cinco milhões de
toneladas por ano e um pouco mais. Isso exigirá um esforço de revisão dos
trabalhos de reparação da plataforma. Ou seja, teremos que compactar em tempo
seco a plataforma para aceitar igualmente o carril superior ao que existe, para
respondermos à demanda. Esse é um trabalho que custa dinheiro a mais, mas é um
trabalho necessário.
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