Monitores da fauna bravia que observavam rinocerontes-negros em risco de extinção, no Zimbabwe, depararam-se recentemente com algo inesperado. No meio da paisagem virgem do Parque Nacional Hwange, um grupo de chineses fazia escavações, à procura de carvão.
A organização zimbabweana de conservação, sem fins
lucrativos, Bhejane Trust, comunicou o incidente na sua página do Facebook, no
dia 1 de Setembro, e disse que as Autoridades de Gestão do Parque e Fauna
Bravia do Zimbabwe prenderam os homens e entregaram-nos à polícia. “Contudo,
pouco tempo depois, eles reapareceram com uma licença que lhes dá o direito de
continuar no parque, com escavações exploratórias,” comunicou o grupo.
A história tornou-se uma notícia internacional e causou
revolta. O hashtag #SaveHwangeNationalPark espalhou-se rapidamente nas redes
sociais.
No dia 7 de Setembro, a Associação de Lei Ambiental do
Zimbabwe (ZELA, acrónimo inglês) submeteu um processo no tribunal supremo do
país, para bloquear duas empresas chinesas — Zhongxin Coal Mining Group e
Afrochine Smelting — de realizar a mineração no parque, citando “um grave risco
de degradação ecológica irreversível.”
No dia seguinte, a Ministra de Informação do Zimbabwe,
Monica Mutsvangwa, anunciou uma proibição imediata, dizendo que “estão a ser
dados passos no sentido de cancelar imediatamente todos os títulos mineiros
detidos em parques nacionais.”
A população local e os activistas celebraram aquilo que
esperavam ser um ponto de viragem na protecção da fauna bravia africana e do
meio ambiente. Mas isso pode ser uma miragem porque no dia 15 de Setembro, o
Juiz rejeitou o processo, com base em problemas técnicos. A ZELA prometeu
continuar o seu desafio no tribunal.
Com mais de 100 espécies de mamíferos e 400 de aves, o
Parque Nacional Hwange é uma das zonas de conservação mais diversificadas do
mundo. Mas o parque de 14.651 quilómetros quadrados é ameaçado por seca, caça
furtiva, tráfico e agora mineração.
“Esta é uma das maiores reservas de caça do mundo, e as
minas estariam num dos lugares mais virgens do parque,” disse Trevor Lane, da
Bhejane Trust, ao jornal The Guardian .
“Se isso continuar, será o fim do parque. Mataria a
indústria do turismo, que vale centenas de milhões de dólares.”
O turismo é uma forma a partir da qual o país espera reavivar
a sua economia em dificuldades. A mineração é uma outra.
A China é um grande investidor no Zimbabwe, que espera
que a mineração do carvão permita que até 2023 ela exporte energia. O
Presidente Emmerson Mnangagwa apresentou a sua visão de fazer crescer o sector
mineiro do país, transformando-o numa indústria de 12 bilhões de dólares nos
próximos três anos.
Contudo, o carvão vem com um custo. Centrais térmicas de
produção de energia são famosas por produzirem uma vasta gama de poluentes
prejudiciais para os seres humanos e para o meio ambiente.
De acordo com a Greenpeace, empresas e bancos chineses
estão a financiar pelo menos 13 projectos de energia à base de carvão em
África, com mais nove planificados. Isso apesar de o Presidente Xi Jinping da
China ter afirmado, em 2019, que a sua grande Iniciativa do Cinturão e Rota
deve ser verde e sustentável.
O compromisso da China com o carvão está em contraste
flagrante com a meta declarada recentemente por Xi, de ser neutro em carbono
até 2060. Ao advogar que os países africanos invistam fortemente no carvão fez
com que a China fosse vítima de acusações de hipocrisia.
“Já existe muito investimento chinês em carvão na zona de
Hwange, fora do parque, maior parte da qual está a poluir brutalmente,” disse
Stephen Long, da Bhejane Trust, ao The Guardian. “A
qualidade do ar em partes de Hwange deve ser tão péssima quanto em maior parte
das grandes cidades, provavelmente pior, e é difícil não sentir que os chineses
já poluíram o seu próprio país e agora estão a exportar a sua poluição para
países pobres como o nosso. É pouco provável que os zimbabweanos vejam algum
benefício nas minas.”
Long disse que o investimento em carvão é de curta
duração.
“Quando o resto do mundo está a deixar o carvão e a
reconhecer a emergência climática, porque é que o Zimbabwe está a expandir o
uso deste material e a planificar, de acordo com o presidente, [utilizá-lo] com
décadas de antecedência?”
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