No
dia 22 de Setembro, o professor universitário Almiro Lobo era uma das pessoas
mais felizes do mundo. Não devia ser diferente, afinal, era o lançamento do seu
livro. Mas o seu semblante alegre era também movido pelo facto de aquela ser a
sua primeira aventura no universo das crónicas e por contar as peripécias
vividas desde a infância até aos dias mais recentes.“Aquilo que eu fiz neste
livro foi escrever crónicas da minha memória… quando senti que tinha um número
razoável de crónicas, aproximei à Alcance Editores e perguntei se aquilo que
tinha escrito fazia sentido publicar em livro”, contou Almiro Lobo, mas já se
tinha apagado semblante do dia 22.
Juntamente
com Sérgio Pereira, da Alcance Editores, Lobo reagia, na manhã de hoje, pela
primeira vez, a acusação do clube Sport Lisboa e Benfica, de Portugal. O clube
português proibiu a venda do seu mais recente livro, O berlinde com
Eusébio lá dentro, alegando que a foto da capa é do antigo futebolista
Eusébio e que foi usada sem autorização.
O
autor desmente a acusação e entende ser um atentado ao seu bom nome e
reputação.
“Este
menino que está aqui na capa (apontava a foto da capa do seu livro) é meu
filho, chama-se Bruno José de Pires Lourenço Lobo. A carta dos advogados do
Benfica diz que este menino que está aqui na capa é Eusébio da Silva Ferreira.
Como quem acusa é que tem que provar, os advogados do Benfica vão ter que
provar que meu filho não é meu filho e que eu sou pai do Eusébio da Silva
Ferreira. Quero lembrar que quando Eusébio da Silva Ferreira partiu de
Moçambique eu tinha cerca de 1 ou 2 anos de vida. Eu sou cidadão moçambicano e
sinto que a acusação do Sport Lisboa e Benfica é um atentado ao meu bom nome e
minha reputação.
Almiro
Lobo, prestigiado académico moçambicano, homem de bem, e amigo do seu amigo,
publicou mais um livro, este de crónicas autobiográficas, algo a que o belo
título alude: “O berlinde com Eusébio lá dentro” (editado pela Alcance). São
memórias da sua meninice e juventude, 14 textos que evocam o seu Chinde natal,
a Zambézia, o Niassa, Maputo e ainda o cá Portugal*, onde o Almiro se
pós-graduou. E onde também casou, com Patrícia Paula. Aliás, um fruto desse casamento
surge ali na foto, em pujante pose futebolística (o rapaz tem “pinta”, não haja
dúvidas).
Está
Almiro Lobo (e decerto que a editora Alcance) agora surpreendido com a tomada
da Luís Laureano Santos e Associados/Sociedade de Advogados, um escritório que
representa o Benfica que o acusa de usurpar direitos de imagem de Eusébio, ao
que parece detidos pelo clube. Como resultado disso a venda do livro foi
suspensa.Isto é patético.
Não só devido ao produto de que se trata, um pequeno
livro de memórias – que nunca se tornará um sucesso comercial, pilhável pelos
omnívoros clubes de futebol. Mas também pela confusão acontecida: um rapaz
mulato a jogar à bola? Eusébio será. Para Luís Laureano Santos e Associados os
“pretos [de facto mulatos, no racialismo português] são todos iguais”?
Mas
mais do que patético é gravoso, isto de chegarmos ao ponto de que a memória
social (sim, não esqueçamos que Eusébio até para o Panteão foi) se torna
património privado e não daqueles que a cultivaram e reproduzem. Li alguém
escrever sobre este caso apatetado – raisparta, se fosse representado por um
escritório de advogados que fizesse uma coisa destas mudava logo para uns
quaisquer rivais – que “isto é o colonialismo”. Não é, nem pensar nisso. É sim
o capitalismo. Com advogados da “distrital”, já agora. Enfim, a ver se o clube
Benfica abre os olhos e retira esta acusação parvoíce, que só o apouca, clube
popular – e de memórias – que é. E se o livro volta a ser vendido.
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