No
calor da última histeria de guerra da mídia norte-americana – que correu para
culpar o presidente russo Vladimir Putin pela queda do avião de passageiros da
Malaysia Airlines – existe a mesma ausência de cepticismo que fez barulheira no
Iraque, na Síria e em outros lugares – perguntas essenciais não são feitas ou
respondidas. A pergunta que não quer calar a respeito da catástrofe sobre a
Ucrânia é: o que as imagens dos satélites espiões norte-americanos mostram? É
difícil acreditar que, com toda a atenção que o serviço de espionagem
norte-americano tem prestado ao leste da Ucrânia nos últimos seis meses, o
transporte de vários sistemas Buk de mísseis antiaéreos da Rússia para a
Ucrânia e depois de volta à Rússia não aparecem em lugar algum. Sim,
existem limites para o que os satélites espiões norte-americanos podem ver. Mas
os mísseis Buk têm cerca de 16 pés de comprimento e em geral são montados no
topo de tanques ou caminhões.
O
voo 17 da Malaysia Airlines também caiu durante a tarde, e não à noite, o que
significa que a bateria de mísseis não estava escondida pela escuridão.
Então
por que essa pergunta sobre as fotos do espião norte-americano dos céus – e o
que elas revelam – não está sendo feita insistentemente pela mídia
norte-americana? Como
o Washington Post pode publicar uma matéria de primeira página, como a que foi
publicada no domingo com o título definitivo: “Oficial americano: russos deram
o sistema”, sem exigir das autoridades detalhes a respeito do que revelam as
imagens de satélite?
Ao
contrário, Micchael Birnbaum e Karen DeYoung do Post escreveram de Kiev:
“Os
Estados Unidos confirmaram que a Rússia forneceu lançadores de mísseis
sofisticados aos separatistas da Ucrânia do leste e foram feitas tentativas de
transportá-los de volta através da fronteira com a Rússia depois que o avião da
Malaysia foi derrubado, disse uma autoridade norte-americana no sábado. ‘Nós
acreditamos que eles estavam tentando levar de volta para a Rússia pelo menos
três sistemas Buk (lançadores de mísseis)’, disse. O serviço de espionagem
norte-americano estava ‘começando a ter indícios … há pouco mais de uma semana,
de que lançadores russos foram levados para a Ucrânia, disse a fonte … cuja
identidade não foi revelada pelo Post para que ele discutisse assuntos de espionagem”.
Mas
veja como são vagas as afirmações: “Nós acreditamos”, “começando a ter
indícios”. E nós devemos acreditar – e, ainda mais relevante, os jornalistas do
Washington Post de fato acreditam – que o governo norte-americano com seus
serviços de espionagem de primeira não conseguem encontrar três caminhões
lentos, cada um carregando enormes mísseis de longo alcance?
O
que a fonte conta, fonte que já passou
informações precisas em assuntos semelhantes no passado, é que as agências de
espionagem norte-americanas têm imagens de satélite detalhadas das baterias de
mísseis que provavelmente lançaram o míssil fatal, mas a bateria parece estar
sob o controle de tropas do governo ucraniano, vestindo o que parecem ser uniformes
ucranianos.
A
fonte disse que os analistas da CIA ainda não eliminaram a possibilidade de que
as tropas fossem na verdade rebeldes do leste da Ucrânia vestindo uniformes
semelhantes, mas a avaliação inicial era de que as tropas eram compostas por soldados
ucranianos.Também foi sugerido que os soldados envolvidos eram possivelmente
bêbados indisciplinados, já que as imagens mostram o que pareciam ser garrafas
de cerveja espalhados no local, disse a fonte.Mas, ao invés de pressionar para
ter mais detalhes, a grande mídia norte-americana simplesmente passou adiante a
propaganda vinda do governo ucraniano e do Departamento de Estado, inclusive
ecoando o fato de que o Sistema Buk é “feito na Rússia”, um fato insignificante
que é muito repetido.
No
entando, usar o argumento do “feito na Rússia” sugere que a Rússia pode ter
envolvimento na derrubada do avião, o que é no mínimo enganador e claramente
planejado para influenciar os mal informados norte-americanos.Como o Post e
outros meios de comunicação certamente sabem, o exército ucraniano também opera
sistemas militares feitos na Rússia, inclusive as baterias antiaéreas Buk;
assim, a origem da fabricação não tem valor algum de prova.
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