Dos
64 anos que já viveu, Carlos Lopes Pereira dedicou 38 à protecção da natureza de
Moçambique. Foi este trabalho que o levou, ontem à noite, a Londres para
receber das mãos do príncipe William um dos troféus mais importantes na
conservação animal.
Carlos
Lopes Pereira venceu o prémio "Príncipe William para a
Conservação da Natureza em África", atribuído anualmente como
reconhecimento de quem pela sua dedicação ao longo de vários anos contribui
para a conservação da vida selvagem em África.Este veterinário ajudou a
fomentar o estabelecimento de leis de proteção da vida selvagem de Moçambique,
a restaurar o Parque Nacional da Gorongosa após décadas de guerra civil e, mais
recentemente, a impedir a caça furtiva de elefantes na Reserva Nacional do
Niassa.
Ao
aceitar o seu prémio das mãos do duque de Cambridge, Carlos Lopes Pereira
disse: "Todos nós temos a responsabilidade de difundir conhecimento, consciencialização e educação sobre a natureza e sobre como dependemos dela.
Devemos desafiar quaisquer mitos e crenças culturais que ponham em perigo a
vida selvagem, e devemos enfrentar a escuridão do crime organizado".Por
seu turno, o príncipe William explicou na intervenção que proferiu que "as
espécies que estamos a lutar para manter vivas no sistema são as espécies
protegidas, como o elefante, o rinoceronte.
Quase perdemos todos os
rinocerontes. Temos poucos rinocerontes no país, no sul e em relação aos
elefantes tivemos uma situação desastrosa entre 2010 e 2014. Perdemos quase 60%
da nossa população de elefantes. Penso, porém, e esperamos mantê-lo por muito
tempo estabilizado nas espécies protegidas. "
Carlos
Lopes Pereira trabalha há 14 anos nas áreas de conservação, estudou medicina
veterinária na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e especializou-se em
epidemiologia veterinária e vida selvagem em Edimburgo (Escócia), Reading
(Reino Unido), Utrecht (Holanda). Realizou outras formações especializadas em
Skukuza (Parque Nacional do Kruger - África do Sul), Malilangwe (Zimbabwe) e
Singapura.
Foi
também docente da faculdade de Veterinária, tendo contribuído para a formação
da atual geração de médicos veterinários de Moçambique. Ao longo da sua
carreira nas áreas de conservação desempenhou também um papel importante na
reabilitação de algumas áreas de conservação, nomeadamente em estudos e nos
processos de reintrodução de animais nos Parques e Reservas Nacionais,
destacando-se o Parque Nacional da Gorongosa, onde foi Diretor de Conservação e
a Reserva Nacional do Niassa. Carlos Lopes Pereira tem desempenhado um papel
decisivo na luta contra a caça furtiva. Aliás, o seu nome é sinónimo de perigo
para vietnamitas e chineses, os principais mercados compradores de partes de
elefantes e rinocerontes mortos.
No
âmbito da protecção da flora e fauna selvagem coordena o serviço de protecção e
fiscalização da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) e teve
nos últimos anos uma contribuição relevante na melhoria do quadro legal
relativo à conservação da biodiversidade, na elaboração da estratégia de
prevenção e combate à caça furtiva e na coordenação institucional que envolve o
Ministério Público, a Magistratura Judicial, os vários ramos da Polícia e
outras instituições no combate ao tráfico de produtos de vida selvagem no
âmbito nacional, regional e transnacional.
Na
mesma cerimónia foram ainda atribuídos outros dois prémios, nomeadamente o
Prémio Tusk para Fiscal de Vida Selvagem para Benson Kanyembo, conselheiro para
a aplicação da lei para a região do Sul do Luangwa, na Zâmbia. O Prémio Tusk
para a Conservação foi para Tomas Diagne do Senegal. A Tusk Trust é uma
instituição líder na conservação da vida selvagem sediada no Reino Unido e tem
como patrono, o Duke de Cambridge, Príncipe William. A Tusk tem programas em várias
partes de África e foi estabelecida em 1990 para responder à crise de caça
furtiva dos anos 1980, que desde então tem afetado as populações de Rinoceronte
e Elefante.
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