Porque o pensamento da Renamo
enferma o vício da indolência.
O que faria se num jogo,
percebesse que perdeu injustamente? Exigiria a repetição do jogo, a
clarificação das regras do jogo ou a divisão dos pontos?
Não é a primeira vez que a
Renamo perde em sede das negociações ou se as ganha, ganha-as já enfraquecido e
os dividendos acabam por se diluir em pouco tempo. A sair das segundas eleições
gerais em 1999, Dhlakama quase que tinha ganho as eleições. Exigiu governadores
em províncias onde obteve maioria. Mas o curso das negociações foi interrompido
ou no mínimo baralhado quando Joaquim Chissano revelou que o emissário de
Dhlakama estava a negociar dinheiro e não a nomeação dos governadores – só para
demonstrar que a ideia e o desejo da Renamo em ter governadores nomeados em
província onde obteve maioria não é de hoje. Já tem 15 anos.
Mas antes, em 1994, em pleno
acto eleitoral, a Renamo e Dhlakama teriam anunciado desistirem do processo
eleitoral por causa das irregularidades reportadas. Brazão Mazula (na altura
Presidente da CNE) e Aldo Ajello (representante da ONUMOZ) convenceram a Renamo
a regressar a corrida. Não se sabe bem o que ele ganhou com aquela greve, mas o
resultado final foi que ele perdeu as eleições. Mas já na altura ele tinha
administradores nomeados por Chissano em distritos “sob sua influência”.
Os dez anos de Armando Guebuza foram terríveis. Totalmente excluído e hostilizado, a Renamo e Dhlakama não tiveram nenhuma outra saída senão reagrupar às restantes forças residuais e voltar a lutar. Foi necessário. Porém, o grande problema da Renamo é que sabe tocar apenas um instrumento: recurso da violência para resolver problemas políticos. A organização política não é o forte do seu partido muito menos administrar a logística do voto, lição que a própria Frelimo aprendeu de Davis Simango na Beira e do Manuel de Araujo em Quelimane.
Os dez anos de Armando Guebuza foram terríveis. Totalmente excluído e hostilizado, a Renamo e Dhlakama não tiveram nenhuma outra saída senão reagrupar às restantes forças residuais e voltar a lutar. Foi necessário. Porém, o grande problema da Renamo é que sabe tocar apenas um instrumento: recurso da violência para resolver problemas políticos. A organização política não é o forte do seu partido muito menos administrar a logística do voto, lição que a própria Frelimo aprendeu de Davis Simango na Beira e do Manuel de Araujo em Quelimane.
Mas voltemos a pergunta: O que
faria se num jogo, percebesse que perdeu injustamente? Exigiria a repetição do
jogo, a clarificação das regras do jogo ou a divisão dos pontos?
Se a sua resposta for repetição
do jogo, a clarificação das regras do jogo então você é sério porque é justo e
seguro no que quer. Se a resposta for repetição do jogo é porque você sabe que
em condições justas ganharia o jogo. Se a resposta for clarificação das regras
do jogo você é astuto pois, suspeita que eventualmente, a falta do entendimento
ou domínio das regras do jogo pode ter sido a causa da sua derrota. Assim,
dominando as regras do jogo seria possível fazer melhor. Mas se você exigir a
divisão dos pontos, então você é esperto. É que você não está seguro de nada.
Mesmo perante injustiças, você não está seguro que jogando limpo ganharia o
jogo. Assim, você aproveita-se da má qualidade da arbitragem para exigir um
meio-termo que é a divisão dos pontos; um corta-mato que satisfaz as suas
ambições imediatas mas que não garante a vitória. Ademais, ao exigir a divisão
dos pontos, você está a mostrar alguns sinais de corrupção moral e cinismo, na
medida em que defrauda o público, principalmente o público apoiante, que
acredita e acreditou em si e na sua provável vitória.
