terça-feira, janeiro 12, 2021

Na surdina?

No começo de janeiro, o ministro da Defesa, Jaime Neto, afirmou que "a Marinha de Guerra fortificou o seu trabalho de fiscalização" no porto de Mocímboa da Praia, tomado pelos insurgentes em agosto. E vários outros avanços militares em Cabo Delgado têm sido reportados pelas autoridades nos últimos tempos, "consertando" a imagem de incapacidade que era atribuída às Forças de Defesa e Segurança moçambicanas (FDS). O especialista em assuntos africanos Fernando Cardoso acredita que tal sucesso tem o "dedo" da França e dos Estados Unidos da América.

"Acho que essa possibilidade está a ser registada, só que não está a ser relatada. Tal como acho que, e os americanos disseram, é absolutamente claro que os avanços recentes de tropas especiais moçambicanas foram feitos com o apoio logístico proporcionado pelos norte-americanos", acredita Fernando Cardoso. E o académico acrescenta: "E de franceses, provavelmente, que têm uma experiência de colaboração muito longa em África, particularmente na zona do Sahel. As forças americanas e francesas estão habituadas a cooperar nesse tipo de situações". Não será por simples generosidade da França, a Total, que explora gás no norte, é uma empresa pública francesa. Pela proteção dos seus interesses, pode ativar as suas bases nas suas ilhas do Índico, justamente em frente a Moçambique, como Mayotte que fica diante de Cabo Delgado, por exemplo, considera Cardoso.

O especialista lembra que o país tem capacidade do ponto de vista naval e de vigilância para apoiar Moçambique a tentar parar a entrega de material de guerra aos insurgentes. "E estou absolutamente convencido que a França vai fazer o que puder, do ponto de vista de controlo de rotas marítimas, cabendo às forças moçambicanas a guerra no terreno com apoio logístico", diz.

Contudo sublinha que "até agora não se verificou que seja necessário o estacionamento em terra de unidades militares francesas em defesa desse projeto". Relativamente à prática da França e das suas multinacionais energéticas em situações semelhantes às de Cabo Delgado, Cardoso lembra que, no Níger, onde se situam duas das principais empresas pertencentes ao grupo nuclear francês Areva, elas são protegidas por unidades militares francesas. 

 Um balão de óxigénio com que Maputo pode eventualmente também contar, enquanto a Total operar. Já quanto aos vizinhos da França no velho continente, que do "el dorado" moçambicano nada usufruem, o especialista nos PALOP com influência islâmica Raúl Pires está certo de que se pode esperar pouco. "Não estou a ver a União Europeia a fazer um esforço adicional para acudir Cabo Delgado. Pode obviamente acudir em termos de cooperação técnico-militar com o tal olhar à distância do homem branco relativamente ao que se está a passar no terreno, dando algumas indicações. Agora, uma intervenção militar só com o chapéu de chuva da UE não me parece. A ONU, sim, e aí as forças portuguesas entrariam", entende.

 

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