Depois de ter dito ao jornal Desafio
(07.07.2014) que estava magoado e triste porque a pessoa que pensava que o podia suceder morreu num acidente de viação
na África do Sul (referindo-se ao empresário Abdul Zubaida), pronunciamento prontamente
desmentido pelo filho deste, o homem forte do prédio Fonte Azul, Feizal Sidat,
voltou a mentir em entrevista ao mesmo jornal (11.04.2014).
Com efeito, Sidat não descarta a
possibilidade de vir a recandidatar-se pela segunda vez consecutiva à
presidência da FMF, com a justificação de que o último congresso da FIFA
decidiu, por unanimidade, que os mandatos e as idades não têm limite. Ele
participou no encontro na condição de presidente da FMF. Disse, igualmente, que deixava a decisão para o próximo ano porque primeiro teria que existir interesse antes de tudo, dos seus colegas do
elenco e depois da parte dos seus parceiros internacionais. “Cabe ao governo e
ao país, no seu todo, ou seja, os que nos apoiam em todos os momentos, dizerem
que ainda precisam dos meus préstimos ou não para que eu diga se me recandidato ou não”, afirmou. Acrescentou
ainda: “foi decidido por unanimidade que os mandatos e idades já não têm limite, quer na
FIFA, na CAF, na COSAFA ou mesmo nas federações. A decisão da FIFA é para ser cumprida,
não permitindo interferências políticas”, considerou Feizal Sidat.As declarações do presidente
da FMF não foram bem recebidas pela opinião pública e, contrariamente ao que
ele diz, os delegados da FIFA vetaram o voto da limitação de mandatos e idades nas federações para o
encontro de 2015, não tendo confirmado que o mesmo já estava em vigor.
O que diz a lei
Enquanto isto, no plano interno, o artigo 48 do Regulamento da Lei
nº 11/2002, de 2002, 12 de Março, vulgo Lei do Desporto, aprovado pelo Decreto
nº 3/2004, estabelece no seu
número um o seguinte: “o mandato dos titulares dos
corpos gerentes das associações desportivas é de quatro anos, em regra
coincidentes com o ciclo olímpico”. O mesmo artigo considera no seu número dois que “os titulares dos órgãos sociais das federações e associações desportivas provinciais e
distritais só se podem recandidatar uma vez”. Quer isso dizer que Sidat, querendo, só se pode voltar a
recandidatar depois do próximo mandato à luz da legislação vigor. O outro
aspecto a ter em conta na legalidade ou não das pretensões de manter-se no
poder está relacionado com a validade da “suposta decisão”, pois o nosso país
ainda não a ratificou. O artigo 18 da Constituição da República, que versa
sobre o direito internacional, estabelece no seu número um que “os tratados e
acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados, vigoram na ordem
jurídica moçambicana após a sua publicação oficial e enquanto vincularem
internacionalmente o Estado de Moçambique”. O número dois do mesmo artigo explica o
seguinte: “as normas de direito internacional têm na ordem jurídica interna o
mesmo valor que assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados da
Assembleia da República e do Governo, consoante a sua respectiva forma de
recepção”. Sabe-se que, recentemente, Feizal Sidat foi, igualmente, alvo de
duras críticas ao afirmar que tinha preparado para sua sucessão o malogrado
Abdul Zubaida. Uma das pessoas que contestou isso foi o filho de Zubaida
(Yuri Zubaida) que a partir da África do Sul explicou que tal nunca foi
interesse do seu pai. Na altura (Julho deste ano), Sidat dizia que tinha
preparado Abdul Zubaida para a sua sucessão, mas devido à sua morte não mais
pensou no assunto, contudo ainda havia tempo para reflectir melhor e escolher a
pessoa ideal para o substituir.
“Esta polémica não faz bem à selecção”, - Fernando Sumbana Jr.
O Ministro da Juventude e Desportos, Fernando Sumbana Jr., disse
não quererentrar nesta polêmica, mas explicou: “os dispositivos legais
internacionais só têm validade desde o momento em que são ratificados
internamente”, o que ainda não aconteceu, pelo que“prevalecem os dispositivos legais internos”. Sumbana diz ainda
não ter detalhes da
pretensão de recandidatura de Sidat. “Nas conversas que temos
mantido, ele tem dito que já colaborou o suficiente para o desenvolvimento do
futebol e que irá sair, mas não se desligando do mesmo, tendo em conta o
que sente por esta modalidade”. Em relação às primeiras declarações de
Sidat, em que afirmava que tinha preparado Abdul Zubaida para o suceder, Sumbana afirmou: “o MJD
não pode seguir estas declarações porque o presidente da FMF é eleito
pelas associações e o governo proporciona condições para o
desenvolvimento do desporto no país, mas também garante que as normas emanadas
da Lei do Desporto e seu respectivo regulamento sejam cumpridas”. “Esta polémica não faz bem à nossa selecção
nacional tendo em conta o momento pelo qual a mesma está a passar, pelo que peço para que
unemos as nossas forças de modo a garantir uma boa prestação nas qualificações rumo
ao CAN”, concluiu.
“Sidat está a exercer o mandato ilegalmente”
Carlos Jeque foi um dos candidatos à presidência daquela
agremiação, sendo que no final do pleito impugnou os resultados, mas segundo conta
até ao momento o governo ainda não repôs a legalidade. Conta que Sidat
“está a violar os estatutos” daquela instituição, tanto assim que ele tem um irmão que “possui
negócios com a FMF”. Pelo que consta, Shafee Sidat é a cara mais visível da
Sidat Sports, a empresa de equipamentos desportivos que durante algum período vestiu os
“Mambas”, enquanto que Feizal Sidat é o homem mais forte da Tipografia
Académica, a firma que também, num passado não muito distante, imprimia os bilhetes
dos jogos da selecção nacional. Jeque entende ainda que Feizal Sidat pode estar a pretender
alterar as leis para acomodar os seus interesses, o que, segundo ele, “é no mínimo
anti-ético
“Tem que haver um debate sério”
Filipe Cabral também já tentou concorrer à presidência da FMF,
sendo, seguramente, uma voz autorizada para falar do assunto. Ele diz que
os regulamentos da FIFA não têm nada de especial até ao momento e o que existe é
uma reflexão ao nível de mandatos. Mesmo assim, entende que não se pode ficar como presidente de qualquer que seja o organismo de
“forma vitalícia ou até que a idade não perdoa como no caso de João
Havelange (presidiu a FIFA de 1974 a 1998)”. “Há que se limitar os mandatos, mas não
posso dizer quantos, isso evita que apareçam fanáticos que não queiram sair”, disse, para em seguida esclarecer que, na sua opinião, o
ideal seriam dois a três mandatos. “Uns dirão que dois mandatos são poucos, eu
propunha até três. Julgo que deve haver um debate sério”, afirmou. De referir
que Feizal Sidat dirige a FMF desde 2007 e cumpre, actualmente, o segundo mandato que
termina em Julho de 2015.
0 comments:
Enviar um comentário