sexta-feira, março 30, 2012

Pobreza urbana

A pobreza urbana dispara a cada dia que passa. Isso mesmo foi constatado durante a visita efectuada na passada sexta-feira no bairro Patrice Lumumba, Município da Matola. Àquela hora da tarde, o vai-vem das pessoas era constante. Muita gente a desembarcar dos transportes semi-colectivos de passageiros, outras tantas pessoas em busca de espaço para os vários pontos de Maputo e Matola. O movimento de pessoas é intenso. O jogo de empurra intensifica, em busca do assento no primeiro mini-bus que aparece e com destino visado. Numa das principais artérias do bairro, uma enorme fila de vendedoras de produtos diversos, desde hortícolas, passando por vestuários e produtos hiegénicos. A esta hora (para lá das 17), não há atrapalhice da polícia camarária. O negócio vai fluindo, fluindo, fluindo… Não distante desta enorme malta de vendedores, o lixo amontoado. Um jovem decide imitar um indivíduo de idade avançada e liberta mo xixi, ignorando a presença de mulheres que vão passando por perto, outras concentradas nos seus negócios. No mesmo instante, uma mulher desabafa: “isto é inadmissível; passa dos limites”. Todos fingem não ouvir os comentários desta mulher. Mas por que é que só são os homens a mijar em lugares impróprios e não as mulheres? A esta pergunta, a Pobreza urbana à vista desarmada resposta imediata. Uma mulher, levando uma criança no n colo, posiciona-se num dos cantos da lixeira e liberta o xixi. A diferença é que uma outra mulher a protege atravez da capulana, numa espécie de muralha. Volvidos minutos, dois idosos vasculham, no mesmo local do xixi, alguma coisa que os possa aliviar da fome. Interpelamos o casal. À pergunta, o homem justifica a iniciativa com a necessidade de se alimentarem, pois são pobres desgraçados, sem ninguém no mundo. Contam que, sendo sexta- feira, percorreram os estabelecimentos comerciais do bairro, na tentativa de conseguirem alguma esmola, mas o que tiveram não é suficiente para matar a fome por uma semana. A solução é fazerem-se à lixeira, onde julgam poderem encontrar algumas migalhas de pão ou outro alimento qualquer. A mulher lamenta, volvidos minutos de vasculha sem sucesso: “hoje em dia disputamos o espaço com cães e gatos. De certeza que eles foram primeiros que nós e tiraram-nos tudo que provavelmente havia”. De um dos mini-bus desembarca, entre muitos passageiros, um estudante do ensino superior que nos conta a situação do bairro Patrice Lumumba. Valdemar diznos que nos últimos anos o bairro tem sido caracterizado por uma acentuada degradação, situação que se deve ao aumento de pessoas que vivem ou frequentam, com alguma assiduidade, o bairro Patrice Lumumba. Muitas das pessoas “que têm estado a fazer desman- dos, aquí ou acolá, nem sequer são residentes daquí. São pessoas que têm as suas casas fora de Patrice Lumumba” mas porque, nos seus bairros, ainda não existem infra-estruturas básicas onde possam desenvolver as suas actividades quotidianas, “correm todos para aqui. E isto já não está em condições de suportar mais gente”, afirma Valdemar. O mesmo sentimento é contado por Moisés, residente em S. Damanso. “Lá não temos posto policial, farmácia, posto sanitário, estabelecimentos comerciais, nem mercados, por isso é que, diariamente, aparecemos por aquí a fazer as nossas compras e depois rumamos para casa”, explica Moisés. Este jovem acrescenta que para lá de S. Damanso, há gente que está em pior situação, visto que nem sequer tem acesso à energia eléctrica, “um bem essencial para o desenvolvimento de qualquer negócio”, recorda. Por ser sexta-feira, Moisés afirma que muitos jovens preparam-se para “invadir” as barracas do bairro, onde só abandonam nas primeiras horas de sábado, “São pontos de diversão que nos seus bairros não possuem, daí que preferem vir para aquí divertirem-se”, sublinha o nosso interlocutor. Para além de um posto policial, que tem como Esquadra de referência a existente no bairro de Infulene, Patrice Lumumba possue farmácias de serviço, postos sanitários (privados), estabelecimentos comerciais, postos de abastecimento de combustíveis, uma dependência bancária, e uma enorme fila de estabelecimentos comerciais que complementam o mercado municipal, ainda um armazém de produtos alimentares recentemente inaugurado. Por tudo isso, o bairro tem sido frequentemente visitado pelos residentes de outros bairros das proximidades, designadamente Bedene, Baião, Damanso, Incomane, Unidade D, entre outros. Assim, a pobreza acaba agudizando, devido à enchente de pessoas diariamente. (S. Tembe )

0 comments: