O ex-chefe de Estado angolano reconheceu esta
semana, durante uma reunião da cúpula do MPLA, que poderá abandonar a
presidência do partido, cargo que tinha prometido abandonar antes do fim deste
ano. A declaração de que poderá fazê-lo em breve foi feita depois de Roberto de
Almeida, um dos subscritores de um abaixo assinado contra a sua permanência à
frente do MPLA, ter exigido o fim imediato da bicefalia política: João Lourenço
é o Presidente da República e Eduardo dos Santos o líder do partido que governa
o país - e que até recentemente era automaticamente o chefe do Estado. “Se
quiserem que eu saia, eu saio já!” – disse, visivelmente incomodado, o líder do
MPLA, em reação à corrente de vozes que, no seio do partido, pretendem vê-lo
afastado da vida política.
Os factos de maior destaque da ultima Reunião
do Bureau Politico do MPLA ocorrida na
ultima segunda-feira,12 de Março de 2018.
Ora, na
sequência da apresentação dos temas propostos para a reunião pelo Presidente do
partido, o Eng. José Eduardo dos Santos, e após as primeiras intervenções, eis
que Rui Falcão pede um ponto de ordem.
Tendo num
tom de elevada fúria e valentia contra JES dito o seguinte:
"Me
fizeram sair da minha província, abandonando tarefas imediatas, para discutir
isso?! Não é isso que temos que discutir, Cda. Presidente, nós temos que
discutir aqui sobre a bicefalia. Então lá fora toda a gente fala da bicefalia e
nós aqui não falamos dela?! O Camarada Presidente tem que dizer quando é
que vai deixar a presidência do partido ao Camarada João Lourenço!".
Na ressaca da intervenção de Rui Falcão,
seguiu-se outro pedido de intervenção tendo a testa Dino Matross que tomando da
palavra disse o seguinte :
"Concordo plenamente com o Camarada Rui
Falcão! O Camarada Presidente Eduardo dos Santos tem que nos dizer quando é que
vai sair da liderança do partido, já está na hora da marcação do Congresso
Extraordinário!"
Um outro dinossauro do partido
não se fez rogado, Roberto de Almeida em jeito de machadada final disse que
"Em vez de voltarmos aqui na sexta-feira para falar de assuntos sem
importância, temos de vir aqui para o Cda. Presidente marcar a data do
Congresso que decidirá sobre a sua saída!".
Diante de um ambiente de
pressao, José Eduardo dos Santos reagiu:
"Meus camaradas temos que
agir com muita calma no tratamento desse assunto... Desde já, quero dizer ao camarada
Roberto de Almeida que não esperava isso de si... No entanto, não poderei estar
presente na reunião de sexta-feira e delegarei poderes para o Secretário Geral
do partido presidir a referida reunião..."
Na mesma senda dos demais camaradas que lhe
antecederam, desta vez quem não deixou JES terminar de falar foi o próprio Presidente
da República , João Lourenço:
"Porquê o Secretário Geral, se eu estou
aqui e na hierarquia do partido o Vice-presidente está acima do
SG?!"
JES se explica: "Há um
entendimento no partido de que o Cda. JL, enquanto PR, tem muitas preocupações
a nível do Estado e preferimos liberta-lo das tarefas
partidárias..."
Em seguida, ergueu-se um alvoroço na sala e em
coro Dino Matross e Roberto de Almeida se fizeram ouvir "Camarada
Presidente Dos Santos, a justificação levantada pelo Senhor não passa de um
falso problema, dado que no seu tempo, enquanto Presidente do País sempre foi
assim! Entregue portanto a presidência do partido ao Camarada João Lourenço. Pelos
vistos o Camarada Presidente quer manter a qualquer custo a indefinição por
muito tempo".
De seguida, João Lourenço diz num
tom extremamente autoritário diz:
"Está decidido, na quinta-feira estaremos
aqui e vou presidir a reunião para definir a data do Congresso
Extraordinário".
Com estas palavras, e sob aplausos e muitas
manifestações de alívio, terminava a reunião. Dizem os presentes que o
ex-presidente Jose Eduardo dos Santos só não teve um treco porque enfim...
Pelos factos acima, a ver vamos qual será o
desfecho da próxima Reunião do Núcleo Duro do MPLA.
Em
certos meios receia-se que este ambiente possa vir a levar o antigo Presidente
a condicionar o abandono definitivo da liderança do MPLA a uma solução
negociada que coloque os filhos a salvo de qualquer decisão judicial.
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