A miséria extrema faz com que a prostituição
masculina de menores comece a ganhar cada vez mais aderentes, principalmente na
zona de Maputo. Um adolescente que diariamente se prostitua chega a arrecadar
mensalmente 1300 USD, números que nem nos melhores sonhos algum dia terão
imaginado ganhar. Os clientes, esses, são maioritariamente estrangeiros e com
idade para, em muitos casos, ser seus avôs.
Todas as tardes, Darito, menino de 15 anos há
5 anos órfão de mãe, apanha o “chapa” em Mapswansene, Matola, onde mora com o
pai, rumo à cidade de Maputo. Antes, toma banho e veste roupas de marca. Até
amanhecer, a sua casa será uma das discotecas renomadas de Maputo, onde presta
os seus serviços vendendo o corpo a homossexuais. A pressão exercida pelo pai
para arranjar dinheiro, faz com que esta triste realidade, vivida por Dário e
por muitos outros, seja tolerada por muitas famílias miseráveis, para as quais
os 2,5 meticais de um pão faz a diferença entre a sobrevivência muito precária
e a fome absoluta. Darito é nome fi ctício atrás do qual se esconde um jovem
adolescente e a sua verdadeira história. A vida deste rapaz, que desde o mês
passado já exibe notas de dólares no bolso, nas últimas semanas tem sido ir a
discotecas renomadas do Maputo à procura de encontros. Não é o único a fazê-lo
por aqui, mas é o que nos últimos dias mais tem dado nas vistas. Conversas
sobre ele enchem os ouvidos dos moradores do Bairro Central “B”, onde faz
escala técnica, ante a complicidade e a conivência de quase todos. Todos
comentam, apontam, acusam e, se possível, molham na “sopa” também. Às vezes,
quando o prejuízo não lhes cai em cima, até acham graça e riem-se dele.
Vítimas da ilusão e cumplicidade.
Apertados pelo custo de vida e sem
perspectivas por falta de vagas nas escolas públicas, quem tem em casa alguém
como Darito tem ganha-pão garantido. Os seus fi lhos relacionam- se com adultos
homossexuais que não se importam de pagar entre 150 a 200 dólares por uma
sessão anal. Adolescente que até há bem pouco tempo pertencia ao vasto e
indiferenciado mundo das crianças, Dário tem hoje voz activa em casa, na rua,
no bar. “Sei muito bem o que quero: transar, sair com os amigos e consumir como
os ‘kotas”.
A história de Darito e da sua ingenuidade
perante uma vida, rodeada de mil ratoeiras como a SIDA, não pode deixar-nos
indiferentes, sobretudo quando este revela que “eles [os gays] exigem que lhes
penetremos no ânus sem preservativo.” Esta frase é pronunciada sem receio do
grupo que está à sua volta porque “estão todos a beber à minha conta.” Os
proprietários deste tipo de locais sabem que ele e seus companheiros não têm 18
anos, a idade mínima de entrada nestes espaços. Nem tampouco querem saber onde
arranjam tanto dinheiro para gastar ali horas a fio.
Agarrado ao telemóvel que o “novo pai” lhe
comprou depois do penúltimo “namoro”, o novo gay de palmo e meio lê os “sms”
enviados pelos clientes e amiguinhos cúmplices. Talvez seja por isso que duas
das suas três irmãs não querem saber dos perigos que Darito corre ao enveredar
pela prostituição masculina. Porém, a irmã mais velha, casada, estudante
universitária e operária numa firma, caiu de costas quando soube que seu
irmãozinho abraçou o caminho errado em todos os sentidos. A mana mais velha
tenta dissuadi-lo com promessas do género “para o ano pago-te a escola, mas
para tal tens de deixar isso.” Todavia, tudo em vão. O “menino” que virou
garoto-programa já adquiriru um alto poder de compra, recusando-se a recuar para
a condição de extrema carência.
Nunca nos seus 15 anos de vida teve tanto
dinheiro nas mãos e tamanha autonomia para decidir o que fazer com ele. Com ele
compra roupas, cosméticos, perfumes. Também organiza festas de danças em
horário avançado: começam por volta das 21 horas, e podem ir até às 5 horas.
Nesse submundo, Darito odeia a presença de quem procura avisá-lo sobre os
perigos que corre.
Tudo começou quando, numa sexta-feira de
Novembro, indeciso e sem dinheiro para apanhar um táxi para Mapswanswene
decidiu continuar a curtir, pernoitando numa das discotecas mais badaladas da
capital. A pouca idade e a pele clara, provocaram a cobiça dos homossexuais em
fim de noite.Nesta altura é difícil parar os desejos sexuais de quem está
determinado a ter uma relação nessa noite. “Pagam qualquer coisa para
satisfazer os seus desejos.” Poucos dias antes, Darito era visto sempre com a
mesma roupa a mendigar comida e bebida. Hoje, este morador dos subúrbios, chega
a sair com dois a três clientes por noite. “Quando me oferecem mais faço sexo
oral ou anal sem preservativo”, esclarece, acrescentanto “nós temos sempre
camisinha mas os “papás” não gostam de usar e nós ganhamos um extra de 50 ou
100 USD. No máximo pode render 200 USD.” Conformo pudemos perscrutar da boca de
adolescentes entre os 14 e 16 anos, o fenómeno encontra-se em franca expansão.
Para eles, o local preferido para o “ataque” são as discotecas renomadas da
Polana, Sommerschield, Baixa. Aqui há tudo o que precisam: homossexuais com
muito dinheiro para pagar as cópulas anais, bebida, som e luz.
O sinal vermelho, porém, pisca quando, para
serem felizes, estes adolescentes necessitam cada vez mais de novas roupas de
marca, telemóveis topo de gama, computadores, enfim, a bolsa da moda. O perigo
de se formar uma geração movida para armadilhado mundo gay apenas pelo desejo
monetário, pois não têm orientação biológica mas sim monetária, incapaz de
encarar uma vontade não realizada.
“Como estão adquirindo poder de compra antes
da hora, alguns podem transformar-se, na fase adulta, em perigosos tiranos,
assim que se tornarem menos atraentes “, alerta o sociólogo Shareef Malundah.
Para este académico a responsabilidade não pode ser assacada exclusivamente à
família nem ao Estado. “O adolescente tem de ter consciência que é vítima de
forma a criar uma perspectiva de mudança”, conclui Malundah. (@Verdade)
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