A
instituição do Estado que se tem destacado por fazer cumprir a lei
independentemente dos infractores envolvidos (INAE) pretende juntar à
fiscalização da higiene, sanidade, qualidade, prazos dos produtos e especulação
dos preços o cumprimento de outros sete decretos que regem a actividade
económica no nosso país. Um deles é o Decreto 38/2016 de 31 de Agosto que
aprova o código da publicidade e proíbe os anúncios que usem actos
depreciativos e ofensivos às instituições; quem contenham imagens que atentem
contra a dignidade da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais; que
envolvam menores sem ter em conta as mensagens publicitárias; que use imagens,
vozes, ideias alheias sem autorização; que veicule mensagens publicitárias de
bebidas alcoólicas na televisão e rádio antes das 20 horas; e que induza o
consumidor ao erro, ou mesmo, que possa prejudicar o seu concorrente directo.
Questionado
particularmente sobre a fiscalização à publicidade enganosa, o presidente da
direcção da Associação Moçambicana de Empresas de Marketing, Publicidade e
Relações Públicas, Mário Ferro,
explicou que “é função e competência do Inspecção Nacional das Actividades
Económicas zelar pela implementação correcta do Código de Publicidade”.
“Na
qualidade de Presidente da Direcção da AMEP, defendo que o Código de
Publicidade tem de ser aplicado num todo e não a retalhos. Toda e qualquer
violação ao Código de Publicidade tem de ser devidamente sustentada por provas
concretas e objectivas, devendo ser apuradas as respectivas responsabilidades”,
explicou.
O
director criativo da maior e mais antiga agência de publicidade de Moçambique, Thiago Fonseca, julga que o código de
publicidade e a sua regulação vai passar por muitas fases. “Esta fase inicial
em que vai enfrentar muitos desafios, por causa da imaturidade e da
subjectividade das coisas. O que é que é publicidade enganosa? É claro e
evidente que se um daqueles doutores que curam tudo põe um poster, bem feito ou
mal feito é um anuncio, agora é publicidade enganosa, agora não sei como se
chega a tal regulação”.
“O que
nós estamos a fazer, até abrimos a Fundação Local por causa do altruísmo
relacionado com a importância da comunicação dado o impacto na vida das
pessoas, e tendo eu uma mulher diabética do tipo 1 e uma filha também
diabética, custa-me que não pode beber
coca-cola. Custa-me dizer que a coca-cola não está a fazer publicidade
enganosa”, afirma o mais premiado publicitário moçambicano. Fonseca partilha os
seus receios em relação a “uma bebida que eu gostava de beber mas tem não sei
quanto açúcar e depois lançam a coca-cola zero, a nova moda na Europa e nos
Estados Unidos com uma lata vermelha por causa da sensibilidade em relação ao
açúcar e aos diabetes, o problema é que tem aquele químico que substitui o
açúcar e que faz cancro. Agora será que Moçambique está no estágio de se chegar
e proibir?”.
O
director criativo da Golo chama atenção que embora “(...) nos maços está
escrito o cigarro mata mas as pessoas continuam a fumar. Portanto há uma grande
subjectividade que a mim mete-me algum receio que a lei possa ser mal
interpretada, afinal sempre se pode dar a volta a lei usando a ela própria. Eu
tenho um bocado de medo que num mercado publicitário como o nosso que se comece
a pegar nisso, é claro que o objectivo é nobre e estamos todos de acordo com
isso”.
Thiago
Fonseca, que é também CEO Grupo LOCAL, alerta para o facto do código de
publicidade ter sido elaborado à medida dos medias tradicionais quando grande
parte dos moçambicanos é exposto a publicidade através de novos meios de
comunicação.
“Eu
acho que o código de publicidade é um codigossauro jurássico porque enquanto
foi feito a pensar na publicidade tradicional as redes sociais quem vai
controlar, hoje em dia temos 2 milhões de moçambicanos no facebook, temos mais
da 10 milhões de celulares aí fora, temos projectos de electrificação rural com
painéis solar onde os telemóveis vão chegar, temos um censo de 2017 que mostrou
que a nossa população está perto dos 30 milhões e tens 70 por cento da
população entre os 18 e 30 e poucos anos, essa gente já não está a ver
televisão”, constata.
O
publicitário nota ainda que “aquele coisa do pai ter o remote controlo da
televisão já não existe. A maior parte dos jovens já não fica as 20 horas a ver
o telejornal. Isso não acontece apenas entre a classe média e média alta, é
extensivo aos que têm menos posses”.
“E a
publicidade que se chama produto placement, invisível que passa nos programas
de televisão, quem é que vai controlar, como é que se consegue controlar.
Estamos a falar de controlar a publicidade clássica? Eu acho que o código (de
publicidade) não está preparado para esta idade, porque Moçambique tem esta
capacidade de saltar épocas. Por exemplo na Europa ainda há gente que usa telefone
fixo mas Moçambique não teve tempo sequer de ter a televisão a preto e branco.
Estamos a saltar eras e vamos saltar mais e que tem a missão de controlar está
muito atrás. Eu acho que a abrangência e o alcance das redes sociais é muito
mais perigosa por causa da fonte. Quem é que posta? O anuncio é feito agora,
até com um smartphone, e colocado no youtube como se controla?”, alerta
Fonseca.
No
entanto o nosso entrevistado reconhece “que é muito importante haver código de
publicidade só que gostaria de apelar que fosse usado de uma forma tendo em
conta o avanço dos meios de comunicação que estão a mudar muito rapidamente”.
Relativamente
a proibição do uso de símbolos e personagens históricas Thiago Fonseca tem
dúvidas de como se vai por em prática, “quem vai julgar se esse anúncio ou
símbolo nacional não pode ser usado. Mesmo na África do Sul quando houve a
mudança de regime ou em Portugal quando ganhou o Europeu (de futebol) e
usaram-se os símbolos nacionais com tanto orgulho e aquilo levantou a
auto-estima, foi uma coisa boa ou má para o país?”
“Agora
não se podem usar os símbolos nacionais porquê? Então a lei teria que ser uma
enciclopédia com um manual. Eu apelo ao Estado para que perceba que nós estamos
num estágio ainda muito inicial de tudo isto, para não acontecerem inibições de
coisas que possam ser boas e benéficas”, sugere o experiente publicitário
moçambicano.
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