quinta-feira, agosto 19, 2021

Mil colinas

Promotores de Ruanda pediram a sentença de prisão perpétua para Paul Rusesabagina, herói retratado no filme "Hotel Ruanda", de 2004. Ele é julgado por "terrorismo" em Kigali, capital do país africano, em um processo que sua defesa avalia como político.

 Rusesabagina é ex-gerente do Hotel das Mil Colinas, em Kigali e foi importante no contexto do genocídio em Ruanda em 1994, quando salvou mais de mil pessoas, dentro do hotel. A crise humanitária, que levou à morte de 800 mil pessoas, principalmente da etnia tútsi, foi retratada em 2004 no filme "Hotel Ruanda", momento em que o ex-gerente ficou conhecido internacionalmente, pela actuação de Don Cheadle.  Crítico ferrenho do governo do presidente Paul Kagame, tútsi que comanda o país desde 2000, Paul Rusesabagina recebeu nove acusações, incluindo terrorismo, por suposta associação com a Frente de Libertação Nacional (FLN), grupo rebelde acusado de ter organizado e executado centenas de ataques a Ruanda nos últimos anos. Ele está sendo julgado junto a outros 20 réus.

— Demonstramos que cada ato de Rusesabagina era de natureza criminal, com a intenção de cometer atos de terrorismo —, declarou um dos promotores, Jean Pierre Habarurema. — Como dirigente, apoiador e partidário da MRCD/FLN, estimulou e permitiu aos combatentes que cometessem os atos terroristas contra Ruanda.

O promotor reforça que, apesar do ex-gerente não ter ligação ativa com os atentados, os promotores acreditam que ele teve um papel nos ataques apenas por ter prestado apoio aos combatentes. A defesa e a família de Rusesabagina consideram que "o governo de Ruanda não apresentou nenhuma prova" durante os quatro meses de processo e classificaram o julgamento de "farsa" para "calar" Tusesabagina, segundo um comunicado divulgado pela Fundação Hotel Ruanda. O documento ainda avalia o julgamento como político e acusa o governo ruandês de sequestrar o acusado.

Paul Rusesabagina vivia no exílio desde 1996, nos Estados Unidos e na Bélgica, e foi detido em Ruanda no fim de agosto de 2020 em circustâncias particulares, ao desembarcar de um avião que pensava que seguia para o Burundi, país ao sul de Ruanda. "Formámos a FLN (Frente Nacional de Libertação) como uma ala armada, não como um grupo terrorista, como a acusação continua a afirmar. Não nego que a FLN tenha cometido crimes, mas o meu papel foi a diplomacia", disse Rusesabagina ao tribunal, citado pelo jornal "The Daily Telegraph". O acusado tinha pedido fiança por estar doente e prometeu não fugir, embora o juiz tenha assegurado que a prisão não o impedia de receber tratamento médico.

Paul Rusesabagina, 66 anos, é um forte crítico do Presidente ruandês, Paul Kagamé.

 

NA fOTO - Milhares de pessoas tentaram de se refugiar nas igrejas aonde iam rezar todos os domingos. Só no templo de Ntarama, 5.000 pessoas foram aniquiladas na manhã de 11 de abril de 1996 , uma segunda-feira. Esta foto mostra o resultado daquele massacre.

O Ministério Público acusa-o, entre outros, de ter dado dinheiro às milícias das Forças de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD), o partido que lidera. A FLN tem sido responsável por ataques no Ruanda desde 2018. No filme "Hotel Ruanda", Paulo Rusesabagina é apresentado como um hutu casado com uma mulher tutsi que salvou mais de 1.200 pessoas em 1994 no Hotel des Mille Collines, em Kigali, do qual foi o diretor, usando a sua influência junto das milícias hutu.Cerca de 8.000 tutsis e hutus moderados foram mortos diariamente entre abril e junho de 1994 no Ruanda por membros da etnia hutu.

 

 

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