sexta-feira, março 18, 2016

Direita ataca a Esquerda

As manifestações pró-impeachment da presidenta Dilma Rousseff e que também pediram intervenção militar no último domingo (13) impõem a necessidade de união da esquerda e alertam para os perigos do descrédito na política, segundo especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato.Para o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em São Paulo, Gilmar Mauro, as manifestações nacionais convocadas pela Frente Brasil Popular (FBP) para os dias 18 e 31 de março são uma oportunidade de dar um recado, seja para o governo ou para a direita: "se colocarmos 200 mil pessoas nas ruas, serão 200 mil pessoas com projeto, ideologia e um rumo a seguir".

Formalizada em 2015, a Frente reúne entidades sindicais, movimentos populares do campo e da cidade, organizações de juventude e integrantes de partidos de esquerda - como MST, CUT e UNE."Não é hora de se esconder, mas de ir às ruas com muita determinação para evitar que precisamente estes setores de direita ganhem força no Brasil", acrescenta.
Os protestos de domingo colocaram 500 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), cujo perfil socioeconômico é elitizado, apontou o Datafolha. Para a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a grande parcela da população, a das periferias, não foi às ruas, porém, está descontente com o governo atual. Na sua visão, o que separa estes manifestantes dos protestos da Avenida Paulista não é somente uma questão geográfica, mas também uma distância simbólica."Se eu sou de periferia, não me sinto representado por este tipo de manifestante. Imagina ir a uma manifestação onde o povo tira ‘selfie’ com a Polícia Militar? Ou onde ele vai encontrar todo mundo igual ao patrão dele?", questiona a professora.
Assim como Mauro, ela se mostra cética quanto ao poder de engajamento da parcela da população que não aderiu, ainda, nenhum lado. Para Esther, muito se deve ao desprestígio do Partido dos Trabalhadores (PT), com uma agenda que propôs pautas como a Reforma da Previdência ou o ajuste fiscal. "É como se a perda de capital político do PT deixasse toda uma esquerda órfã", diz.
Não à política
O descrédito na política também foi apontado pela professora de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Maria Aparecida Aquino, como algo negativo e arriscado ao país. "Na realidade, a população passa a identificar a política como algo que não serve a ela e isso é o pior dos mundos porque isso não nos leva a nada. Se não há mais política, qual a solução?", indagou.Entre os destaques dos protestos estão as vaias ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao senador Aécio Neves, ambos do PSDB. "Isso representa que esse público não vê saída política ou na política. Está a um passo de apoiar qualquer coisa, inclusive, um golpe militar", frisa o dirigente do MST.

Se alguns políticos foram vaiados, outros fizeram discursos em carros de som ao lado do Movimento Brasil Livre (MBL), lembra a socióloga Solano. Ela também vê no descrédito com a política uma chance para o fortalecimento de figuras como o deputado Jair Bolsonaro, ou do próprio MBL, pois eles surgem com discursos considerados "novos" em contraposição a uma política que a maioria vê como "suja"."Ele [Bolsonaro] é um palhaço, literalmente, mas sabe mobilizar um descontentamento. O perigo é esse: como ninguém acredita na política institucional, pode aparecer um cara desses, que tem um discurso polêmico, e sair como vencedor deste jogo", diz.Na opinião do dirigente do MST, além de se contrapor às manifestações do último domingo, as ações dos dias 18 e 31 devem pressionar a presidenta Dilma Rousseff para mudanças na política econômica. "Não tem outra alternativa: ou o governo muda a política econômica ou não tem sustentação", afirma Mauro.Ele relembra a paralisação de políticas públicas como o Minha Casa Minha Vida 3 ou as desapropriações de terras para a reforma agrária, ambas pautas, respectivamente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e MST."Talvez esse seja o pior momento para ser dirigente de um movimento social ou sindical: nem nossas mobilizações são atendidas. Na verdade, ocorre o contrário: estamos perdendo direitos! Mas, ao mesmo tempo, existe a iminência da direita assumir a presidência da República - e não é qualquer direita, mas que dá para comparar com setores de extremistas", apontou.(BRASIL DE FACTO)

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