Novo
livro detalha como o presidente americano Ronald Reagan num encontro com os seus conselheiros
recusou ajuda à Renamo
O
antigo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan avisou os seus conselheiros
para deixarem de considerar ajuda ao então movimento rebelde moçambicano Renamo
por considerá-lo como “um bando de assassinos”. Reagan disse também aos seus
conselheiros, na mesma ocasião, que não queria que a questão voltasse a ser
abordada na sua presença. A opinião de Reagan é revelada num livro acabado de
publicar, nos Estados Unidos, titulado “The Good American” (O Bom Americano),
da autoria do conhecido escritor de política internacional Robert Kaplan, e que
é uma biografia de Robert Gersony, autor de um relatório sobre as alegadas
atrocidades da Renamo durante a guerra civil em Moçambique. Esse
relatório, publicado em 1987, teve um papel preponderante em levar os Estados
Unidos a decidirem não ajudar a Renamo, como faziam em Angola com a UNITA.

Contudo,
nessa altura, o então presidente moçambicano, Samora Machel, havia já estado
nos Estados Unidos, em 1985, numa visita em que se encontrou com Ronald Reagan,
um ano depois de ter assinado o Acordo de Nkomati com a África do Sul. Apesar
do "Nkomati", a guerra continuou em Moçambique, o que levou
eventualmente o governo moçambicano da FRELIMO a aceitar o início de
negociações com a Renamo, que resultaram num acordo de paz em 1992. Com a
guerra a continuar durante vários anos, aumentou a pressão de círculos
conservadores em Washington para uma ajuda militar à Renamo que, com a
continuação da ajuda de sectores militares da África do Sul, tinha levado o
governo da Frelimo à beira do colapso.

O
livro indica que a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, o
então Secretário de Estado George Schultz e a própria filha do presidente,
Maureen Reagan, tiveram um papel em influenciar Reagan a não ajudar a Renamo. Schultz
e Maureen Reagan foram informados sobre os detalhes do relatório antes deste
ser publicado e segundo o livro de Kaplan, numa reunião convocada para se
discutir que movimentos de guerrilha poderiam ser apoiados pelo governo
americano, alguém sugeriu ajuda à Renamo que gozava de apoio em vários sectores
do Partido Republicano.De
acordo com uma das fontes de Kaplan, nessa reunião, Reagan levantou a palma de
uma mão e disse: “Parem de imediato aí, rapaziada. Temos um relatório que vai
ser publicado, na próxima semana, que indica que a Renamo é um punhado de
assassinos”. O presidente teria depois descrito algumas das atricidades
alegadamente cometidas pela Renamo e detalhadas no relatório .

“Não
voltem a mencionar a Renamo na minha presença”, disse Reagan na ocasião. Os
detalhes do relatório, baseado em entrevistas com refugiados moçambicanos,
foram, na altura, negados pela Renamo e descritos pelos seus aliados em
Washington como uma manobra para salvar a política do Departamento de Estado de
manter boas relações com a FRELIMO. O
antigo Secretário de Estados Assistente para os Assuntos Africanos, Chester
Crocker , disse no seu livro “High Noon in Southern Africa” que “confrontos
partidários sobre Moçambique tornaram-se numa das maiores dores de cabeça no
segundo mandato de Reagan”.
“Nos
meus oito anos e meio à cabeça do bureau para África, nenhuma batalha sobre
política foi mais amarga”, escreveu Crocker, que disse que a política de Reagan
de continuar a apoiar o governo moçambicano foi alvo de sabotagem “sem
vergonha” por pessoas "dentro do seu partido, do seu governo e mesmo do
seu próprio pessoal na Casa Branca”.

O livro de Kaplan indica claramente que
esse relatório de Gersony e a influência de Schultz , Margaret Thatcher e Maureen
Reagan acabaram com qualquer possibilidade dos Estados Unidos apoiarem a
Renamo. Isso foi aliás confirmado por Chester Crocker, que escreveu no seu
livro que Reagan tinha sido informado anteriormente que “Margaret Thatcher se
tinha tornado numa fã ardente de Machel”, Por outro lado, escreveu Crocker,
isso tinha sido “reforçado por relatórios elogiosos recebidos da sua filha
Maureen”“Maureen
Reagan e Samora Machel, conclui mais tarde, era uma combinação verdadeiramente
mágica: Dois extrovertidos incontroláveis, com espinhas dorsais de aço, que
poderiam ter constituído uma equipa invencível”, escreveu Crocker.
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