sexta-feira, maio 04, 2018

O "bandido armado"carismático


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Filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, de seu nome completo, nasceu a um de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, na província de Sofala, centro de Moçambique. Em 1974 junta-se à Frelimo, mas porque cedo compreendeu que Moçambique só podia ser efectivamente dos moçambicanos se estes fossem livres de escolher os seus destinos, abandonou o partido de orientação do leste que implantou o monopartidarismo em Moçambique e, em 1976, junta-se à Resistência Nacional de Moçambique (Renamo).
Resultado de imagem para afonso dhlakamaCom apenas 23 anos de idade, toma parte da guerrilha para lutar, de armas em punho, contra a política marxista da Frelimo. Com a morte em combate, a 17 de Outubro de 1979, de André Matsangaíssa, o primeiro comandante em chefe da Renamo, Afonso Dhlakama assume, aos 26 anos de idade, a liderança da então guerrilha, no auge da guerra civil no país. Depois de longas negociações, Dhlakama, politico e militar revolucionário, assina, em 1992, em Roma, capital Italiana, o Acordo Geral de Paz (AGP), com Joaquim Chissano, então president da República, num acto histórico que colocou fim a 16 anos de uma fratricida guerra civil.
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Percursor da democracia em Moçambique, viria a concorrer para a presidência da República nas primeiras eleições multipartidárias, em 1994, num pleito vencido por Joaquim Chissano, da Frelimo. E nas segundas eleições gerais, em 2009, esteve perto de assumir a presidência de Moçambique, ao alcançar os históricos 47,71 % de votos contra 52,29% da Frelimo, numa eleição ensombrada pelo espectro da fraude, o cancro da história eleitoral do país. Percursor e lutador incansável pela democracia, foram curtos os momentos da vida que gozou com a família. Passou quase toda a vida nas matas a defender a liberdade de escolha dos moçambicanos, mesmo para aqueles que o vigarizaram e o catalogaram de “bandido armado”, ele que foi muitas vezes incompreendido. A situação agravou-se com a chegada ao poder, em 2005, de Armando Guebuza, um homem da linha dura da Frelimo e menos dialogante, contrariando o estilo mais aberto de Joaquim Chissano. Vendo a democracia porque lutou a sofrer revezes com a governação de Guebuza, o líder do maior partido da oposição viu-se obrigado a regressar às matas para defender aquilo pelo que tinha sacrificado toda a sua juventude.
Resultado de imagem para afonso dhlakamaFoi assim que, em 2012, abandona a capital do país e instala-se em Nampula, para pressionar o Governo da Frelimo a abrir o jogo da democracia, mas em resposta, Armando Guebuza envia forças militares para as proximidades da residência do líder da oposição, na “Rua das Flores”. Encurralado, Dhlakama decide abandonar a chamada capital do norte, um bastião por excelência da Renamo, para se estabelecer em Satungira, localidade de Vunduzi, distrito de Gorongosa, em Sofala, a província que o viu a nascer.
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Mas porque o regime da Frelimo estava, claramente, apostado numa estratégia à moda Savimbi, eis que a 21 de Outubro de 2013, forças armadas governamentais atacam o santuário de Satungira, obrigando o líder da oposição a se refugiar em parte incerta, numa operação que vitimou o então deputado da Assembleia da República, Armindo Milaco. O incidente levou o país a regressar, 21 anos após o AGP, às hostilidades militares que tiveram como epicentro o distrito de Gorongosa, na província de Sofala, antes de se alastrarem pelo país adentro. Foi necessário a Renamo recorrer às armas para forçar Guebuza a assinar, a cinco de Setembro de 2014, o Acordo para a Cessação das Hostilidades Militares, um entendimento que permitiu a participação de Afonso Dhlakama nas eleições gerais de 2014. Mas o acordo teve pouca dura porque logo depois das eleições de 15 de Outubro de 2015, o fantasma da fraude eleitoral voltou a precipitar um conflito pós eleitoral, que ficou conhecido como a reedição de “Muxúnguè”.
Resultado de imagem para afonso dhlakamaNo início de 2015, com Filipe Nyusi declarado presidenteda República, Dhlakama reúne-se, por duas vezes, com o novo estadista, em Maputo, para encontrar saídas para o conflito pós eleitoral. O partido de Afonso Dhlakama e x i g i a governar seis províncias, o n d e reclamava vitória, nomeadamente, Sofala, Tete, Manica,Zambézia, Nampula e Niassa. Pe r a n t e uma Frelimo relutante , Dhlakama, um líder com charisma comprovado, pôs-se à rua e, de lés a lés,percorreu o país i nteiro,prometendo a p o p u l a ç ão a go v e r nar o centro e o norte à força. P o r onde passasse Dhl k a ma confirmava a sua popu- laridade, orientando c o m í c i o s populares abarrotados de milha res de pessoas, que aguardavam o “messias” por horas à fio, faça sol, faça chuva. Foi durante essas digressões que, por duas vezes, 12 e 25 de S e t e m b r o de 2015, escapou à morte, ao sofrer atentados na província de Manica, quando suas caravanas foram metralhadas, provocando p sadas baixas na sua guarda pessoal, operações atribuídas às alas conservadoras da Frelimo que sempre defenderam na eliminação física de Afonso Dhlakama.Depois de escapar a morte por duas vezes em menos de um mês, decide regressar à parte incerta, de onde viria a sair, duas semanas depois, a oito de Outubro, numa operação testemunhada por individualidades nacionais e internacionais. No dia seguinte, 09, tinha agendado uma conferência de imprensa para às 9horas, mas não chegou a acontecer porque a sua casa, na Beira, seria assaltada, logo pela manhã, por diversas unidades das Forças de Defesa e Segurança (FDS) que, desarmaram a sua guarda pessoal.
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Estratega militar que era, dias depois conseguiu driblar o exército que vigiava a sua residência, na rua dos “Sem Medo”, regressando às matas, onde perdeu a vida, esta quinta-feira. Depois do falhanço das equipas de negociações do Governo e da Renamo, Dhlakama e Nyusi decidem liderar, pessoalmente, as negociações até que, em finais de 2016, o presidente da Renamo concede uma trégua militar determinada que viria a prolongá-la, de forma unilateral, em Maio de 2017, para tempo indeterminado.
Resultado de imagem para afonso dhlakamaEm Agosto de 2017 encontra-se com Nyusi na serra da Gorongosa. Depois de uma segunda reunião falhada por questões logísticas, em Dezembro de 2017, voltaram a falar em Fevereiro último. Na mesa estava a descentralização administrativa e a desmilitarização das forças residuais da Renamo. Aos 65 anos de idade, consegue forçar o Governo a fazer cedências na descentralização do país, um future pelo qual lutou mas, quis o destino, não irá experimentar. Aos 65 anos de idade, Afonso Macacho Marceta Dhlakama parte deixando viúva e 7 filhos. A oitava filha perdeu a vida, ano passado, e Dhlakama não conseguiu participar no seu funeral por estar nas matas da Gorongosa a defender o edifício da democracia de um país que muito lhe deve. (A. Nhantumbo)

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