Um
relatório sobre os “Negócios fundiários de Moçambique”, publicado esta semana
pela União Nacional dos Camponeses em parceria com a GRAIN, denuncia o que
apelidou de “usurpadores de terras do Corredor de Nacala”.O
relatório refere que, apesar de os camponeses no Norte de Moçambique estarem a
lutar para manter as suas terras, os Governos de outros países e as empresas
estrangeiras em conluio com o Governo do partido Frelimo, continuam a avançar
agressivamente para criar projectos de agro-negócio em larga escala.Segundo
o relatório, para vigarizar os camponeses, é-lhes dito que estes projectos vão
trazer-lhes benefícios, embora, até agora, a experiência do país com o
investimento estrangeiro na agricultura tenha sido catastrófica.O
relatório expõe as empresas que já estão em fase de lançamento de operações de
agro-negócio no Corredor de Nacala, uma área à qual o Governo moçambicano
atribuíu prioridade para o desenvolvimento desse negócio.Segundo
o documento, estas empresas que têm estado a apropriar-se de terras e a
“extrair riquezas de formas que lembram a época colonial do país”, regra geral
foram criadas através de paraísos fiscais e, muitas vezes, ligadas aos
dirigentes políticos moçambicanos.
“O
Governo de Moçambique tem descaradamente procurado atrair esta onda de
investimento agrícola estrangeiro, particularmente para o Corredor de Nacala,
no Norte do país”, diz o documento.O
Governo é apontado como estando a trabalhar em parceria com Governos de outros
países e doadores internacionais, sobretudo o Japão e o Brasil, num programa de
grande escala conhecido como ProSavana, que visa transformar cerca de 14
milhões de hectares de terras – que são actualmente cultivadas pelos camponeses
que abastecem os mercados locais da região do corredor de Nacala – em grandes
explorações agrícolas dirigidas por empresas estrangeiras para produzirem
mercadorias agrícolas baratas para exportação.A
União Nacional dos Camponeses de Moçambique (UNAC) está a realizar uma campanha
de consciencialização sobre a situação no Corredor de Nacala e de oposição ao
ProSavana, mas existe também uma forte oposição nacional e internacional que
ajudou a refrear o projecto e a inviabilizar alguns dos seus componentes mais
agressivos no que diz respeito à usurpação de terras.
No
entanto, isto não significa que o Governo e as empresas estrangeiras desistiram
de assumir o controlo das terras e dos recursos hídricos do Corredor de Nacala
para o agro-negócio em larga escala. Em Janeiro de 2014, funcionários
superiores do Governo e empresários reuniram-se para a apresentação de um novo
projecto de desenvolvimento na Bacia do Rio Lúrio. A iniciativa envolve um
projecto agrícola enorme ao longo do rio Lúrio, na divisão entre as províncias
de Niassa, Nampula e Cabo Delgado. O relatório aponta os principais grupos que
pilharam terras dos camponeses naquela região. São eles: o Mozaco, o Grupo
Espírito Santo, a Agro Alfa, a Família Guebuza, o Moza Banco, o Banco Único, a
AgroMoz, o Corredor Agrom e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio
Lúrio. (B.Álvaro)
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