segunda-feira, outubro 25, 2021

Elefantes sem presas

 

A caça furtiva de elefantes ao longo de décadas, devido à elevada procura mundial de marfim, alterou o processo evolutivo dos animais, originando espécimes sem presas, apontam investigadores. Segundo um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica Science, uma rara mutação genética que causa o surgimento de elefantes sem marfim tornou-se comum entre certos grupos de elefantes africanos.

“O estudo demonstra que não se trata apenas de números, mas sim do impacto que o ser humano tem, pois estamos literalmente a alterar a anatomia dos animais”, afirma Robert Pringle, investigador da Universidade de Princeton, que liderou o estudo citado pelo jornal The Guardian.


“Estamos intrigados pelo facto de grande parte dos elefantes fêmeas não terem dentes de marfim […] ninguém percebia o porquê”, aponta Robert Pringle. “Ninguém tinha realmente documentado ou quantificado o fenómeno, nem identificado uma causa.”

Uma das justificações para esta situação é uma aparente mutação genética nos genes masculinos, originando fêmeas sem marfim. Assim, cerca de metade dos elefantes nascidos de mães sem dentes deste material, apresentam esta alteração no código genético.

Segundo o estudo, a mutação genética poder-se-á ter tornado mais comum durante a guerra civil moçambicana, entre 1977 e 1992, uma vez que os elefantes eram um alvo constante dos forças armadas (de ambos os lados), que procediam à caça furtiva destes, visando vender o marfim e financiando assim o conflito.    O estudo do departamento de ecologia e biologia evolutiva de Princeton apontou ainda que com a procura em massa que resultou desta guerra, “a população de elefantes africanos no Parque Nacional da Gorongosa reduziu 90%”.  Isto contribuiu para que os elefantes que nascessem sem dentes de marfim não fossem abatidos, originando uma população geneticamente alterada bastante mais elevada.   O investigador de Princeton espera que com a diminuição da caça furtiva esta tendência se reverta: “Prevemos que este síndrome diminua em frequência na nossa amostra populacional, desde que os mecanismos de conservação da espécie se mantenham”.

 

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