O Presidente do
Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, disse, em entrevista na
cidade da Beira, que para devolver a confiança à sua figura bem como do seu
Governo o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, devia demitir
imediatamente o Primeiro-ministro (PM), Carlos Agostinho do Rosário e o
ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, porque ocultaram dados sobre
as dívidas ocultas e mentiram ao país. Diz que o comportamento dos dois
governantes levou o Estado moçambicano ao descrédito, facto que o torna o país
muito mais frágil. Simango lamenta a forma como Nyusi está a gerir a questão da
tensão político- -militar bem como a dívida pública e que a morosidade do PR
está a levar o país ao abismo e deixar o grosso da população moçambicana na
penúria. Diz ainda que com Filipe Nyusi a intolerância política teve tendências
de se agudizar e a justiça age com o som do batuque. Olhando para o seu
partido, o nosso entrevistado diz que está num bom caminho e cada vez mais uno
e indivisível. Nas linhas abaixo segue a entrevista que resume os sete anos do
MDM e a situa- ção política e económica do país.
As
desinteligências no seio da Renamo culminaram com a criação do MDM em 2009.
Sete anos depois, como é que avalia a organização? O MDM é um partido novo na esfera política
moçambicana. Porém, isso não se nota porque somos uma organização seriamente
activa e empenhada. Como resultado desse trabalho, conseguimos, em pouco tempo,
ultrapassar as barreiras da bipolarização política em Moçambique. O MDM foi
criado com objectivo claro de participar na vida política do país. Por isso,
pouco tempo depois da sua constituição, tomou-se a decisão de ir às elei- ções
gerais mesmo cientes da magnitude do desafio e da fraca preparação,
comparativamente com os nossos adversários. Entrámos no desafio eleitoral de
2009 porque, como políticos, entendemos que era preciso apresentar ao povo
aquilo que era o nosso programa de governação, que por sinal foi bem acolhido.
Veja que mesmo com os contratempos criados pela coligação Frenamo, visando
fragilizar-nos, o MDM conseguiu quebrar a bipolarização política e surgiu a
terceira bancada na Assembleia da Repú- blica (AR). Dois anos depois, em 2011,
fomos às eleições intercalares e conquistámos o município de Quelimane. Em 2012
concorremos na eleição intercalar de Inhambane e, com muito privilégio,
conseguimos aquilo que a oposição no seu todo nunca tinha atingido.
Conquistámos 30% dos votos, o que é bastante positivo. Também é importante
realçar que em 2012 realizámos, com sucesso, o nosso primeiro Congresso. Em
2013 entrámos na corrida autárquica, concorremos em todos os municípios e
ganhámos em quatro, para além de termos conseguido assentos nas assembleias
municipais de 51 autarquias de um total de 53. Na senda do nosso
comprometimento com a democracia, em 2014, participamos nas eleições
presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais. Como todos sabem, as
eleições de 2014 foram atípicas. Vimos a Polícia de Intervenção Rápida a
assumir todo o protagonismo, a Frelimo e a Renamo a exibirem a sua pujança
belicista e a se assumirem como donos do processo, tudo com o objectivo de
sufocar o MDM. Contudo, mesmo debaixo dessas adversidades, conseguimos duplicar
o número de assentos no parlamento nacional e nas assembleias provinciais.
Estas conquistas mostram a maturidade que o partido conseguiu e deixam claro
que estamos num bom caminho.
