A Edição do semanário Canal de
Moçambique desta semana (18 de outubro, 2017) traz na manchete uma notícia que
me deixa agitado. Não que não tenha sabido antes, mas porque é verdade. Tão
verdade que situações similares acontecem em outras empresas públicas. Trata-se
de salários galácticos, que confundem a qualquer marciano. Então, cada
administrador da Electricidade de Moçambique, Empresa Pública, ganha em média
um milhão e duzentos mil meticais, ou seja, cerca de US$20 mil dólares. Nos
meus cálculos, estes salários correspondem a quatro vezes ao salário do
Presidente da República de Moçambique; oito vezes ao salário de um ministro da
República de Moçambique, “n’” vezes ao salário da Presidente da Assembleia da
República e respectivos deputados. Sem falar dos demais funcionários públicos
como enfermeiros e professores. Isto está longe de uma bonança. É uma
escandalosa maldição.
I
Não se trata de negar o direito ao
salário aos administradores; aliás, não se trata de negar o direito de salário
condigno aos moçambicanos. Trata-se sim de garantir alguma equidade. Não falei
da igualdade. Vou tentar explicar a palavra equidade com dois exemplos:
imaginem que duas pessoas, uma de estatura alta e outra baixa, compram bilhetes
de ingresso de uma partida de futebol. Cada bilhete possui um número específico
do assento. Sucede que o homem baixo calha justamente atrás do alto.
Consequentemente, o homem alto estará a vedar a visibilidade do homem baixo.
AGIR COM EQUIDADE significa trocar os lugares. Assim, o homem baixo passa para
frente e o alto para trás para que os dois sejam capazes de ver a partida do
futebol. O outro exemplo similar pode ocorrer em espetáculos, onde os baixinhos
não podem ver o artista em virtude da sua estatura. Agir com equidade
implicaria passar os baixinhos para frente e os altinhos para trás. A empresa Electricidade de Moçambique não é
empresa privada. É tutelada pelo Ministério de Energia e quejando. Ou seja, é
um negócio do estado moçambicano. A HCB é negócio do estado moçambicano. A ENH
é empresa/negócio moçambicano. A sua função é fazer negócio e ganhar dinheiro
para o Estado Moçambicano. Portanto, o que temos é um conjunto de colaboradores
tarefados com a missão de fazer negócio do estado. O figurino jurídico não deve
perpassar esse ideal.
II
A Empresa Electricidade de Moçambique é
uma devedora da HCB no valor que ronda uns 90 milhões de dólares americanos. Um
pouco por todo país enfrenta problemas de vária ordem e está atrasada no que
tange a electrificação rural. Sem falar da qualidade de energia! Os administradores e demais funcionários de
topo comportam-se como donos de uma empresa atípica, onde os accionistas
confundem cinicamente receita com lucro e dividem mensalmente os “lucros” de
acordo com as acções de cada um. Essa é uma forma camuflada de corrupção.
III
Os administradores da EDM, EP não são
mais importantes que o Presidente da República. Eles não trabalham mais que um
ministro; não são a melhor espécie de moçambicanos que os professores,
enfermeiros ou guarda-fronteira, que entrega a sua vida em defesa da soberania
territorial; os administradores da EDM não são os melhores filhos da pátria que
os polícias, soldados ou funcionário público; Secretários-permanentes de vários
ministérios ou distritos. Os administradores da EDM, mCel, ENH, INP e tantas
outras empresas abastadas confundem a sua missão, ao se atribuírem salários
INÍQUOS. Não estão vedados ao direito de ganharem balúrdios. Mas se quiserem
que vão trabalhar para empresas privadas ou mesmo que sejam consultores.
IV
Recentemente o PR falou do combate da
corrupção. Ora, a existência de “oásis sociais” como essas proporcionam uma
corrida desenfreada a tachos, com todas as consequências dai advenientes. A
propósito, como é que os ministros que tutelam esses ministérios aceitam
salários tão altos assim? Contra que tipo de contrapartidas? Mesmo que as
empresas fossem superavitárias, a missão da EDM não é dividir o superavit pelos
administradores. A missão é meter dinheiro aos cofres do estado. O dinheiro que diariamente o alfandegário
conta e deposita na conta do estado não é dele nem é graças a ele que os
cidadãos e empresários pagam os impostos. O trabalho dele é justamente esse:
cobrar taxas. Igualmente, quando países, entidades e pessoas singulares pagam
taxas de energia não é porque devemos aos administradores. Os administradores
estão a fazer seu trabalho contra o qual devem ser pagos SALÁRIOS QUE A
ECONOMIA PODE.
V
Não há diferença entre a caixeira do
Hospital Central, da Morgue de Machipanda ou do Cobrador das Alfândegas senão a
susceptibilidade e o risco. Todos, no final do dia, cobram taxas pelos
serviços. Similarmente, não há diferença entre o director de uma escola
primária, director dos serviços notariais ou mesmo da distribuição da HCB senão
o risco de exposição. Todos são funcionários ou agentes do Estado.
VI
A finalizar, os salários e benefícios
auferidos pelo senhor Magala e seu grupo são antiéticos a todos títulos.
Ofendem a moral pública e desencoraja qualquer tipo de engajamento
anticorrupção dos demais. Assemelha-se a um atentado ao pudor público. A
diferença entre um carteirista e o CA da EDM está no montante do saque. Exorto
as entidades competentes para porem freio a este escândalo, aproveitando a
revisão da lei de empresas públicas para parar com isso. Afinal, o que eles
fazem de tão especial por cada dia do seu trabalho? Inventam o quê? São génios
de onde? Nem a pessoa que inventou a penicilina ganhou tanto dinheiro assim por
mês!
Vamos caminhar juntos. O país é pobre,
acreditem.
(Dr.Egidio Vaz in facebook)
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