O réu Teófilo Nhangumele confirmou ontem (25), em sede da 6ª Secção-Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, como sendo o estratega do projecto integrado de protecção da costa moçambicana que terá culminado com os empréstimos não declarados (vulgo dívidas ocultas) que lesaram o Estado moçambicano em 2.2 bilhões de dólares norte-americanos.
No seu depoimento, o réu explicou os passos por si dados na companhia do seu “amigo de longa data” e co-réu Cipriano Mutota, bem como toda a engenharia aplicada na concepção do ambicioso projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva de Moçambique. No entanto, vinca que o seu projecto custava cerca de 350 milhões de dólares norte-americanos e não tem nada a ver com a empresa Ematum, uma das três empresas usadas para contractar nos bancos europeus Credit Suisse e VTB da Rússia empréstimos na ordem de 2.2 bilhões de usd com garantias do Estado. Disse que ficou surpreso quando ouviu, através da imprensa, falar de outros conceitos integrados na sua proposta inicial do projecto de Sistema de Monitoria e Protecção.
“Por livre iniciativa, eu e o Mutota começamos estudos para perceber como o sistema de protecção e monitoria da costa poderia servir para Moçambique. Participei do estudo e do projecto como consultor independente”, disse Nhangumele que também se orgulha por ter o domínio da língua inglesa e gestão de negócios.
De acordo com o réu, tudo começou quando ele participou de uma reunião no Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2011, a convite do co-réu Mutota, antigo oficial do SISE também delegado pelo seu superior hierárquico no SISE, o também co-réu Gregório Leão, para facilitar na comunicação em língua inglesa. Na aludida reunião, havia uma apresentação do Grupo libanês Abu Dhabi Mars, liderado por Jean Boustani, onde vários participantes não teriam percebido o conceito da proposta da empresa libanesa, tendo o réu mantido uma conversa, em privado, com os proponentes para perceber com exactidão do que se tratava. Depois de perceber a ideia da Abu Dhabi Mars, Nhangumele e Mutota iniciaram uma série de contactos com várias instituições ligadas ao mar, pesca, transportes e comunicações, entre outras, no sentido de reunir elementos para a composição de um projecto consistente. Depois desse exercício, o trabalho foi entregue ao SISE que por sua vez agendou apresentações na Presidência da República, perante o antigo Chefe do Estado, Armando Guebuza, os ex-ministros da Defesa Nacional, Filipe Nyusi (actual Presidente da República), e das Finanças, Manuel Chang (detido na Africa do Sul), entre outros membros do Governo. Do encontro saíram recomendações para enriquecimento do mesmo projecto através de contribuições de mais sectores.
Segundo o réu, perante o cenário animador do acolhimento do projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva, incitou vários contactos com a Privinvest, concretamente com Jean Boustani para apurar os equipamentos necessários para a concretização do mesmo, incluindo visitas aos estaleiros que produzem os materiais necessários.
“A primeira proposta para a protecção da costa marítima tinha um custo de 302 milhões de USD. Era preciso adquirir satélites, meios aéreos para controlo e monitoria da costa, lanchas rápidas para serem colocadas nas bases navais e fragatas para transporte de militares e equipamento bélico, e um centro de comando e controlo com sistema de radares”, disse Nhangumele, em sede do tribunal. De acordo com o reu, o projecto inicial avaliado em 302 milhões de USD viu os seus custos dispararem com a integração de outros componentes não previstos, nomeadamente mudanças de marcas das aeronaves, e reabilitação de bases aéreas e ancoradores navais destruídas durante a guerra dos 16 anos. A audição do réu Nhangumele, que iniciou ontem (25) contínua quinta-feira na Cadeia de Máxima Segurança, vulgo “BO”, onde está instalada a tenda onde funciona o tribunal.
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