Na
sua óptica, que mais-valia o MDM trouxe para a democracia moçambicana? É bom lembrar que durante muito tempo o
debate político se resumia apenas na Frelimo e Renamo. Hoje, as coisas
inverteram-se. O debate alastrou-se para três forças. O MDM trouxe uma nova
forma de fazer política e não usa armas para fazer vincar suas ideias. Não
dispara tiros e não sacrifica vidas humanas para se evidenciar, reivindicar ou
perpetuar o poder. Na AR, os seus deputados nunca pautaram pela deselegância e
despudor nos debates, tal como acontece com as outras duas bancadas. Ao
contrário dos deputados da Frelimo e da Renamo que passam o tempo a discutir
questões marginais e inúteis para o país, os eleitos do MDM preocupam-se com o
país, procuram trazer propostas que possam conduzir à solução dos problemas e
melhorar a vida do povo. Sempre vão à busca da tolerância e reconciliação. A
outra mais-valia que o MDM trouxe foi mostrar ao país e ao mundo como é que se
governa. São notáveis nos quatro municípios sob gestão do MDM os altos níveis
de transparência, boa gestão da coisa pública e uma governação centrada no
cidadão.
A
história política moçambicana sempre foi associada às armas. É dos tiros que a
Frelimo e a Renamo fazem a sua política. Sendo um partido civil, como é que o
MDM consegue se impor num meio altamente belicista como o nosso? É preciso acreditar na sabedoria humana e
nós temos explorado muito esse potencial. Não é preciso violência para
conquistar algo. O MDM vai ao encontro dos eleitores, dialoga, procura perceber
suas inquietações, apresenta suas ideias e propostas para a superação das
preocupações apresentadas. A lógica moderna mostra que a política deve ser
feita na base de ideias e não da força. Enquanto as armas destroem e deixam
sequelas, as ideias moldam-nos para o melhor. Em todos os processos eleitorais,
o MDM é o partido que mais sente a intolerância política dos adversários, os
seus membros são perseguidos, violentados, detidos e até assassinados, mas as
conquistas são visíveis. O MDM está a trazer um novo paradigma na política
moçambicana de que é possível governar sem armas.(Foto:Presidente da Republica,P.Renamo e P.MDM)
Como
é que o MDM define a democracia, e, nos termos dessa definição, acha que está a
ser devidamente materializada no país? Para o MDM, a democracia é um direito consagrado na Constituição e que deve
ser usufruído por todos os moçambicanos. O MDM aparece para implementar aquilo
que a Constituição chama de Estado de Direito Democrático.
Em
outras palavras: Moçambique goza da democracia que o MDM sonha? A nossa democracia não é eficiente. Ela tem
de ser construída e nós, como mo- çambicanos, temos de olhar os problemas pela
frente e enfrentá-los. Não podemos dar costas aos nossos problemas. …
E
qual é que tem sido o contributo do MDM? A democracia que Moçambique vive é de fachada, é preciso inverter esta
situação. No passado recente era comum que, nas festividades dos dias
nacionais, os membros do partido no poder provocassem a oposição com termos
pejorativos. Hasteavam suas bandeiras de forma abusiva. As cerimónias do Estado
resvalavam para agenda partidária. Hoje, essa situação continua, mas de forma
menos brava porque o MDM está presente. O nosso partido não faz a política de
autoexclusão. Entendemos que os conflitos que temos no país resultam da
democracia fragilizada, resultam da fragilidade do nosso Estado. Agora, a
superação desses problemas requer propostas sensatas e o MDM tenta trazer isso.
É no quadro dessa contribuição que produzimos propostas da revisão
constitucional onde indicamos o que deve ser alterado ou acrescentado na nossa
Constituição de modo a pôr fim aos conflitos e desfrutar duma verdadeira
democracia.
Sabe-se
que o MDM não possui quórum suficiente para forçar o debate da revisão
constitucional na AR. Como é que pensam em fazer valer as vossas ideias? É verdade que a nossa Constituição exige
um mínimo de 1/3. Porém, temos vários órgãos que têm o poder de iniciativa de
leis. É nesses órgãos onde vamos depositar as nossas propostas. Estou a falar
da Presidência da República, da AR entre outros. Vamos entregar ao Governo e à
Renamo através da Comissão Mista do diálogo político. Também usaremos
diferentes plataformas para divulgar as nossas propostas junto ao povo.
Entendemos nós que quer os moçambicanos bem como a comunidade internacional
sabem que, no actual xadrez político, não se pode falar da descentralização e
desconcentração do poder sem se incluir o MDM. O nosso partido é o único de
oposição que governa territórios. O MDM tem o domínio daquilo que se vive no
processo de descentralização.
