Se
a situação no Movimento Democrático de Moçambique (MDM) já era difícil, não
ficou melhor. Com a saída de Venâncio Mondlane para a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) já se falava num partido em crise. Agora, Manuel de Araújo
anunciou que já não será cabeça de lista pelo partido no município de
Quelimane. Segundo a imprensa local, o político prepara-se para ingressar na
RENAMO.
O
jornalista e analista político moçambicano Fernando Lima, que concorda que este
é um "golpe duro para o MDM". Para o analista, o principal problema é
que a saída de altos quadros do MDM para a RENAMO põem em causa possíveis coligações
para derrotar a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) nas eleições.
Contudo, Fernando Lima defende que os partidos não podem depender de pessoas de
importância, e que o MDM ainda tem uma forte base de apoiantes com que ainda
pode contar.
WD
- O que se passa o MDM?
Fernando
Lima (FL): O que se passa é que tem havido uma grande deserção de pessoas
conhecidas, de pessoas colunáveis, mas também de militantes de base. E o último
nome a ser conhecido é o de Manuel de Araújo. Penso que é um duro golpe para o
MDM, porque perde pessoas notáveis, com grande capacidade, num momento
particularmente complicado, porque estamos à beira das eleições autárquicas.
Mas, tal como disse recentemente o líder do MDM [Daviz Simango], os partidos
não se podem formar na base de pessoas colunáveis, têm de ser formados por
militantes, pessoas que fazem o trabalho do partido, que se devotam a uma causa
partidária, que acreditam nas diretivas e ideologia do partido. É isso que o
MDM tem de fazer.
WD
- Qual o futuro do MDM? O que se pode esperar do partido?
FL:
É um teste muito duro que o MDM vai ter de enfrentar. O MDM poderia ter feito
uma coligação com grande potencial com a RENAMO, uma coligação entre os dois
principais partidos da oposição. Penso que, neste momento, com estas deserções
e com o facto de a grande maioria das deserções ter apenas um único destino, a
RENAMO, duvido que esta possível coligação ainda possa acontecer, mesmo, nos
casos pontuais em que se chegar à conclusão que, num determinado município,
deveria haver uma coligação para enfrentar o candidato do partido FRELIMO. É um
golpe muito, muito duro para o MDM.
WD
- Sem essa possibilidade de coligação, o cenário para as eleições autárquicas é
mesmo negativo?
FL:
Eu diria que é difícil, mas também diria que o MDM tem de aprender das suas
lições de luta política, ou seja, compreender que a política não se faz apenas
de pessoas que chegam diretamente para ocupar cadeiras disponíveis em termos de
poder, em termos de Parlamento, em termos de autarquia, mas que devem
corresponder a um outro tipo de luta e de militância mais profundo, o que não é
o caso destas pessoas que abandonaram o MDM, porque são pessoas de militância e
de adesão recente ao MDM.
WD
África- Tem alguma ideia das motivações que levam estas pessoas, como Manuel de
Araújo, a sair do MDM para a RENAMO?
FL:
De acordo com essas pessoas, todos eles falam em falta de democracia interna no
MDM. Há, claramente, um problema interno no MDM em termos do debate de ideias,
do próprio funcionamento das estruturas, o que terá levado ao descontentamento
destes indivíduos. O MDM, também pela natureza dos próprios estatutos, é muito
centrado na figura de Daviz Simango, o atual edil da cidade da Beira. Este é
outro desconforto para estas pessoas que gostariam de sentir mais democracia
interna no MDM. Mas, a questão de fundo, claramente, são problemas ligados com
a própria natureza das personalidades que abandonaram o partido.
WD
- Acha que Daviz Simango está a ficar isolado
na liderança do partido?
FL:
Não, não penso que ele esteja isolado. Não confundo o partido com o facto de
meia dúzia de figuras sonantes terem abandonado o partido. São golpes políticos
significativos no MDM, mas o MDM tem centenas de milhares de pessoas que votam
MDM e não me parece que a existência de tantos milhares de apoiantes do MDM
torne o engenheiro Daviz Simango solitário na liderança.
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