Nas comemoração dos 50 anos da criação da
Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO – organização que congregava todos
os moçambicanos para lutarem contra o colonialismo e que mais tarde viria a ser
extinta para a 03 de Fevereiro de 1977 ser criado o Partido Frelimo , Armando
Guebuza, na sua qualidade de presidente ,disse que há dentro do partido quem queira sugerir que existem duas ou mais
“Frelimos”. “É compreensível. Estas pessoas estão a tentar compreender um
movimento a partir das suas experiências limitadas. E, sem, necessariamente,
olhar para este movimento que é só movimento quando tem os seus membros unidos
e a trabalharem para o mesmo propósito. É assim que alguns querem aparecer como
sendo melhores que a própria Frelimo”, disse Guebuza salientando, em
continuidade do seu discurso, que “melhor que a Frelimo é a própria
Frelimo”.“Ninguém, isoladamente, pode ser melhor que um partido e pode correr
riscos de se marginalizar, de ser marginal, abandonar o colectivo, os seus
camaradas, as decisões dos órgãos para reproduzir as suas próprias ideias,
pensando que está a falar em nome desta cinquentenária Frelimo”, disse Guebuza.
Para o presidente da Frelimo, quem fala em
nome da cinquentenária Frelimo é o congresso, é o comité central, é a comissão
política, são os comités provinciais, são os comités distritais. “Esses quando
se pronunciam estão a falar em nome da Frelimo”.
Este posicionamento pode confirmar, as conturbações registadas no
período da “sucessão” do anterior Presidente da República, Joaquim Chissano,
pelo actual, Armando Guebuza. O facto é interpretado como demonstrativo de que
Guebuza ainda não conseguiu impor-se nos planos político e institucional.A
contestação interna a Guebuza congrega predominantemente uma ala conotada com
Chissano, descrita como “chissanista”; figuras individuais como Graça Machel,
Marcelino dos Santos e Jorge Rebelo; e sectores ainda influentes como o dos
veteranos ou “antigos combatentes” da FRELIMO.O forcing com que em termos de
nomeações de quadros do partido, escolhidos conforme a sua lealdade, Guebuza
tentou melhorar a relação interna de forças entre a sua ala e a de Chissano,
não ajudando a instituições críticas
como as Forças Armadas, Polícia e no próprio SISE (serviços secretos).Joaquim
Chissano beneficia de atributos como mais simpatia natural, comedimento
político e integridade moral enquanto
o Presidente Guebuza tem sido prejudicado pela ideia generalizada de que
“continua perto” dos seus negócios, tirando partido de poder e influências do
cargo que exerce. É corrente que os seus apoios estão confinados ao grupo de
“endinheirados do regime”.O principal ónus da linha de endurecimento da FRELIMO
recai largamente no seu Presidente e na
sua ala; o fenómeno é instintivamente associado no senso comum a interesses
estritos de controlo do poder pelo actual PR – o que também contribuiu para
aproximar a sociedade da ala “chissanista”, esta considerada mais aberta e
futurista.Em privado, mas também em público, o Presidente da RENAMO Afonso
Dhlakama queixa-se de que o regime limitou drasticamente o seu diálogo com o
seu partido desde a retirada de Joaquim Chissano. Ilustra a afirmação com a
revelação de que nunca teve uma audiência privada ( a primeira aconteceu em
Dezembro de 2011, ao sétimo ano da era de Armando Guebuza), ao contrário da
assiduidade com que contactava com Joaquim Chissano.O diálogo entre Chissano e
Dhlakama era decorrência do Acordo Geral de Paz , com cujo bom êxito ambos
estavam comprometidos. Presentemente, a direcção da FRELIMO e o Governo alegam
que o AGP chegou ao seu termo, nada mais havendo a negociar/tratar entre os
dois partidos.
1 comments:
Para o Presidente afirmar e defender com tanto vigor a existência de uma só Frelimo, denota a preocupação pelo apagamento de outros sentidos, de outras realidades em torno da unicidade da Frelimo. Isso mostra que a Frelimo é como outros partidos, com fragilidades. Isso é um precedente de visualização de uma Frelimo não super-partido como tenta mostrar e se mostrar. Se voltarmos e analisarmos os discursos proferidos pelos embondeiros da própria Frelimo, os saudosos Marcelinos dos Santos, o Sergio Viera, o Jorge Ribelo, a detenção do ex-ministro do Interior e entre outros sucedidos, veremos a existência de divergências, de lutas intestinais, de uns a tomar partido em algumas ações importantes do país e privado em detrimento de outros, ou seja, a briga pelo poder. O discurso de Sua Excia presidente se revela como a tentativa de apagar o fogo que se presume emergir no decorrer do futuro congresso dos camaradas. Se mostra como a tentativa de contornar uma realidade que aos olhos da população ou dos visados é evidência da existência de alas. Não podemos ignorar esta preocupação de tapa buraco, afinal, ao se mostrar essa realidade da existência de outras Frelimos, abrirá brechas de dúvida e dispersão no seio da população e da opinião pública, algo não abonatória aos que aspiram o poder contínuo.
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