Tratar da universidade, da sociedade e da democracia, hoje, obriga a reflectir sobre a globalização. Desde logo, é muito problemático obter um entendimento amplamente aceitável sobre qualquer um dos elementos desse tema.
Por sua vez, é muito arriscado traçar qualquer cenário seguro para as futuras transformações da universidade. Não há consensos razoavelmente estabelecidos sobre esse eixo universidade-sociedade.
Uma universidade não está fora, separada, porém está dentro da tessitura complexa e contraditória da sociedade, em relações de mútuas interactuações. Nada em nosso tempo pode ser pensado sem que se levem em conta as características actuais da globalização. Tendo em vista que os esquemas simples de compreensão da realidade social são insuficientes para dar conta da complexidade e da pluralidade de sentidos dos fenómenos humanos, especialmente com a fragmentação e a multiplicação dos conhecimentos, das informações e dos intercâmbios, já não se pode pensar que uma instituição central da sociedade, radicalmente ligada às mudanças do mundo, como é o caso da universidade, possa ser explicada a partir de uma única ideia ou de um só princípio interno.
Os problemas da universidade não dizem respeito somente a ela. São problemas de toda a sociedade. Assim, nem se resolvem apenas com medidas internas, muito menos em gabinetes, nem seguros são os caminhos a palmilhar. O problema fundamental consiste nas dificuldades de operar a complexidade. Os sistemas modernos têm que fazer cada vez mais, investir no novo por cima do novo, passar das incertezas a ainda mais incertezas.
Com efeito, os problemas sociais não são nada precisos, em consequência as demandas à educação também não estão bem definidas quanto ao que seriam respostas adequadas. A globalização exerce hoje pesadas pressões, a maioria delas marcada pelos sinais da urgência e das contradições. As universidades sofrem pressões contraditórias num cenário de turbulências e encruzilhadas, para o qual não se sentem preparadas a responder, conforme dizem os principais intervenientes directo deste processo universal é que as universidades públicas e privadas entraram numa época de turbulências para a qual não se prevê término. A actual encruzilhada tem sua origem num simples facto, as demandas impostas às universidades superam a sua capacidade de resposta.
A globalização não é simplesmente a continuação da internacionalização tradicional. Trata-se de um fenómeno muito mais complexo e plurireferencial. Imbricadas às distintas visões de educação e de sociedade, que aliás nunca se apresentam em estados puros, neutros e olímpicos, ideias divergentes marcam as posturas e concepções relativas à globalização. Embora não de modo absolutamente consensual, predominam hoje os julgamentos de que a universidade deve motorizar as transformações exigidas pela nova economia de mercado. Mas, também cabe à universidade e esta é uma bandeira histórica, essencial e indescartável elaborar uma compreensão ampla e fundamentada relativamente às finalidades e transformações da sociedade. É bem verdade que muitos dos problemas são comuns tanto à universidade em particular quanto à sociedade em geral. Porém, se a universidade não toma distância crítica para melhor ver a sociedade, ela se perde, e, então, perde a sociedade sua mais legítima instância de reflexão e de síntese. Se a universidade adere acriticamente aos objectivos da sociedade, hoje mais identificados com a orientação tecnocrática e gestionária, ela abdica de sua função de formação, de educação e de autonomia dos sujeitos, em favor da organização da produção e de um pretendido controlo das relações entre indivíduos.
Quando obsessivos e reduzidos a uma mera dimensão económica e pragmática, os fetichismos da máxima proficiência, da produtividade, da excelência e a compulsão pelo conhecimento de pronta aplicação constituem uma ameaça à construção histórica da universidade crítica. A desfiguração da universidade não vitima somente a ela; tem como consequência o empobrecimento da própria sociedade, pois esta se desprovê de sua principal instância reflexiva, cultural e do espectro global. Que a universidade não dê razão ao mercado se e quando o mercado se impõe como razão da sociedade. Que a universidade não seja um motor da globalização da economia de mercado, mas, sim, da globalização da dignidade humana.
Tudo isso desafia a todos que somos responsáveis pela educação superior e é assim que eu o apresento aqui, não como um assunto que tem um seu fio de conhecimento em estanque, mas como tarefa projectada ao futuro, ao menos para pensar.(B.Uageito)
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