Esta é a realidade da Renamo e
de Afonso Dhlakama. O primeiro ponto da agenda das negociações (governar as
seis províncias onde julga ter obtido maioria) é um ponto que em informática
chamaríamos por um “ficheiro corrompido”. Aceitando, o governo da Frelimo
estaria a acomodar a Renamo. Acomodação é nestes termos, corrupção. É um
“ficheiro corrupto” porque não aceita outras alternativas. Muito menos
negociações. Governar em seis províncias equivale a exigir a divisão de pontos
de um jogo jogado cuja arbitragem mostrou-se inclinada para uma das partes.
Partidos fortes e seguros
exigiriam neste caso, a repetição das eleições e não partilha do poder nos
termos feitos pela Renamo. Se é pela justiça e democracia que a Renamo quer, o
melhor e mais justo seria a repetição das eleições. Exigir a governação das
províncias ganhas é demonstrar esperteza de um jogador inseguro nas suas
capacidades – mas a Renamo também está ciente das suas fraquezas: organização.
A diferença entre pedir novas
eleições e dividir os pontos é que a primeira é ampla e esclarecedora enquanto
a segunda é astuta e limitativa. A primeira é coerente enquanto a segunda é
oportunista. A primeira é justa enquanto a segunda é corrupta. Se não fossem as
armas, a proposta da Renamo cairia no saco roto sem nenhum crédito. Exigir
novas eleições possibilitaria reflectir sobre os problemas que enfermam o nosso
sistema eleitoral, a nossa constituição bem como maximizaria os ganhos até
então garantidos, tais o memorando sobre a despartidarização do estado e
questões económicas e ainda a integração dos homens armados no aparelho do
Estado ou na reforma.
Afonso Dhlakama é um grande
GENERAL. Sobrevive a tantos e inúmeros ataques impostos pelo governo. Mas é
fraco num aspecto: sabe manipular apenas um único instrumento que é a violência
armada. Mas em política a organização é chave para a vitória. Apesar da sua
destreza, só ele é quem escapa às balas do governo, pois, todo o resto apanha-as
e morre. Há 40 anos que o Presidente Afonso Dhlakama consegue escapar com
sucesso às balas do governo mas, se me permitem perguntar, quantas mortes dos
seus correligionários conseguiu ele poupar? Nenhuma.
ORA, QUE SAÍDA? PARA MIM, UMA.
No espírito da Paz, a Renamo
pode reformular a questão/ exigência para torná-la articulável com as demais
saídas possíveis, capazes de ampliar o cânone democrático e possibilitar a
participação ampla dos cidadãos e grupos interessados no acesso e gestão do
poder. Nas condições actuais, exigir governar as tais seis províncias não só é
desvantajoso para a Renamo (faltam pouco menos de três anos; a economia está
fraca – não há dinheiro e curiosamente são províncias afectadas pelo conflito,
o que sugere passar um bom par de tempo em acções de reabilitação) como também
pode ser um mecanismo viável para que o governo da Frelimo partilhe grande
parte dos seus desaires de governação com a Renamo. O Presidente Afonso
Dhlakama está a fazer exactamente a mesma coisa que não gostou no Morgan
Tsvangirai. Em lógica matemática é assim: se numa equação introduzires os
mesmos factores, o resultado será o mesmo. Você não pode esperar bife cozido
quando na verdade o que coloca na panela para ferver são ovos de galinha. A não
ser que seja uma táctica para em troca da exigência, receber algo maior.
Dois anos depois, o foco da Renamo deveria ser sobre o
futuro: como fazer com que as próximas eleições haja menos espaço de manobra
para o roubo e como aproveitar o momento para finalmente livrar-se dos seus
homens armados. E nisto estou de acordo que os governadores sejam eleitos ou
confirmados nas assembleias provinciais e também na revisão constitucional
capaz de derrubar o vício do partidarismo. Estou com a Renamo na sua agenda de
desmilitarização MAS… por favor, pensem num quadro mais amplo! (Dr.E.Vaz in facebook)
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