O que é que,
essencialmente, o MDM quer ver alterado na Constituição? Queremos um
verdadeiro Estado de Direito Democrático, uma democracia muito mais robusta.
Entende o MDM que é preciso adaptar a nossa Constituição às transformações e à
dinâmica do país, da região e do mundo de modo a responder às exigências do
presente. A nossa proposta resume-se numa descentralização despartidarizada,
independência do poder judicial, despartidarização do Estado, tolerância
política, respeito às diferenças, aos direitos humanos e a igualdade de
oportunidades.
O
MDM ensaiou uma coisa igual num passado recente e foi chumbado. O que nos
garante que desta vez essas propostas serão levadas em conta? Uma coisa é o passado e outra é o
presente. O MDM está desde 2009 a propor a eleição directa dos governadores provinciais,
mas sempre fomos ignorados pelos nossos adversários. Porém, hoje já é agenda
nacional. Desde a sua fundação, o MDM teve como bandeira a despartidarização de
Estado, tolerância política, independência do poder judicial, redução dos
poderes do chefe de Estado e o aumento da participação do cidadão na governação
através da descentralização e desconcentração do poder. Infelizmente não fomos
compreendidos, mas o tempo tende a mostrar que as nossas propostas são
fundamentais para a fortificação da democracia e para acabar com os conflitos.
O MDM quer que as assembleias provinciais deixem de ser figuras de decoro e
ganhem o verdadeiro poder fiscalizador. Queremos uma democracia em que as cores
partidárias não sejam a fonte de benefício para interesses privados. O nosso
Estado deve estar livre das amarras partidárias. As instituições não devem
funcionar a reboque de cores partidárias. O exército e a polícia nacional devem
estar ao serviço de Estado e não de partidos políticos.
A
dado momento disse que a nossa democracia era de fachada. Quem é o principal
responsável? A bipolarização
política criou um certo comodismo na nossa democracia. A aprovação da
Constituição de 1990 e as revisões que se seguiram foram sempre para acomodar
os interesses dos dois beligerantes e não do país. É isso que o MDM pretende
ver alterado. A nossa Constituição deve ser para todos os mo- çambicanos e não
para certos grupos de acordo com os seus interesses.
O
MDM sempre se queixou da intolerância política. Há dois anos que temos um novo
Governo. Como é que avalia convivência política actualmente? Há dias, o nosso delegado político em Gaza
foi raptado e torturado no distrito de Mabalane. Não cometeu nenhum crime,
apenas estava no exercício dos seus direitos que é a prática de actividades
políticas. Isso mostra que vivemos uma democracia de fachada porque temos
partidos que exercem suas actividades sem obstáculos e outros que são
impedidos. As instituições estão amarradas às agendas políticas. As pessoas que
raptaram o nosso delegado foram identificadas, o mandante também, mas as
autoridades nada fizeram para responsabilizar os criminosos. O mesmo aconteceu
em Tete onde um nosso membro foi queimado vivo. Percebemos que a justiça não
está a actuar porque ainda não recebeu ordens. A nossa justiça não funciona de
acordo com a lei. Age mediante o toque do som de batuque. …(Foto:Fundador da FRELIMO,Eduardo Mondlane e o seu Vice,Urias Simango,pai de D.Simango/1963)
Para
dizer que mesmo com Filipe Nyusi a intolerância política continua? Continua e com tendências de aumentar.
Mesmo com o grito das vítimas, o chefe de Estado continua no silêncio, nunca
condenou publicamente a violência contra políticos da oposição. Isso mostra que
Nyusi quer evitar conflitos consigo mesmo o que é mau. Como PR deve se despir
das cores partidárias e defender direitos de todos os moçambicanos.
Infelizmente não é o que acontece.
