É aquela que não deixa ninguém para trás. A que agrega valor ao colectivo. O fio condutor da felicidade de um povo. Exemplificando, estamos a falar concretamente daquela que, para além da Lei, impõe limites morais à governação. A que não admite políticas cujos efeitos sejam contraproducentes. A que assenta nos estímulos intrínsecos para a construção do bem público. A que valoriza as autoridades independentes pela defesa da imparcialidade.
Um povo que vota tem o
dever de exigir que as promessas se cumpram. Tem o dever de fiscalizar quando a
governação não o inclui. Tem o dever de seguir o rasto do seu voto porque a
prática tem demonstrado os "dotes mágicos" de quem os conta.
Em democracia, um dos
maiores garantes de estabilidade é o Consenso, que é sempre um indicador de
sabedoria e inteligência. Sem consensos para as questões estruturantes, o que
sobra é a morte do fortalecimento da coesão nacional.
É necessário desconstruir
qualquer realidade que restrinja, que iniba ou que amedronte as pessoas. Angola
precisa de ideias novas. Durante todos estes anos, o povo foi compreensivo.
Obedeceu a tudo quanto lhe impuseram. Assentou a sua existência na máxima
"vamos fazer mais como, então...". Aceitou tudo e raramente se zangou.
Todo o ódio é um retrocesso. O povo mais jovem sabe disso. São, infelizmente,
os velhos com a barriga cheia que estão a desenterrar os machados acreditando
que esta mensagem ainda é válida. Felizmente não é.
Há demasiado tempo que se
sente uma relação de desilusão generalizada com a governação. Mas agora essa
relação é de impaciência, irritação pelo estado amorfo em que sobrevive a nossa
democracia. O verdadeiro centro emocional do protesto está no abuso da falta de
respeito com que o povo é tratado até hoje.
Apenas quem conseguir
chegar à outra margem, a margem onde se nada contra a injustiça social, onde
vive a maioria do povo que vota, vencerá estas eleições. O povo já não quer
saber do passado. A maioria dos eleitores tem menos de 35 anos e já provou que
não quer mais nenhuma governação telepática, instantânea e sem qualquer
humildade. Também não aplaude a prepotência, a arrogância nem a manipulação.
Estes jovens querem participar numa narrativa política com lógica, aquela que
detectou o erro e, a tempo, aprendeu a corrigir a rota. Sentem-se sozinhos num
País que se virou contra o seu povo, numa atitude de indiferença absoluta e
inexplicável.
O povo está a falar em
diferentes vozes, mas em uníssono sobre as suas dores e a sua saturação, nas
redes sociais, na família, na rua e nos transportes públicos, chamando a
atenção para o desnorte da sua situação, da ausência de debates que permitiriam
avaliar o argumento dos candidatos na defesa das suas propostas. O povo pode
não entender os conceitos económicos, mas entende, sem dúvida, o som do seu
estômago colado às costas. E, por isso, gostaria de ouvir os candidatos a
conversarem, de forma urbana, mostrando cada um os seus trunfos para construir
dignidade social.
O povo heróico e generoso
tem voz. Nunca se calou, apesar de existir em silêncio. Escreveu, cantou, fez
poesia nos momentos mais difíceis, dançou ao som das suas lágrimas. Mas nunca
desistiu do País. Acreditou que um dia seríamos felizes e ainda acredita. "Governar
sem as pessoas" tem sido o principal factor de decadência da nossa
democracia. A opinião dos cidadãos nunca é considerada, sobretudo quando é
contrária aos interesses dos "negócios públicos". Os meios de
comunicação públicos, de forma desonesta, são a cereja em cima do bolo.
Daí a atenção generalizada
que estão a ter estas eleições, não obstante a consciência das inúmeras nuvens
negras que estão a ensombrar o processo porque faltam, novamente, a
transparência e o respeito pelo eleitor, o que também já não é novidade.
Estamos a ouvir discursos radicais que apelam ao ódio que deixaram de fazer
sentido depois dos acordos de Luena. É na ética da governação e nas práticas
isentas de repreensão que se constrói a Unidade Nacional. Ouvir a voz do povo é
ouvir a verdade da realidade e quem não ouve a realidade jamais poderá governar
com sabedoria. É necessário reorientar a nossa democracia para a justiça social
assente nos pequenos sistemas: a aldeia, o bairro, a rua e a família, para isso
serão imprescindíveis as eleições autárquicas que foram sovieticamente adiadas,
não obstante terem sido um dos principais compromissos do candidato do partido
do governo.
O mundo mudou. Mas nenhuma
destas mudanças está para além do alcance da política. Mudaram as relações de
mercado, as relações pessoais, os modelos económicos, a velocidade da
comunicação, mas a nossa democracia continua estática e convicta de que para
existir basta que se convoquem eleições. É visível o excesso de políticos
angolanos que pararam no tempo. Serão necessárias políticas certas que ajudem a
redistribuir a riqueza e a fazer subir o nível de vida dos cidadãos. E estas
políticas não são simples e por isso não podem ser atreladas ao discurso
populista que serve apenas para caçar votos. É exactamente pelo constante apelo
ao populismo, anunciando soluções superficiais e simplistas que muitos partidos
perdem a credibilidade e nunca mais a recuperam.
A internet permite que milhões de pessoas se reúnam à volta de uma ideia e a multipliquem. Isto tem vindo a mostrar as fragilidades da democracia em países com governos autoritários e longevos que se desviam sistematicamente da necessidade de governar para o povo e envenenam a confiança nas instituições.
Quando um sistema político
prevalece durante décadas é natural que aqueles que nunca conheceram outra
realidade acreditem que ele é imutável. É por esta razão que a manutenção do
modelo interesseiro de apelo ao voto vai falhar para quem não aprendeu a falar
olhos nos olhos e sem mentirem conseguirem mostrar um caminho credível para a
felicidade colectiva. Que não prometam nada que não possam cumprir porque o
soberano cresceu e deixou de acreditar na mesmice.
Queremos mentes brilhantes que sejam conduzidas pelo espírito de missão, que assentem a sua existência numa visão que permita reiniciar um futuro capaz de curar as nossas feridas e consiga criar o conforto e a dignidade que todos os angolanos merecem e desejam. Só o poder das ideias, que prevejam o bem comum, será capaz de conferir grandeza a Angola.
(in Novo Jornal)
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