Não se
percebe por que dão esmola a Moçambique para importar cereais, quando tem das
maiores potencialidades agrícolas de África. De igual modo, não se entende por
que se dá esmola a este país para importar gás natural e electricidade, que ele
próprio produz e exporta, para depois importar.
A pobreza no
continente africano, em Moçambique, em particular, tem rostos: os doadores.
Quer dizer, se hoje somos cada vez mais pobres é devido aos biliões de dólares
que os doadores nos injectam. Se hoje vivemos num mundo de desigualdades
sociais – em que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais
pobres – é devido ao dinheiro que nos é drenado, sem controlo, pelos
ocidentais, o que beneficia os governantes corruptos.
É esse dinheiro que é
usado pelos nossos governantes em África para fomentar as guerras no
continente. Se em África governar não representasse enriquecimento (ilícito),
pelo contrário representasse responsabilização em caso de má gestão, não
haveria tanto interesse em se ser governante. Porque estar no poder significa
gerir, a seu bel-prazer, o dinheiro de doadores, as instabilidades políticas
são constantes. É assim que temos, no Zimbabwe, um Morgan Tsvangirai e Robert Mugabe,
oposição e Governo, respectivamente, a governarem sob a “teoria de partilha de
poderes”; é assim, também, que temos, no Quénia, Mwai Kibaki e Raila Odinga,
Governo e oposição, a governarem o mesmo país sob a mesma teoria de partilha de
poderes. Quer no primeiro caso, como no segundo, já não há oposição como tal e
ninguém está disposto a libertar o ramo que agarrou, porque está em causa o
controlo dos donativos ocidentais.O que
África, concretamente Moçambique, meu país, precisa não é de dinheiro para
custear as despesas públicas como salários, energia, água, rendas, entre
outros. É, porém, dinheiro para construir barragens de retenção de água sobre
os rios Limpopo, Save, Zambeze, Lugela, Púnguè, Rovuma, etc. É, também,
dinheiro para construir uma estrada que ligue o sul e o centro de Moçambique,
via Massangena e Chókwè, alternativa a sinuosa estrada nacional número 1, entre
outras, para escoar os produtos de Manica e Sofala para o sul, com custos
baixos.
É dinheiro para investir numa agricultura mecanizada e no respectivo
agro-processamento, o que vai permitir que deixemos, um dia, de ser
importadores para exportadores de cereais. Precisamos de dinheiro para investir
em infra-estruturas socioeconómicas para reduzir os custos de produção.
Não faz sentido que o milho proveniente dos Estados Unidos – mais de 12 mil
quilómetros – seja mais barato que os cereais produzidos em Manica e Sofala, a
cerca de 1000 quilómetros de Maputo; o frango proveniente do Brasil seja duas
vezes menos barato que o frango produzido nos arredores da cidade de Maputo; o
trigo vindo da China e do Vietname seja menos caro que o produzido em Manica,
Chókwè e Zambeze.
O ocidente,
tal como diz o ditado chinês, não nos deve dar peixe porque estamos com fome,
deve, porém, ensinar-nos a pescar e criar toda a cadeia de valores nos sectores
que nos apoiam. Não deve fazer o que a Noruega fez no nordeste do Quénia,
quando aquele país africano estava a ser devastado pela fome, seca e mortes,
onde forneceu aos sofridos nómadas do Lago Turkana uma indústria de pescado
para aliviar o impacto das catástrofes naturais periódicas, mas que, mais
tarde, se deram conta de que o povo turkana, tradicionalmente criador de gado, desprezava
os peixes como fonte de renda; que a energia necessária para congelar os filés
de tilápia na região semi-desértica custava muito mais do que o preço de
mercado do produto; e que eles não tinham levado em consideração os milhões de
dólares exigidos para a construção de novas ruas para possibilitar que o
produto chegasse ao mercado. (Bartholomaus Grill, director da sucursal na
África da revista semanal alemã “Die Zeit”, no seu livro mais recente “Gott,
Aids und Afrika” (“Deus, Aids e África”).
O que nós
queremos é que o ocidente, se quiser nos ajudar, de facto, faça o que os
americanos, por peso de consciência das bombas atómicas que despejaram, fizeram
para desenvolver o Japão, lavando a sua imagem; que o ocidente faça o que os
americanos, por rivalidade dos sistemas, fizeram na Coreia do Sul para provar à
Coreia do Norte que o socialismo que usa está ultrapassado; que o Ocidente faça
o que os americanos fizeram com ele mesmo (o ocidente), para persuadir a Rússia
a abandonar o socialismo, desenvolvendo-o e deixando a Rússia como uma ilha na
Europa; o ocidente deve fazer também o que os americanos vão fazer no Iraque,
pelo peso de consciência pelas chacinas por eles cometidas em nome de combate
ao terrorismo, para mostrar ao Irão que deve renunciar aos seus programas
nucleares e estar do seu lado para desenvolver.
Moçambique,
tal como África, devem aprender do fracasso do auxílio para o desenvolvimento
na África alocado nos últimos 50 anos. Dambisa Moyo e James Chikwati,
economistas zambiana e queniano, respectivamente, consideram que o continente
ficou mais pobre agora do que era há 50 anos, mesmo com mais de 1 trilião de
dólares que recebeu nesse período, o que revela que as ajudas aos países
africanos não só são ineficazes como também são venenosas. Não se entende
por que se fornecem esmolas aos angolanos, nigerianos, sudaneses (...), que
estão a nadar em petróleo. Não se percebe por que dão esmola a Moçambique para
importar cereais, quando tem das maiores potencialidades agrícolas de África.
De igual modo, não se entende por que se dá esmola a este país para importar
gás natural e electricidade, que ele próprio produz e exporta, para depois
importar.
O que os
doadores devem fazer, tal como diz o especialista William Easterly, que já
trabalhou para o Banco Mundial, é reduzir o auxílio para desenvolvimento e a
reforma dessas estruturas. James Shikwati e Dambisa Moyo sugerem a suspensão
completa desses auxílios. Não creio que se os doadores cortarem financiamento,
poderemos deixar de existir. África já existia há milhares de anos antes de
doações ocidentais. (LAZARO MABUNDA in facebook)
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