Pragmaticamente
a Rio Tinto chutou a bola para destinos desconhecidos, colocando o guarda-redes
moçambicano a “ver navios”. Numa operação
rocambolesca, pouco vista mesmo nos meandros da alta finança, duas empresas em
dois momentos diferentes protagonizaram actos que devem ser minuciosamente
estudados, porque a sua repetição acarretará muitos prejuízos. Ou digamos ainda
muitas desilusões. A Riversdale adquire uma concessão, declara o seu valor em
reservas de carvão, e depois a grande Rio Tinto apressa-se e compra tal
concessão. As mais-valias da operação, realizadas fora do escrutínio do Governo
moçambicano, ficam depositadas bem longe de Maputo. Foram efectivamente biliões
de dólares que fugiram de Moçambique. Quando se pensava que a Rio Tinto tinha
intenção de radicar-se em Moçambique, eis que vende ao desbarato as suas
concessões em solo moçambicano. Quem comprou por 4 biliões de dólares e vende a
50 milhões de dólares deve ter as suas razões.
Seria que o carvão de Tete era,
ou é, assim tão tóxico que se deve descartar rapidamente?
será que estamos
perante factos de engenharia financeira que desconhecemos?
Declarar uma cifra
baixa para pagar pouco de impostos ao Governo moçambicano?
Isso já foi feito em
outros negócios, e quando se mexe com milhões de dólares é óbvio que os
accionistas estejam dispostos a tudo para reduzir desembolsos.Se tomarmos
em conta que a febre de facilitar investimentos no sector mineiro trouxe
consideráveis prejuízos ao país, não se deveria chorar muito. O jogo da
alta finança internacional tem a ver com objectivos concretos, muitas vezes
ignorados e desconhecidos para Governos como o de Moçambique. O tipo e nível de
concertação que se faz em Londres e em outras capitais diferem da concertação
que fazem os Governos de países receptores de investimentos das multinacionais.
Brilho e avidez nos olhos esfumam-se face a uma realidade surpreendente, ou
tudo já estava acautelado?
Será que o Governo e o Ministério dos Recursos
Minerais de Moçambique estavam acompanhando as movimentações da Rio Tinto?
Será
que a aparente engenharia financeira lhes passou de lado, ou mais uma vez
alguém encaixou uma mais-valia a coberto duma operação de todo escandalosa do
ponto de vista financeiro?
Quando se
defendia que Moçambique deveria preparar-se para entra num mundo de negócios
altamente competitivo e complexo do ponto de vista tecnológico, a opção do
Governo foi adoptar a venda de concessões sem olhar para mais nada.Quando a VALE
conseguir desfazer-se dos seus activos carboníferos em Moçambique, ainda
estaremos à espera de que a fábrica de antirretrovirais prometida no quadro do
negócio tenha produzido alguns comprimidos.
Dirão uns que
fomos enganados… É mais verdade que entrámos num negócio às escuras e, se nos
enganaram, foi porque aceitámos de mão beijada lamber rebuçados que não
conhecíamos. O dinheiro fluindo para algumas contas bancárias, as viagens e o
luxo de ocasião, acções ou outro tipo de contrapartidas privadas terão cegado
os governantes moçambicanos?
Os consultores externos do PR onde estão neste
momento?
Como é verão na Europa, devem ter-se recolhido para a Riviera francesa
ou italiana em gozo de “merecidas férias”.
É o fim dum
sonho?
Não necessariamente. A valorização de reservas minerais é algo dinâmico
e responde a questões de mercado muito concretas. Lição para aprender que nem
tudo o que brilha é ouro.
Importa
trazer muita mais transparência para negócios desta envergadura, e o Governo
não pode actuar sem buscar consensos e autorização ao nível do Parlamento, para
adjudicar e concessionar. Os centros de pensamento nacionais, os especialistas
e peritos locais devem ter as suas opiniões escutadas e respeitadas aquando da
tomada de decisões vinculativas.Investir em
tecnologias, no ensino de tecnologias, trazer professores e equipamento para o
país, adquirir perícia na fiscalização e avaliação de reservas é vital para que
não sejamos embrulhados, enganados, em próximos negócios.O país deve
explorar e beneficiar dos seus recursos, mas isso deve ser feito numa
perspectiva que traga benefícios concretos para a maioria dos moçambicanos.Enganou-se
efectivamente quem pensava que poderia tirar benefícios em exclusivo do carvão
de Tete.
Os “amigos”
de Londres bateram com a porta e nem disseram adeus…
Alguma vez se
terá que aprender é fundamental para desenvolver um país. Agora esfumam-se as
projecções, e as estatísticas MF serão reformuladas. (N.Nhantumbo)
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