A sociedade moderna assemelha-se ao comboio que
descarrilou, todavia continua em andamento. José Vilema, investigador da Universidade de Évora
“Tenho saudades dos tempos em que a educação ainda
não sofria de anemia científica”, eis a resposta do meu amigo Nkulu quando o abordei sobre o tema em
epígrafe. De facto, a nossa educação está a atravessar o pior momento da sua
história com a escassez de qualidade. E já não constituiu novidade para ninguém
(cautos) que o pelouro da Educação tem responsabilidades nisso. Trabalha-se
mais pela estatística em detrimento da qualidade do ensino.
Quando os alicerces não são bem implantados,
através de um investimento maciço no ensino primário, no superior os estudantes
pervertem o processo de ensino e aprendizagem e anula todo os resultados
desejados de qualidade. Há necessidade de se fazer um investimento sério, não
apenas no capital humano, mas também em infraestruras e equipamentos. A técnica
exige laboratórios modernos e em qualquer parte do mundo são caros de se
adquirir. Mas vale a pena, se quisermos formar com qualidade. Eu ia jurar que,
se parássemos de politizar o ensino e apostássemos mais em reformas estruturais
que garantem uma educação com qualidade, hoje estaríamos numa posição respeitada
nos rankings mundiais. Se assim fosse, insisto, o país não
dependeria do carvão e do gás (que são recursos esgotáveis) para se
desenvolver.
A qualidade do ensino fala todas as línguas e esta
seria o carimbo para que os nossos diplomados facilmente fossem escoados no
mercado de emprego. Só o pelouro da educação é que não vem esta aberração (ou
não quer ver). Os nossos alunos não produzem o que aprendem (a transformação do
conhecimento em matéria-prima). Não são capazes de pensar e criticar pela própria
cabeça. São repetidores. Estamos a formar “papagaios.” Não se admire, caro
leitor, que hoje na política haja tantos desses tipos, malandros e medíocres!
Não me causou admiração o facto de quase metade dos
graduados em medicina tenham reprovado no exame de certificação médica,
simplesmente porque reimprimiram a imagem que o país tem nestes sectores (digo
bem: educação e saúde). A mim o que me preocupa não são os anos que um
licenciado em medicina leva na faculdade, mas sim como é que foi o seu processo
de formação (o processo de ensino e aprendizagem). Questões têm de ser feitas
para responder algumas hipóteses, como por exemplo, a qualidade das
infraestruturas, o acesso aos laboratórios e aos materiais didácticos, a
seriação do corpo docente para expurgar os chamados professores turbos, etc.
Mas ainda, o mais importante, é apurar o espírito (a vocação) dos estudante que
é a base para se ter um bom médico.
Os estudantes devem estudar a medicina porque
gostam e devem fazê-lo de corpo e alma, não para satisfazer os caprichos de
quem patrocina os estudos. Porque a medicina hoje virou uma actividade
comercial e não humanitária no verdadeiro sentido da palavra, muitos desses
estudantes apenas fazem a medicina para agradar os seus financiadores sem no
entanto construir o compromisso com a profissão que pretendem abraçam.
Note-se que, não foi a Ordem dos Médicos quem os
reprovou. Esta, a Ordem, apenas chancelou os resultados obtidos pelos visados
no teste de certificação. Se a Ordem os tivesse admitido e os mesmos – no
exercício da profissão - matassem vidas nas unidades sanitárias do país, de
quem seria a culpa? Não preciso fazer um exame profundo de consciência para
saber que a responsabilidades, pelo menos em peso de 80%, seria atribuída à
Ordem. E os prejuízos também. Cabe a Ordem, como uma espécie de funil, amputar,
literalmente, a mediocridade que reinava e acredito que ainda reina na
medicina. Esta atitude da Ordem não deve criar espalhafato, antes acarinhado
pelos reitores de todas as universidades e pela população em geral. Fiquei
indignado quando vi um reitor atacar a Ordem. Até certo ponto compreendi que
aquele reitor agia em defesa do seu rebanho, mas do ponto de vista académico,
esteve mal na fotografia, porque parecia vestir a pele de um paternalista da mediocridade.
A constatação deste fato não deve, porém, reduzir os esforços e conquistas do
aludido reitor em prol do desenvolvimento da educação. Mas…
Quem anda pelos nossos hospitais sabe que alguns
médicos deixam muito a desejar. Certo dia o meu filho mais novo passou mal e
ouvido a opinião de um amigo médico dirigi-me a uma unidade sanitária do país
para a certificação do diagnóstico e efectivo tratamento. Chegado ao hospital a
primeira coisa que percebi daquela médica foi a insegurança com quem me transmitira
ao atender o meu filho. Coitado do miúdo, mal perceberá que seria mais uma
vítima da incompetência médica. Uma “simples” artrite, mas por
causa das deficiências de formação médica, recomendara que se fizesse mais de
10 exames. A ideia era, no meu entender, o exame que desse errado (alguma
anomalia) seria, então, essa a causa do mal-estar da criança. Ou seja, entrou
com suspeitas de uma doença de trato ligeiro e saiu com várias lesões corporais
graves causadas, neste caso, pelas impiedosas seringas que daquela mão médica
picara à procura de veias. Soube mais tarde que aquela médica havia sido uma
das mais fracas durante a sua formação. Levei o caso à direcção daquele
hospital, nunca mais tive resposta alguma...Alegra-me, porém, que a Ordem dos Médicos tenha-se
apercebido destas deficiências e decida primar pela qualidade e competência.
Seja louvada a Ordem dos Médicos. (Por Viriato C. Dias)
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