Viva malta!
Hoje vive um pesadelo que julgava
que nunca fosse acontecer.
Estou hospedado em casa de um
amigo na ilha da Inhaca, com um pessoal
nórdico amantes da caça-submarina e do mergulho livre ( apnéia), de alguns dias
para cá as sessões não tem sido muito gloriosas, pois ventos, vagas e ondas
grandes, combinado à uma visibilidade leitosa
(não limpa) e por vezes tubarões, porém nada justifica a estes
"vikings" da Dinamarca cancelar a expedição.
Está manhã, acordamos com chuva,
céu muito nublado cinzento e seguimos ao Poço, ponto ou marca de mergulho
combinado no jantar do dia anterior para iniciar a terceira jornada/aventura,
quando lá chegamos via-se ao longe ( muito fosco) barcos ou embarcações de
pesca industrial, os tais polêmicos vindos do Oriente, sim, Oriente para não
mencionar o nome da nação que tanta boa gente tem que nada têm haver com este
assunto. Contei de forma rápida pelo
menos 4 embarcações, todavia, quando o sol abriu um pouco mais e deixou ver
melhor ao longe, o número subiu para 17 barcos a aproximadamente duas milhas de
nós, que a chuva não deixava antes ver, todos estacionarios ou ancorados, bem,
entramos para o mar à dentro, felizmente ou finalmente a água estava com tom
azul escuro, muito limpa, cristalina, como geralmente temos chamado, mas para o
nosso espanto nem sequer um tubarão foi visto por nós, facto muito raro no
Poço!
Depois de várias navegadas e
mergulhos aos pontos ou marcas secretas que guardo, terminarmos a nossa
expedição num ponto conhecido por muitos como B24, aliás, foi um grande
parceiro meu quem estabeleceu este nome, na altura estava com ele no barco e
achávamos que a marca tinha como parte mais baixa 24 metros, então assim ficou
nomeado no GPS por B.(baixo) 24, para depois virmos a confirmar que de facto
tinha -22metros, refiro-me a parte mais baixa, pois há tempos era um dos
melhores pontos que a malta tinha, caracterizado por falésias tanto a Norte
como à Sul que descaem rapidamente para
os - 50 metros de profundidade, a Este apresenta um perfil muito extremo com
uma longa quebra aonde geralmente víamos os raríssimos atuns dente de cão, hoje
este ponto/marca está tão " batido" que as primeiras imagens ficaram
somente nas memórias, pois nem um peixe serra, nem um xaréu à vista, parecia
que tinha ali rebentado uma bomba, uns peixinhos amarelinhos ali e acolá nada
da especial para o que procurávamos, (grandes peixes pelágicos). Enfim, fomos
curtindo os mergulhos em apnéia de fuzil em mão, não fosse passar um tubarão
com más intenções para nós, assim o fuzil serviria para blicar, afastar ou
repelir.
Como estamos hospedados na Ilha,
não tínhamos que partir de regresso cedo, como quando temos que regressar à
Maputo e temos que enfrentar mais ou
menos trinta milhas de mar e baía.
Então ficamos no ponto na
espetactiva que a hora mágica, quando o sol começa a pôr-se fosse trazer peixes
predadores grandes, porém, quando eram 16:45h, em vez de peixes pelágicos,
começaram a aproximar-se de nós barcos
industriais, que navegavam aos pares, lado a lado, perdi a conta de quantos
eram, talvez trinta, pois eram muitos todos semelhantes uns aos outros, pareciam
clones de barcos que vinham nascendo do alto mar, com uma estrutura um pouco " sinistra", enferrujados,
longos, estreitos e barulhentos de fora e por baixo de água, dava receio ficar
ao pé deles áquela hora do fim da tarde, pois já se encontravam a sensivelmente
600 metros de nós, ademais era impossível continuar o mergulho com tanto
barulho estrondoso das máquinas e ou motores que se propagava até nós quando
estávamos no fundo " bum-bum-bum..." um estrondo intermitente muito
forte mesmo, se é possível escutar-se anéis a tocarem-se do outro lado da
piscina, imaginem então mais ou menos 30 embarcações industriais o que podem
fazer em termos de estrondo sonoro!
