segunda-feira, outubro 26, 2020

No leste do Gana

Uma insurgência na região do Volta, no Gana, começou no início de Setembro com a declaração de soberania e uma caça ao homem, pela polícia regional, a qualquer pessoa que erguesse sinalizações precárias com a escrita “Bem-vindo à Togolândia Ocidental.” Desde então, a situação piorou e passou a incluir ameaças de confrontações violentas e de rebelião aberta. Pelo menos dois grupos estão a exigir a independência das terras disputadas ao longo da fronteira leste do Gana com o Togo. O governo do Gana minimizou o assunto, considerando-o como uma questão policial.

“A região que hoje chamam de Togolândia Ocidental deve ser um produto da sua imaginação,” disse o Vice-Presidente do Gana, Mahamudu Bawumia, na rádio Asempa, na capital, Acra. “Não existe. Não há uma base legal para as suas reivindicações. Não há negociações! Com aqueles criminosos?”

A história da região remonta desde a Primeira Guerra Mundial, quando o então território alemão foi conquistado e recebeu o novo nome de Togolândia Britânica. Os seus residentes votaram em 1956 para que aquele território fosse incorporado no Gana, mas várias tentativas de separação fracassaram esse objectivo. Os comentários de Bawumia vieram em finais de Setembro depois de os separatistas terem estabelecido pontos de controlo armados ao longo das rotas da região. Membros do grupo secessionista Frente de Restauração da Togolândia Ocidental (WTRF) atacaram dois postos policiais no Volta, roubaram 15 espingardas de assalto AK-47 e outras armas, libertaram prisioneiros e feriram agentes da polícia.Outros três agentes foram mantidos reféns antes de a polícia e os soldados os terem libertado. A equipa de segurança prendeu 31 membros da WTRF depois de um tiroteio em que um separatista foi morto e três ficaram feridos. A WTRF emitiu uma declaração à imprensa regional, impondo soberania. O grupo deu ordens às forças de segurança do Gana para abandonarem o território, deixando armas e munição. A declaração também exigia que o Gana negociasse a independência da Togolândia Ocidental com ajuda de mediadores das Nações Unidas. Toda a actividade política no novo Estado é proibida com efeitos imediatos,” lê-se na declaração. 

“Certas estações de rádio estão temporariamente designadas de Rádio Estatal da Togolândia Ocidental (WTL), até novas ordens, e todos os órgãos de comunicação social dentro da WTL devem focalizar a sua programação predominantemente em questões relacionadas com a WTL, até novas ordens.”Pelo menos uma dezena de insurgentes armados atacaram, no dia 29 de Setembro, a empresa estatal de transportes, State Transportation Corp. (STC), na cidade de Ho, no Volta, incendiando um machimbombo e danificando um outro, enquanto agrediam os motoristas, com armas apontadas. Mais tarde, a polícia prendeu 30 separatistas depois de um tiroteio ter deixado uma vítima mortal. Um outro grupo dissidente, a Fundação Grupo de Estudo da Terra Natal (HSGF), publicou um comunicado no Facebook, distanciando-se do sucedido.

“A HSGF e todos os seus vários capítulos e ramificações não tiveram qualquer envolvimento no ataque aos veículos da STC, em Ho, ontem à noite,” lê-se no documento. “A campanha pelos nossos direitos de cidadania, que estão a ser continuamente postos em causa por alguns grupos de ganeses, será sem recurso à violência.” Os líderes da HSGF planeiam declarar a independência da Togolândia Ocidental desde 2017, quando sete membros foram presos e acusados de traição. A polícia regional do Volta, em 2019, prendeu outros 81 membros da HSGF por preparar um protesto. A maior parte das acusações foi eventualmente retirada. 

A Togolândia Ocidental é membro da Organização das Nações e Povos Não Representados, que emitiu um comunicado em finais de Setembro, pedindo que o Gana retomasse as conversações com a HSGF. “Embora o direito à autodeterminação não garanta um direito automático de um estado de independência a qualquer povo que o procura, o direito de acreditar em e de buscar o estado de independência através de meios não violentos e de lei está protegido nos termos da lei internacional dos direitos humanos,” lê-se no comunicado. “Perseguir esta crença livre não serve a qualquer propósito prático e apenas pode levar ao aumento de ressentimento e instabilidade, como aparentemente testemunhamos na Togolândia Ocidental hoje.”

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