O
MDM funciona de forma atípica. Tem a sede em Maputo, o presidente na Beira e o
Secretário-geral (SG) em Quelimane. Como é que articula isso? Não vejo problema. Aliás, não é só o MDM
que passa por isso. Temos partidos que têm seus dirigentes a residir algures na
Gorongosa e o SG em Maputo, mas que também estão a funcionar. O importante é
que nós como organização tenhamos os instrumentos legais de comunicação
funcionais. Daviz Simango é presidente do município da Beira e, por
coincidência, é presidente do partido. Tem obrigações legais com a autarquia da
Beira. O nosso SG tem residência em Quelimane e não pode estar em Maputo porque
o partido ainda não conseguiu recursos para condicionar isso. Contudo, garanto
que quer o SG bem como o presidente do partido viajam regularmente para Maputo,
tanto que o SG tem um representante legal na sede nacional em Maputo. O partido
está a funcionar normalmente.
Em 2017 teremos o segundo Congresso do MDM
onde, dentre vários pontos de agenda, se vai eleger o novo presidente do
partido. Será candidato à sua própria sucessão? Apenas sou um servidor do partido e quem serve tem
de esperar a decisão dos militantes. No primeiro Congresso não me candidatei.
Os militantes é que propuseram a minha candidatura para a presidência. É bom
referir que o MDM é um partido aberto, há espaço para que qualquer militante
concorra à direcção do partido, desde que reúna requisitos estatutários. A
minha contribuição enquanto militante do MDM não é na presidência. O facto de
ser presidente do município da Beira eleito pelo MDM estou a contribuir para o
partido, o facto de ser membro fundador é uma contribuição.
Senhor presidente!
Vai ou não concorrer... Ainda não pensei nisso.
Se a vontade dos membros for de vê-lo a
concorrer, estará disposto para tal? O que sei é que sou membro do MDM e esse é
o meu ponto final. O resto não lhe posso responder porque não estou em
condições de vaticinar o futuro.
Que
MDM teremos em 2018 e 2019? Temos
esperança de que a Constituição será revista, vai-se criar novas autarquias e
estaremos prontos para concorrer em todas. Queremos consolidar o que temos e
conquistar outros territórios. Em 2019 vamos às gerais para ganhar. Queremos
controlar o parlamento e o maior número possível de províncias. Queremos
contribuir com o nosso conhecimento na democracia moçambicana e mostrar ao país
e ao mundo que não é preciso ter armas para governar.
O
MDM é pela redução dos poderes do chefe de Estado. Porém, os seus estatutos
atribuem muitos poderes ao presidente do partido. Isso não será incongruência? Nunca foi meu desejo como presidente do
partido ter tantos poderes. No Congresso de 2009 apresentei as minhas propostas
e foram chumbadas pelo plenário. Não foi Daviz Simango que concentrou poderes
na figura do presidente. Foram os congressistas que entendiam que, como o
partido estava a nascer, devia estar devidamente protegido para evitar a
penetração de vírus desestabilizadores. A criação do MDM não agradou os nossos
adversários, pelo que tudo fariam para nos fragilizar. Era preciso controlar
isso e, para tal, os congressistas entenderam que, naquele momento, era
perigoso dispersar poderes. Acredito que no futuro vai mudar. São processos e
sempre chegaremos ao ideal. Contudo, é bom frisar que, apesar desses poderes
estatutários, tendo em conta a minha figura como fundador do partido e
conhecedor de processos democráticos, todas as decisões por mim tomadas depois
são direccionadas ao fórum para serem discutidas. Pelo que, dificilmente ouvirá
que esta decisão é do presidente. Todas as decisões saem de fóruns apropriados.
