A
equipa de observação militar da cessação de hostilidades em Moçambique (ECOCHIM)
declarou-se esta segunda-feira(2) incapaz de verificar a acusação da Renamo,
principal partido de oposição moçambicano, de violação do acordo de paz pelo
governo.Um
relatório da equipa de peritos militares, divulgado durante uma ronda de
negociação entre governo e Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) em Maputo,
apontou contradições entre os relatos das autoridades locais e a população
acerca das acusações do principal partido de oposição de que as Forças de
Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas estavam a reforçar posições na província
de Sofala, Tete e Manica.Segundo
o documento, citado pela Agência de Informação de Moçambique , as
autoridades locais negam o reforço da presença das FDS, mas «a população local
foi intransigente e contrária a essa informação». Os patrulhamentos feitos na
região pelos observadores, assinala o texto, «não obteriveram nenhuma evidência
tangível e independente da alegada violação pela presença de posições
militares». Os observadores assinalam, porém, a existência de um forte
contingente policial naquelas províncias.A ECOCHIM foi também incapaz de
verificar a acusação da Renamo de que o governo está a perseguir os seus
membros, embora admita a possibilidade da ocorrência de alguns casos. «De
acordo com o inquérito conduzido no local, e com base em pormenores narrados,
pareceu ser possível ter havido ocorrência de tais comportamentos negativos em
mais de um caso», afirma o relatório, mas, «apesar disso, a ausência de
qualquer evidência concreta/específica não permite à EMOCHIM determinar o autor
de tais atos e por conseguinte, das suas intenções».A
ambiguidade do relatório dos observadores mereceu posições opostas das partes.
Para José Pacheco, chefe da delegação do governo no diálogo com a Renamo,
trata-se da confirmação da falta de fundamento das acusações, enquanto Saimone
Macuiane, líder dos negociadores do maior partido de oposição, espera ver as
contradições esclarecidas. «É fundamental que seja feita uma fiscalização, de
modo a trazer-se um relatório que reflita a situação real do terreno»,
declarou.As sessões de diálogo bloquearam há várias semanas na discussão sobre
o desarmamento do partido de oposição nas FDS, com o governo a reclamar a
apresentação de uma lista e a Renamo a exigir, antes disso, um modelo de
integração. Por outro lado, Macuiane disse esta segunda-feira que, no ponto
negocial relativo à despartidarização do Estado, há avanços, considerando que um
documento base, apresentado pelos mediadores nacionais, «está bem elaborado» e
deverá ser agora harmonizado pelas partes.O
diálogo entre governo e Renamo prossegue num momento de escalada de tensão
política, em que o líder do principal partido de oposição, Afonso Dhlakama, não
reconhece os poderes saídos das eleições gerais de 15 de outubro e ameaça criar
uma região autónoma nas regiões centro e norte do país. Dhlakama disse que,
além das rondas negociais de rotina entre as partes, tem enviados em Maputo a
discutir diretamente com representantes do Presidente da República, mas estes
encontros nunca foram confirmados pelo governo.Após 18 meses de confrontos
militares na região centro de Moçambique, o acordo de cessação de hostilidades
foi assinado a 5 de setembro pelo ex-Presidente Armando Guebuza e por Dhlakama,
tendo sido criada, nesse âmbito, uma equipa de observadores militares
internacionais.A EMOCHIM integra 70 observadores militares moçambicanos, dos
quais 35 do governo e outros tantos da Renamo, e 23 peritos militares de países
estrangeiros.
0 comments:
Enviar um comentário