A Rio Tinto abandonou o projecto de carvão em Tete, pois, para além de burrices cometidas pelos investidores - não verificaram as reservas nem a qualidade de carvão e pagaram tudo à cabeça à Riversdale antes de verificar um conjunto de pressupostos, incluindo o de verificar se a Riversdale tinha pago o imposto sobre a brutal mais valia.
Por causa do diálogo improdutivo sobre as rotas para o escoamento de carvão - chumbamos o Rio Zambeze por razões geo-estratégicas que nunca foram explicadas publicamente, uma linha paralela com um novo porto em Savana ou uma linha ao longo de Zambeze que depois inflectia para Norte para Macuze -, a Rio Tinto, vendeu a sua posição por 50 milhões perdendo mais de 3 bilhões de USD.
A empresa indiana não tem capacidade financeira para desenvolver um projeto da dimensão da Vale (em 2018, tinham uma dívida ao BIM de 40 milhões de USD, que tinham dificuldade em pagar, e a Vale, em contrapartida, tinha prejuízos de um milhão de USD por dia, ou seja, mais 350 milhões por ano, mas a Vale tem capacidade financeira para suportar esta dimensão de perdas, e a empresa indiana não). Consequência: muito possivelmente, tirando o projecto da Vale, não haverá em Moçambique um novo projecto da dimensão da Vale e as grandes reservas de carvão ficarão no subsolo indefinidamente. Ora, o mesmo pode acontecer com o gás natural. Existem grandes quantidades de gás natural pelo mundo fora - Rússia, EUA, Qatar, Arábia Saudita, etc.... e todos estes países estão numa corrida contra o tempo para monetizar as reservas, pois têm receio de que daqui a 40 ou 50 anos, o gás natural, à semelhança do petróleo (as multinacionais estão avaliar as suas reservas de petróleo a preços muitos inferiores aos de 2018, com o receio de que a exploração das mesmos não seja viável) se torne um recurso pouco valioso .
O Qatar tem planos para aumentar a produção de LNG em mais 50 milhões de toneladas de LNG (a produção total dos projetos da Exxon + Total é da ordem de 30 milhões de toneladas) e tem reservas estimadas em 800 Tcf.
As nossas reservas em Cabo Delgada estão estimadas em 175 tcf , mas há muito gás nos blocos que foram leiloados na foz do Zambeze e em Angoche. Ora, a insegurança em Cabo Delgado tem como objectivo prioritário impedir a produção de gás moçambicano para evitar que haja sobre oferta no mercado.
Os insurgentes não estão a disputar a riqueza, pois mesmo que conquistem o poder, não têm como explorar o gás natural. Além disso, adiar até quando? Quanto tempo vai durar esta acção terrorista?
Basta ver a situação na Nigéria, Mali, República Centro Africana e outros. Mesmo com a presença de tropas francesas, o Mali não consegue controlar a situação de segurança. Nestas condições, a principal preocupação é Moçambique perder esta janela de oportunidade como aconteceu com o carvão. Concordo com seus argumentos sobre o Governo, mas, exactamente por isso, o risco de perdermos esta janela de oportunidade é grande.
*Reputado economista moçambicano (cartaMz).
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