O chefe de
mobilização e propaganda da Renamo ao nível da província de Sofala, Horácio
Calavete, disse esta segunda-feira, em conferência de imprensa por si concedida
na cidade da Beira, que, em reacção aos raptos e posterior assassinato de que
estão a ser alvo os delegados do maior partido da oposição a nível de base, em
vários pontos das províncias da região centro do país (Sofala, Manica, Tete e
Zambézia), a formação política de que ele é membro iria montar postos de
controlo nalgumas estradas por aquela região, para que todos os carros
suspeitos de transportar os que perpetram tais actos criminosos possam ser
revistados.
O problemático anúncio feito ao princípio desta semana acontece num contexto em
que já se estão a tornar infelizmente frequentes situações de raptos,
baleamentos e, quase sempre, assassinatos de dirigentes de base da Renamo e da
Frelimo, não havendo, quase em absoluto, dúvidas de que aquelas acções têm como
mote a intolerância política entre os dois principais partidos políticos, não
se sabendo se com o aval ou não das suas lideranças de alto nível. A Renamo,
como resultado dos pontos não devidamente geridos no Acordo Geral de Paz (AGP),
assinado a 4 de Outubro de 1992, em Roma, ainda mantém guarda armada, não se
sabendo em concreto quantos homens e mulheres; a Frelimo, acredita-se, não é um
partido armado, mas, estando no Governo, num contexto em que as Forças de
Defesa e Segurança (FDS) parecem politicamente independentes apenas em termos
teóricos, pode ter controlo mais do que razoável sobre os gendarmes e/ou
militares.
Apesar de o contexto aparentar ser mais desfavorável à Renamo, com o que, até
prova em contrário, parece ser o partido que está a ver maior número de
elementos seus a serem raptados e executados, achamos ser absolutamente
desnecessário o extremismo em que o partido liderado por Afonso Dhlakama se
está a envolver, manifestado, de resto, por irresponsáveis declarações como as
proferidas pelo chefe de mobilização e propaganda daquele partido em Sofala.
Não estamos, de jeito nenhum, a dizer que a liderança da Renamo deveria ficar
indiferente ao que se está a passar, num quadro em que tanto o seu presidente
como o secretário-geral – Afonso Dhlakama e Manuel Bissopo, respectivamente –
já foram, eles próprios, alvos de atentados às suas vidas. Mas afigura-se-nos
absolutamente kamikaziano optar por vias de clara e cristalina
irresponsabilidade, supostamente em resposta às situações tais.
Apesar do que a Renamo habitualmente refere serem as entidades estaduais
responsáveis pela investigação de situação daquela índole, pensamos que, até
como forma de reunir elementos para consubstanciar alegações tais, o maior
partido da oposição deveria cuidar de exigir das autoridades o esclarecimento
daqueles tristes casos. Aliás, antes disso deveria solicitar o controlo da
situação, o que passaria, naturalmente, pelo reforço das medidas de segurança
e/ou de policiamento.
Por outro lado, uma denúncia pública, firme e veemente do que está a suceder,
expondo factual e compreensivelmente todos os elementos à sua disposição,
concorreria para que, muito facilmente, a Renamo colhesse apoio de influentes
segmentos domésticos e internacionais. Quanto a este último domínio, cremos que
solicitar a intervenção dalgumas representações diplomáticas jogaria a favor da
Renamo, diferentemente da opção por vias que, pela sua gravidade, colocam em
causa todos os alicerces do Estado moçambicano. Não se exclui, nisso, as
próprias instâncias internacionais responsáveis pela salvaguarda dos direitos
humanos, no quadro do que se destaca a protecção da vida, o mais importante bem
jurídico.
Sendo questionado pelos cidadãos o facto de, amiúde, agentes da Polícia de
Protecção se envolverem em acções normalmente sob a alçada dos seus colegas da
Polícia de Trânsito, não se esperaria apoio popular nessa empreitada que a
Renamo diz pretender abraçar, designadamente a instalações de postos de
controlo de viaturas. Com que base a guarda armada da Renamo há-de mandar parar
viaturas, solicitar documentos aos ocupantes das mesmas e efectuar vasculhas?
Até as próprias forças policiais são, em situações ordinárias, proibidas de
fazer isso, em homenagem à liberdade de circulação e/ou movimento, que é, em
Moçambique, um direito fundamental!
Na verdade, é expectável que, caso a Renamo avance com o que foi esta
segunda-feira anunciado na Beira, as FDS respondam de forma violenta, com o que
mais sangue será derramado. Sobretudo agora que estamos a menos de 20 dias do
prazo avançado pelo líder da Renamo, em várias teleconferências e entrevistas,
para o “início da governação”, pelo maior partido da oposição, nas províncias
em que ele e/ou o seu líder reivindicam ter ganho.
O que está a acontecer, reireramos, é extremamente grave. Contudo, pensar que o
estabelecimento de postos de controlo, não se sabendo com que suporte
jurídico-legal, se algum, pode resolver o que se está a verificar, é uma
atitude lamentável. É, há que sublinhar, tempo de a Renamo se compatibilizar
com as suas responsabilidades estatuais, sobretudo no actual contexto de paz
podre, no qual até encontros que deveriam ser a coisa mais comum e que nem
deveriam ser elevados ao estatuto de notícia, senão mera informação (reuniões
regulares entre o Presidente da República e o segundo candidato mais votado),
são das coisas cada vez mais raras.
O extremismo da Renamo, porque inútil, como o é quase sempre o extremismo, a
ninguém beneficiará, incluindo à própria Renamo! (Ericinio de Salema)(Ericinio de Salema)
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