Algumas correntes de opinião pública
moçambicana entendem que, não obstante ser um partido jovem, pouca inovação
trouxe o MDM na política. Não foge tanto da ortodoxa da Frelimo e da Renamo. O
MDM é um partido fechado, conservador e centralizado. Pode comentar? O MDM é um partido novo, pelo que por
vezes tem de seguir certas directrizes para sobreviver, porém, que fique claro
que o MDM não é igual nem à Renamo nem à Frelimo. Verifica o comportamento dos
dois beligerantes na AR. Fazem a sua agenda na base de insultos. Nós não
insultamos a ninguém. Apenas nos concentramos nos pensamentos e ideias e
apresentamos propostas concretas. Hoje, todos conhecem a proposta do MDM sobre
a revisão constitucional, mas ninguém sabe o que a Frelimo e a Renamo pensam.
Todos sabem que a Frelimo e a Renamo resolvem seus diferendos com a força das
armas enquanto o MDM é pelo diálogo. Em todos os territórios administrados pelo
MDM há espaço para outros partidos realizarem suas actividades políticas. O
mesmo já não se verifica nos municí- pios governados pela Frelimo. Aí não há
tolerância política. O MDM está aberto para todos porque tem noção de Estado.
Como
é que o MDM sobrevive. De onde vêm os fundos que sustentam o partido. Quanto é
que recebe do Estado mensalmente e como gasta? O MDM sobrevive na base das quotizações dos
membros.
Quantos
membros têm o partido? Apenas
vou falar dos que pagam quotas. Andam em torno de 100 a 120 mil membros. São
quotizações desses 120 mil membros, ajuntado ao contributo dos nossos membros
eleitos em diferentes órgãos como AR, assembleias provinciais e municipais que
garantem o sustento do partido. Também temos apoio do Estado, através da nossa
participação na AR. Mas, como isso não basta, porque os desafios são maiores e
exigem uma certa pujança financeira, estamos a desenhar uma veia empresarial
que se deverá dedicar à venda dos produtos do MDM.
Como
é que será esse braço empresarial. Será igual ao da Frelimo que detém
participações em várias empresas dedicadas a diferentes ramos de negócios? Numa primeira fase será dedicada
exclusivamente à produção e venda do material de propaganda do MDM.
Tem
sido comum no seio de outros partidos que controlam a máquina estadual usá-la
para o seu sustento. Será que o MDM é uma excepção nos municípios que controla?
Já ouvimos várias vozes a
insinuar que o MDM usa o dinheiro dos municípios onde governa para financiar
suas actividades. Isso é falácia e temos como provar. Várias auditorias
passaram pelas contas dos municípios governados pelo MDM e em nenhum momento
foi constatado isso. O MDM vive na base dos seus recursos. São poucos mas, como
somos gestores, somos profissionais, conseguimos funcionar e realizar nossas
actividades. A nossa atitude enquanto gestores ultrapassa qualquer tipo de
organização. O MDM tem uma capacidade profunda de gestão e essa competência de
gestão também ajuda na boa governação dos municípios.
Qual
é o orçamento anual do MDM?
Não é possível definir o orçamento ideal anual na medida em que tudo depende do
tipo de actividades que o partido pretende realizar nesse ano. Por exemplo, em
2016 não há eleições, em 2017 o partido vai ao Congresso e nos dois anos
seguintes há eleições. Assim, em 2017 o partido é obrigado a ter um orçamento
adicional do normal devido ao Congresso. Em 2018 teremos eleições autárquicas
que também têm seus custos. O mesmo cenário se repete em 2019 com eleições
gerais. Isto é, o orçamento de 2016 é menos pesado que de 2017, o mesmo sucede
com orçamento de 2017 para com o de 2018 e aí em diante.
Excluindo
épocas eleitorais, quanto é que o MDM gasta por ano? Infelizmente, as nossas possibilidades estão
muito além do orçamento ideal. Por exemplo, num mês o MDM precisaria de 200 mil
meticais por cada província. Porém, dificilmente conseguimos esse dinheiro.
Aliás, há vezes em que funcionamos com 10 mil meticais que é o valor que a
direcção central manda mensalmente para as delegações provinciais. Mas, em média,
cada província trabalha com 20 a 25 mil meticais.
A
Frelimo diz ser um partido da Esquerda e a Renamo da Direita. E o MDM? Somos um partido de Centro-Direita.