Diante disto e porque haviam outros barcos semelhantes ou da
mesma linha/frota no ponto Jeremias, decidimos então abortar o mergulho e
seguir para Ilha, lugar aonde comentei o sucedido ao Sr. "António",
este não ficou surpreso com o que lhe
falará, pois ele vive na zona do Farol e diz que lá vê tudo, e " todas as
noites esses piratas aproximam-se à costa da Ilha do lado oceânico e por volta
das 4 horas da manhã retiram-se, todos os dias e já lá vão meses que é
assim..."
Mal sabe o Sr.
"António" que não são piratas, pois todos eles estão licenciados
pelas autoridades marítimas locais.
Não sei se é coincidência não se
ver nenhum peixe de passagem a está altura do verão, ou se são as mudanças
climáticas, ou estas depressões com ventos e chuvas quem tem ocorrido, sei que
nunca me aconteceu em vinte e cinco anos que prático está modalidade
testemunhar em pleno Fevereiro, com a temperatura de água a 26/27 graus
Celsius, fim da tarde, maré quase cheia em marcas ditas " quentes"
estar tão fraco.
Parece-me que a corrida para o
extermínio oceânico da parte do território moçambicano já foi desenfreada a
passos muito largos.
Fiquei muito triste, e os
nórdicos vikings como os chamo também.
No jantar já de regresso ao nosso
acampamento, conversávamos sobre dicas de como ir mais fundo em segurança no
mergulho livre, apnéia, mergulho sem auxílio de aparelhos respiratórias, estes
perguntaram-me em forma de mudança de assunto o porquê dos jovens moçambicanos
não se insurgirem com tamanha atrocidade contra o ecossistema marinho de
Moçambique, ora não tive resposta plausível, pois sou parte desses jovens que
nada faz e só fala, disse-lhes que o assunto do mar ainda é muito mitigado,
pois dentro da faixa literada dos jovens com certa educação há quem julga que as iguarias do mar (
camarão, lagosta, caranguejo, gamba, lagostim, peixe, bivalves ( amêijoa,
ostras, mexilhões etc...)) e tudo mais que ainda nem sabemos da sua existência
vem ou nasce do fundo do mar, tal como nasce o capim na floresta, aliado ao
facto do desconhecimento, pois àquelas embarcações não regressam ao Porto, pelo
contrário descarregam o pescado às toneladas ao
navío mãe " mothership",
deixando tudo no anonimato, aonde não existe fiscalização absolutamente
nenhuma, em águas que os nossos jornalistas nem pensam nunca chegar, sim, lá
aonde os jornalistas nunca se arriscariam a pôr lá os pés, aliado ao facto de
que o perigo é sempre eminente, pois nessas águas não há nenhum género de
autoridade policial. E mesmo que houvesse seria sempre a mesma cantiga, pois
tantos outros assuntos problemáticos que nascem em terra e não têm desfecho
quanto mais no mar alto. Tantas atrocidades sobre a Madeira, marfim,
rinoceronte (corno), pangolim, barbatana de tubarão etc não tem desfecho,
ninguém sabe de nada, e agora problemas no mar alto muito menos, afinal o que
os olhos não vêem a alma não sente.
Confesso que temos receios,
sabemos que por de trás existem graúdos os ditos "madotas" da nossa
etnia "moçambicanoide".
Houve quem disse que "os
tempos são outros, forças da mudança" parece-me que mudanças para pior.
Não sou biólogo nem vidente, mas
digo com muita certeza, a catástrofe do mar territorial de Moçambique já
iniciou, vai ficar para história dos
nossos descendentes, estes provavelmente saberão distinguir arroz
plástico do orgânico, eu ainda não sei.
Há uma pequena etnia, mas grande nação que a duzentos
anos no mesmo contexto inventou uma ferramenta muito útil, para os mentores
desses projetos, essa ferramenta denomina-se até aos dias de hoje por
guilhotina. :(V.S in facebook)
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