A caça furtiva de elefantes ao longo de décadas, devido à
elevada procura mundial de marfim, alterou o processo evolutivo dos animais,
originando espécimes sem presas, apontam investigadores. Segundo um estudo
publicado esta quinta-feira na revista científica Science, uma rara
mutação genética que causa o surgimento de elefantes sem marfim tornou-se comum
entre certos grupos de elefantes africanos.
“O estudo demonstra que não se trata apenas de números, mas
sim do impacto que o ser humano tem, pois estamos literalmente a alterar a
anatomia dos animais”, afirma Robert Pringle, investigador da Universidade de
Princeton, que liderou o estudo citado pelo jornal The Guardian.
“Estamos intrigados pelo facto de grande parte dos elefantes fêmeas não terem dentes de marfim […] ninguém percebia o porquê”, aponta Robert Pringle. “Ninguém tinha realmente documentado ou quantificado o fenómeno, nem identificado uma causa.”
Uma das justificações para esta situação é uma aparente
mutação genética nos genes masculinos, originando fêmeas sem marfim. Assim,
cerca de metade dos elefantes nascidos de mães sem dentes deste material,
apresentam esta alteração no código genético.
Segundo o estudo, a mutação genética poder-se-á ter tornado
mais comum durante a guerra civil moçambicana, entre 1977 e 1992, uma vez que
os elefantes eram um alvo constante dos forças armadas (de
ambos os lados), que procediam à caça furtiva destes, visando vender o marfim
e financiando assim o conflito. O estudo do departamento de ecologia e
biologia evolutiva de Princeton apontou ainda que com a procura em massa que
resultou desta guerra, “a população de elefantes africanos no Parque Nacional
da Gorongosa reduziu 90%”. Isto
contribuiu para que os elefantes que nascessem sem dentes de marfim não fossem
abatidos, originando uma população geneticamente alterada bastante mais
elevada. O investigador de
Princeton espera que com a diminuição da caça furtiva esta tendência se
reverta: “Prevemos que este síndrome diminua em frequência na nossa amostra
populacional, desde que os mecanismos de conservação da espécie se mantenham”.
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