Quando se fala de Etiópia, as primeiras coisas
que saltam à cabeça da maioria dos moçambicanos são imagens de pessoas famintas
e malnutridas, cobertas de farrapos e que dormem ao relento. Estas podem ser imagens reais, mas não
ilustram fielmente todos os lados deste país que alberga a sede da União
africana (UA). Apesar de haver pobreza,
a capital etíope, Addis Abeba, não possui pessoas de tronco nu e com
‘costeletas a vista’, conforme costumam mostrar os postais que ilustram a
Etiópia no mundo, incluindo no continente africano. Addis Abeba possui vários
prédios espalhadas pela cidade e a indústria de construção cresce a passos
galopantes, com obras de edifícios modernos para habitação, escritórios,
hotéis, centros comerciais, restaurantes, entre outros. A cidade possui ainda
diversos quilómetros de auto-estradas, com tuneis e pontes aéreas em diversas
partes do centro da cidade. Addis também prova que alguns sonhos são
realizáveis, sendo um deles a construção da estrutura em que vai circular o
metro da cidade. “Se vier aqui nos próximos 10 a 15 anos, irá encontrar uma
Etiópia igual a muitas partes da Europa”, disse um comerciante local. “Estas
construções significam crescimento e que o nosso país quer sair da pobreza”,
acrescentou. Estatísticas apontam a Etiópia como a economia sem petróleo mas
com maior crescimento em África, registando um ritmo de 10 por cento anuais
desde 2004. Cidadãos estrangeiros residentes em Addis Abeba confirmam este
rápido crescimento e dizem ser visível nas ruas da cidade. “Quando eu cheguei
aqui há oito anos, encontrei uma Etiópia muito diferente daquilo que é hoje.
Muita coisa mudou e as imagens da Etiópia que circulam ai fora não ilustram a
verdade. São pura propaganda”, disse um moçambicano que reside e trabalha em
Addis Abeba, há oito anos. Contudo, como em qualquer outro país africano, na
Etiópia também há pobreza. Um jornalista que trabalha na capital etíope disse que
não existe outra parte da Etiópia com um crescimento igual ao da Addis Abeba,
particularmente o registado no sector das construções. “Noutras partes do país,
as pessoas levam a sua vida normal, sem carros nem grandes centros comerciais e
vivem da agricultura, que é muito dependente das chuvas”, disse William
Davison, jornalista da agência de notícias “Bloomberg”, que está baseado em
Addis Abeba, há cinco anos.
Em Addis Abeba ainda existem mendigos, alguns em família, que pululam as
principais artérias da cidade a pedir comida e dinheiro.
Parte considerável da população activa trabalha no sector informal ou no ramo
da construção, mas o ‘boom’ dessa indústria ainda não consegue produzir
salários considerados ‘condignos’. O salário mínimo é estimado em cerca de
300/400 birres, o equivalente a cerca de 20 dólares americanos. “Ainda há muito
desemprego. Muitas pessoas têm empregos na construção civil, mas os seus
salários não chegam para pagar a renda de casa e alimentação porque as coisas
são caras”, disse Haregewogn Sene, uma jovem cujo namorado trabalha na
indústria de construção.b Contudo, no meio dessa pobreza, ainda há espaço para
sonhar. Aliás, como disse William Davison, o mais interessante na Etiópia, é
que, apesar da pobreza flagelar a maioria dos pontos do país, há cada vez mais
gente com acesso à escola e à rede sanitária. Exemplo disso é Redet Mrukem, 13
anos, que frequenta a sexta classe numa escola primária dos arredores de Addis
Abeba, que vende pastilhas elásticas nas ruas da cidade e que com o dinheiro
compra material escolar para si e parte dos seus irmãos mais novos. “O meu
sonho é ser médica para ajudar a população e sobretudo a crianças órfãs que não
tem dinheiro para ao hospital”, disse Redet.
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