Desde a
eclosão dos ataques, em Outubro do ano passado, as autoridades governamentais
têm procurado minimizar o impacto da actuação dos insurgentes. Uma das mais
recentes aparições foi do governador da provínciade Cabo Delgado, Júlio
Parruque que, numa entrevista ao “Dossiers e Factos” pintou um quadro “bonito”
e “conveniente”,mas bastante distante da real situação que se vive no norte da
província. Durante uma semana no terreno e, por isso, testemunhou a situação dramática
que se vive nas aldeias dos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Macomia e Quissanga.
Por
exemplo, por todas as aldeias afectadas por que passamos, as comunidades
queixam-se de
fome porque já não podem ir às machambas por medo dos ataques, o que desmente a
politicamente correcta versão do governador, que garantiu que em nenhum momento
a população se queixou de falta de comida e que continuam a trabalhar e a
produzir no seu dia-a-dia. Verdade, porém, é que, timidamente, os deslocados
vão regressando às suas zonas de origem.Por exemplo, na Ilha do Ibo, para onde
se tinha deslocado grande parte das comunidades afectadas. De acordo com os
residentes da Ilha, no pico dos ataques chegavam por dia até cinco barcos com
cerca de 50 deslocados, cada. Mas a maioria já não está no Ibo.
Ibrahimo é das poucas que continua por lá. Saiu de Naúnde, com mais de 10
membros da família, agora enclausurados numa minúscula casa de um familiar a
trabalhar na ilha. “Saímos por causa da guerra. Queimaram a nossa casa e
perdemos tudo. Aqui vivemos na base e apoios”, relata Anica, que amamenta um
bebé de um ano e um mês. Semba Imedi, residente da Ilha do Ibo, tinha a casa
transformada num verdadeiro centro de acolhimento de deslocados, quando chegou
a receber no minúsculo quintal, 26 pessoas que fugiam dos ataques. Mas hoje só
ficou com a sobrinha, Alina Macasaré, que fugiu de Naúnde, onde vivia com o
esposo e duas crianças, todas menores de idade. Fugiram quando se aperceberam
da agitação e a casa ficou a ser incendiada com todos os pertences.
O apelo do
governador Parruque para que as comunidades mantivessem vigilância, mesmo que
isso passasse por dormirem pouco, está em marcha no norte da província. A
partir das 19h, grupos de jovens locais, empunhado armas brancas, sobretudo catanas,
arcos e flechas, juntam-se aos militares para patrulhas nocturnas. Autêntica
caça ao homem em defesa da vida.
0 comments:
Enviar um comentário