Fiquei um tempo pensando se deveria ou não escrever sobre o acidente
com o Embraer E-190 da Linhas Aéreas de Moçambique, ocorrido no último dia 29
de Novembro, principalmente depois da irresponsável notícia dada pelo Jornal
Nacional (e depois no Jornal da Globo). Caso não tenham assistido, o Jornal Nacional deu a notícia do
acidente, com o número de mortes, com a data de venda do jato brasileiro e
encerrou da seguinte maneira: “a LAM está na lista negra da União Européia há
dois anos por falta de segurança“.
Ao encerrar a matéria desta maneira, a Globo decretou (de maneira
subliminar) a causa do acidente como sendo a falta de manutenção da empresa,
neste caso, tanto pilotos como o equipamento [brasileiro] estaria isento de
falhas. Ora, se no momento da notícia os gravadores de dados de voo e voz ainda
não haviam sido analisados, como se pode chegar à conclusão, ainda que
subliminar, de que a “causa” foi o fato de da empresa estar banida de voar para
a Europa?
A LAM possui uma frota enxuta, com aeronaves modernas (três E-Jets
190, dois ERJ-145 e um Boeing 737-500) e o fato de estar “blacklisted” não
significa que seja por falta de segurança. Há diversos fatores que podem levar
a uma lista negra além de segurança, entre elas ações/regimes de governo e
modelos de aeronaves. Um bom exemplo é Angola, cuja empresa TAAG é banida de
voar para Europa, a não ser que use o B777 ou 4 de seus 737-700, ou seja, não é
uma questão de segurança e sim de equipamento. No caso de Moçambique, todas as empresas aéreas são banidas. Eu sei
como são as operações na África, e é fato notório a quantidade de acidentes
que ocorrem por lá (e na Rússia e territórios da antiga União Soviética), mas
não posso afirmar que foi a falta de segurança que causou este acidente,
principalmente porque é uma aeronave de última geração. O que nos leva a esta
pergunta que foi feita ontem no Blog:
“Olá Lito. Sou Virgílio de Carvalho. Muitos parabéns pelo seu blog! Confesso
que era muito leigo a estas matérias de aeronaves. Com o seu blog pelo menos
preenchi 1/100% da minha laicidade (risos). Tenho uma pergunta que advém de uma
realidade trágica: Como explica o desastre aéreo de uma companhia moçambicana
LAM, num voo TM 470, avião que Moçambique comprou ao Brasil em Novembro de
2012. O avião que leva, em média, 97 a 112 passageiros, explodiu matando todos
os 33 passageiros a bordo. Repare que este avião transportava apenas 1/3 da sua
capacidade máxima. Muito obrigado e um abraço.”
Caro Virgílio, não há explicação para acidentes aéreos até que
milhares de fatores sejam analisados. Quando ocorre um acidente (que é raro), é
comum começarem especulações sobre o que “causou”, mas só é possível saber de
verdade os fatos, a causa só depois de muito tempo de investigação.
Estes são os fatos do voo TM-470:
1- O Embraer
ERJ-190, matrícula C9-EMC, seguia de Maputo (Moçambique) para Luanda (Angola)
com 27 passageiros e 6 tripulantes.
2- Em voo de cruzeiro (FL380 ou 38.000 pés) a nordeste de Botswana, a aeronave
iniciou uma rápida descida de aproximadamente 6000 pés/minuto até que se perdeu
o contato por radar.
3- A aeronave foi encontrada no dia seguinte, completamente queimada no
território da Namibia, a aproximadamente 20 quilômetros do aeroporto Bagani
(pista de terra) e a 40 quilômetros de Omega (pista de asfalto).
4- O comandante possuía 9053 horas de experiência, com 1395 em comando e o
co-piloto 1,418 horas.
5- O tempo estava bom.
6- Esta é a foto do local do acidente, que parece indicar uma colisão quase
vertical, dada a ausência de partes da aeronave e a concentração de espaço.
Cabe agora à investigação descobrir o que aconteceu. Por que a descida
se iniciou? Por que não houve contato de rádio? Houve falha estrutural? Houve
descida comandada? Ou não foi comandada? Enfim, são milhares de perguntas a
serem respondidas, por isso não se pode ser explicado de “sopetão” nem atribuir
simplesmente à “falta de segurança”, como a Globo “subliminarmente” tentou
fazer. (LITOS/tecnico brasilieiro/aviõesemusica.com)
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