Nas
eleições autárquicas de 2013, o MDM obteve resultados extraordinários o que
vaticinava altos voos nas gerais de 2014. Contudo, a realidade foi contrária.
Dois anos depois, o MDM já fez uma introspecção para saber o que falhou? Já analisamos isso e achamos que são
arquivos internos do partido. Contudo, é bom realçar que muitos factores
contribuíram para aqueles resultados. Todos assistimos àquele aparato belicista
encenado pelos nossos adversários. A Frelimo e a Renamo criaram medo no seio do
eleitorado e isso influenciou nas urnas. Também é preciso compreender que um
partido que não tem um braço armado, nas condições em que foram as eleições
gerais de 2014, era extremamente difícil sobreviver. Contudo, apesar desse
colete de forças, o MDM saiu a ganhar, na medida em que compreendeu melhor os
processos, fenó- menos, adversidades, as condições do terreno onde está
inserido e, naturalmente, que se vai preparar melhor para os próximos pleitos.
É importante perceber que nas eleições de 2013, do jeito que o MDM surpreendeu,
assustou o regime da Frelimo e era natural que se aliasse à Renamo e formar a
coligação Frenamo porque é nesta coabitação que eles conseguem manipular.
Portanto, a Frelimo sabe que as manipulações que tem feito à Renamo não faria
ao MDM, uma vez que sabe que este é um partido inteligente.
Está
apenas a limitar-se às circunstâncias exógenas. Internamente o que aconteceu? Lembro que, pouco depois da divulgação dos
resultados, Manuel de Araújo veio a terreiro afirmar: “tínhamos de assumir as
nossas culpas porque cometemos muitos erros”. Apontou sinais de arrogância no
seio de algumas pessoas ligadas à direcção do partido e frisou que era
inconcebível lutar para nos libertar de Maputo para depois sermos colonizados a
partir da Beira. Comentários. Não sei se devo comentar ou não, mas em respeito
à sua pessoa vou explicar o seguinte: nas eleições de 2011 em Quelimane, o MDM
perdeu quatro membros fundadores. Perdemos esses membros quando íamos a
Quelimane fazer uma força e apoiar a campanha do nosso candidato.
Eu residi em
Quelimane durante todo o processo das intercalares. Sou da Beira, mas fiz
campanha em Quelimane. Estivemos lá por uma razão muito simples, levar o
candidato ao trono. Conseguimos e todos saímos a ganhar. A revolução de 28 de
Agosto teve o epicentro na Beira. Enquanto a Frelimo nasceu na Tanzânia, a
Renamo na Gorongosa, o MDM foi criado na Beira. Logo, todos os partidos
políticos têm sempre uma base de partida. Quando saímos da Beira para
Quelimane, não íamos mandar, tínhamos apenas a tarefa de libertar a cidade do
regime, de tal forma que depois de confirmarmos a vitória regressamos às nossas
origens e ficaram os donos da terra a formar seu governo municipal sem nenhuma
interferência. A fiscalização de todo o processo de votação em Quelimane foi
suportada por estrategas saídos da Beira porque, caso contrário, teríamos
perdido a eleição. O mesmo fizemos em Nampula e Gúruè. A partir da Beira,
apoiámos a nova governação de Quelimane quer sob ponto de vista técnico bem
como de equipamento de trabalho. Isso tudo é sinal de que o MDM é um partido
uno e indivisível e o nosso objectivo é garantir boa governação em todos os
municípios sob nossa direcção. …
E
sobre a saída prematura do então SG, Ismael Mussa (Na foto), e de um grupo de membros em
Nampula que depois formaram outro partido? Fico muito satisfeito quando o partido tem este
perfil, em que livremente as pessoas tomam as suas decisões porque isso mostra
que há liberdade, não há perseguições. O MDM é um partido que ilumina pessoas,
abre mentes para que por si só saibam fazer algo que contribua para o bem-estar
da sociedade. Também é bom perceber que a democracia se faz com partidos
políticos. E quanto maior for o número de partidos que contribuem na edificação
do processo democrático é muito bom para o país. A saída dos nossos membros em
Nampula mostra que o MDM também é uma escola.
