Os apreciadores
da mais antiga cerveja moçambicana, a Laurentina, vão poder saborear, a partir
desta semana, uma edição especial com um rótulo comemorativo dos 80 anos da
marca, são cerca de 200 mil garrafas de 330 ml e 550 ml que estarão em todos os
locais de venda habitual.Segundo um comunicado das Cervejas de Moçambique
(CDM), esta edição especial, que não sofrerá qualquer alteração no preço, traz
uma cara que simboliza o prestígio, a tradição e a herança desta cerveja anciã.O
rótulo foi concebido por Larentino Brinco, um jovem estudante de design, do
Instituto Superior de Artes e Cutura de Moçambique, que venceu outras 46
propostas de rótulos.Os moçambicanos assumem a Laurentina como uma cerveja que
faz parte da sua vida. “Isso não foi instituído por ninguém. Eles, os filhos do
País da Marrabenta acabaram por incorporar a Laurentina no seu dia-a-dia, muito
em particular quando se reconhece que, no fim do dia, no fim-de-semana,
bebem-na a par dos seus amigos e familiares” sentenciou Fabiana Pereira, oficial
de comunicação das CDM.Corriam os anos 30 do século passado. Um imigrante
grego, Cretikos, percorrendo os bairros ricos de Lourenço Marques, na sua
actividade de venda de água fresca, ressentiu-se da falta de gelo para a
conservação do peixe que diariamente era descarregado nas docas da urbe. Criou,
então, a “Victoria Ice and Water Factory”, a primeira fábrica de gelo e de água
mineral de Moçambique em 1916. A história reza que, a par disso, “Em poucos
anos, começou também a produzir refrescos e a sonhar com a primeira marca de cerveja
feita em Moçambique. O sonho realizou-se em 1932, quando o grego viajou até à
Alemanha para contratar um mestre cervejeiro que desenvolveu uma receita de
cerveja de estilo europeu a que Cretikos chamou Laurentina, em homenagem aos
naturais de Lourenço Marques, os laurentinos”.Entretanto, na empresa, a sua
complexidade em termos de compartimentos, dos processos da sua actividade,
incluindo o número de recursos humanos que possui, não somente comprovam os
sinuosos caminhos pelos quais – ao longo dos 80 anos que possui – a Laurentina
teve de trilhar, mas, acima de tudo, que ela evoluiu até na maneira de
“pensar”.Por exemplo, com 70 anos, em 2002, altura em que a marca passou a
integrar a família da CDM, já assumia um posicionamento claro e consolidava a
sua relação com os seus consumidores: Saber respeitá-los. Moldar o mercado No
seu diálogo com os moçambicanos, a CDM incutiu nestes, pelo menos em relação às
cervejas 2M, outrora concorrente da Laurentina, a ideia de que aqueles “à nossa
maneira”, consomem “a nossa cerveja”. Isso foi possível graças ao reconhecimento
de que “os moçambicanos são pessoas simpáticas, hospitaleiras e que sabem lidar
com os outros”. Por isso, “as nossas cervejas – feitas por moçambicanos para
estes – deviam reflectir esta realidade”, reitera Fabiana Pereira.Refira-se,
então, que esta postura, em si, denuncia uma evolução psicológica e mental da
Laurentina e da CDM. Senão esta atitude da idosa Laurentina manifesta num
período colonial – que é revelado por Virgílio Tembe, uma figura que, por
trabalhar na Laurentina desde a independência, se confunde com o seu pilar –
não faria sentido. Afirma ele que “é interessante que se fale do passado
porque, naquela época, havia a intenção de transmitir a ideia de que a
Laurentina era uma marca de cervejas que deviam ser consumidas pelas elites. Mas
ela, por ser muito boa, invadiu os subúrbios”.Como se pode inferir, as
vicissitudes por que a Laurentina passou não derivam, necessariamente, do
contexto interno da organização. Mas da realidade social que acompanhou a
história do país como, por exemplo, a guerra dos 16 anos e as cheias de 2000.
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