quarta-feira, setembro 28, 2022

Diferentes de outros?

Os rumores começaram a surgir mesmo antes da visita de Vladimir Putin ao Irão, no mês de julho, quando centenas de drones russos apareciam abatidos nos céus ucranianos em grandes números. 

A passar grandes dificuldades no terreno e em inferioridade numérica depois de vários meses de guerra, o exército russo precisava de armamento capaz de equilibrar a balança do poder no campo de batalha. Teerão deu a solução: drones kamikazes desenvolvidos a baixo custo e muito difíceis de detetar.

Depois de várias semanas de paz, sem o som das sirenes que anunciam ataque aéreos, a cidade de Odessa acordou para uma semana marcada por ataques de drones kamikazes iranianos. Ao longo de três dias, vários edifícios administrativos na cidade portuária foram atacados. Um desses ataques, no domingo passado, resultou em danos num prédio no porto de Odessa, que provocou pelo menos um morto. A defesa antiaérea ucraniana tinha-se mostrado eficaz a proteger a região nos últimos tempos, mas as novas armas empregues por Moscovo estão a colocar à prova as capacidades das forças armadas ucranianas.

“De momento, a minha cidade natal de Odessa e a cidade vizinha de Chornomorsk estão sob um ataque maciço de drones shahid. As nossas forças de defesa estão derrubá-los, mas o nível de perigo é muito elevado”, descreve um cidadão ucraniano na rede social Twitter.Os russos batizaram-no de Geran 2, mas o seu nome é Shahid-136, um drone com configuração de asa do tipo delta, capaz de transportar uma carga explosiva de 40 Kg e até atingir seu alvo. A primeira vez que foi utilizado pelas tropas russas foi no dia 13 de setembro, em plena contra-ofensiva ucraniana em Kharkiv.

O que torna estes drones diferentes de outros? São muito difíceis de detetar e isso é grande problema para Kiev, que já pediu aos aliados da NATO sistemas de defesa antiaérea mais robustos, bem como sistemas de radares mais sofisticados. As forças ucranianas só conseguem percebem que vão ser atingidos por um destes drones quando ele já está muito perto, porque os seus motores produzem um som característico.De acordo com o porta-voz da Força Aérea Ucraniana, Yuriy Ignat, os ataques de drones acontecem numa altura em que se verifica um declínio no uso de mísseis cruzeiro, que, no caso dos mísseis russos Kalibr, custam 6,5 milhões de euros cada. Ignat avisou que, embora os drones não tenham "altos parâmetros técnicos", constituem "um difícil desafio" para a defesa aérea ucraniana.

Mas porque é que a Rússia comprou drones iranianos? A intensidade do conflito obriga Moscovo a importar mais armas, mas, devido às limitações impostas pelas sanções, o número de países dispostos a fornecer armamento a Putin é mais limitado. A solução? Adquirir armamento de outro país sancionado.Mesmo sob um forte aperto de sanções económicas, o Irão conseguiu desenvolver o seu próprio programa de drones, em parte, devido ao estudo de drones norte-americanos capturados. E estes drones estão a ser um sucesso no campo de batalha. Porém, muitos especialistas apontam para o facto de o Irão não ter capacidade de produzir a capacidade de equipamentos que a Rússia necessita para impactar a guerra de forma decisiva.

A decisão do Irão em fornecer estas armas à Rússia, embora Teerão negue, não caiu bem em Kiev e, “em resposta a esse ato hostil”, a Ucrânia decidiu travar o credenciamento do embaixador iraniano e reduzir significativamente o número de funcionários diplomáticos deste país. A Ucrânia espera que estes aviões não tripulados ganhem cada vez mais relevo no conflito, acabando por substituir o uso de aviões por parte dos russos, que têm tido dificuldade em controlar o espaço aéreo na Ucrânia. O Estado-Maior em Kiev estima que 261 aviões militares russos e 224 helicópteros foram abatidos até agora.


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