Há
um mês, o Conselho Nacional do MDM reuniu-se em Chimoio, Manica, para escolher
novos membros para a Comissão Política Nacional. Todos os edis eleitos pelo MDM
foram indicados, excepto Manuel de Araújo. Não será estranho que uma figura da
dimensão de Araújo que é membro influente no partido esteja fora dos órgãos
executivos? Não estará a ser
sacrificado pela sua frontalidade? Não sei o que é isso de figura influente. Não
sei se Manuel de Araújo é figura influente. Como insistes no edil de Quelimane,
é bom saber que, para este chegar lá, o partido é que o indicou e apoiou nesse
desafio.
A influência e o exercício político do edil de Quelimane saem do MDM. (Foto:antigo Presidente Republica Guebuza e M.Araújo numa cerimónia em Quelimane)O partido fez um esforço enorme para que Manuel de Araújo fosse eleito
presidente do município de Quelimane. Portanto, porque alguém tem uma simpatia
com certa pessoa e dizer que é um quadro influente, isso não. O que é um quadro
influente no partido? Para mim como presidente do MDM, todos os quadros do
partido são influentes. Aliás, até podia abrir uma excep- ção para as pessoas
que fundaram o MDM. Sim, esses são quadros influentes porque, sem a ideia e o
esforço delas, o MDM não existiria. Manuel de Araújo não é fundador do MDM. Eu
acho que é preciso olhar para os quadros fundadores, aqueles que tomaram a
decisão de criar o partido e influenciaram no surgimento do MDM, a esses
podemos apelidar de quadros influentes. Porém, tal como qualquer organização,
surgiram outros quadros com mais visibilidade que os outros.
As pessoas que
fazem essas questões devem não saber que Araújo ocupa um cargo dentro de
secretariado. Ele é chefe adjunto de Departamento Nacional de Formação de
Quadros. Penso que há excessos em torno desta questão. Não sei se isso é
alimentado por grupo de amigos ou por interesses próprios, mas precisámos de
descobrir a génese do barulho. Contudo, o jornalista também não pode dar uma
entrevista a um presidente do partido e se cingir apenas a uma pessoa. O MDM tem
mais de 100 mil membros com quotas em dia, o MDM não é Manuel de Araújo. Não
sei que tipo de amizade o senhor tem com Araújo para me fazer esse tipo de
perguntas com o agravante desta não ser a primeira vez. Entendo como erro por
parte do jornalista continuar a insistir em torno de uma figura. Que fique
claro que o MDM não é constituído apenas por Araújo, o MDM não é o município de
Quelimane. Porquê o jornalista não pergunta sobre Nampula ou Gúruè onde também
estão a acontecer maravilhas. A tamanha insistência em torno de uma pessoa
deixa transparecer que é um tipo de encomenda, mas que o presidente do MDM não
responde perguntas encomendadas. O MDM é por um Moçambique para todos, o seu
presidente tem uma visão nacionalista.
Diz-se que o edil de Quelimane (Na foto) é bastante
ausente da sua cidade. Isso fez com que a própria bancada do MDM na assembleia
municipal local questionasse. Qual é o posicionamento do partido? Acho que as pessoas são livres de falar o
que bem entenderem. Mas, a minha questão é: esta ausência prejudica o trabalho?
As coisas estão paradas? Também é preciso perguntar se esta ausência vai buscar
experiência, conhecimento, coisas boas para o município? Se é isso não há
nenhuma razão de preocupação. Não podemos passar a vida a desacreditar um presidente
do município que apresenta boas iniciativas. O que temos de fazer é aproveitar
essas iniciativas, é encorajá-las e esperar pelos resultados. A avaliação final
vai determinar tudo. O que pretendemos é o bem-estar do povo e neste caso dos
munícipes de Quelimane.
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