Nascido a 2 de Junho de
1973 no distrito de Monapo, Mahamudo Amurane muito cedo perdeu o seu pai, facto
que teve implicações não só na vida pessoal, mas também nos estudos. Foi criado
pelos irmãos mais velhos, uma vez que a sua progenitora não dispunha de
condições financeiras. Concluiu o seu ensino primário na EPC de Marocane,
actual Instituto Agrário de Ribáuè, na província de Nampula. Prosseguiu com os
estudos no Centro Internato da Missão Católica de Iapala, onde foi acolhido
pelos responsáveis da instituição porque não dispunha de meios, uma vez que os
familiares viviam na cidade de Nampula. Praticamente desamparado lutou pela
vida, ganhando algum dinheiro, o que permitiu concluir a 7a classe. Depois
mudou-se para a cidade de Nampula, na boleia de um funcionário da Direcção
Provincial de Saúde, o qual se simpatizou com o jovem, pois notou que estava
sozinho sem condições financeiras para chegar à capital provincial. Naquele
tempo, concluir a 7a classe era uma honra para a família. Mas Amurane não se
conformou com isso. Continuou a estudar, desta feita no ensino secundário geral
na antiga Escola Secundária 1º de Maio, que funcionava nas actuais instalações
da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula.
Filho de um responsável
de uma mesquita, designado sheik, era natural que ele também fosse da mesma
religião. Quase todos os membros da sua família professam o islamismo. Por
diversas vezes, Amurane foi abordado por um grupo de homens da religião cristã,
os quais o convidaram a converter-se. Na ocasião, recusou e mostrou-se
determinado apenas em continuar a estudar. Mais tarde, reflectiu e chegou à
conclusão de que se tratava de uma chamada de Deus, razão pela qual se
converteu ao cristianismo. A primeira igreja que frequentou foi a Assembleia de
Deus. Mais tarde, preferiu a Igreja Católica. Amurane participou num programa
de formação de técnicos de controlo de tráfego aéreo. Tendo sido o melhor aluno
do grupo dos formandos, beneficiou de outro curso do mesmo ramo na cidade de
Maputo. Entretanto, a sua irmã, Adelaide Amurane, que foi ministra para os
Assuntos Parlamentares no Governo de Armando Guebuza e actualmente ocupa o
cargo de ministra na Presidência para os Assuntos da Casa Civil, aconselhou-o a
interromper a carreira, porque não havia nenhuma perspectiva em termos de
progressão, tendo-lhe oferecido uma proposta de formação no Brasil por um
período de 60 dias em matérias de capacitação de empresários de microempresas
em contabilidade, administração e finanças.
Terminado o curso, regressou a Moçambique,
onde esteve a trabalhar no Gabinete de Promoção de Emprego no Ministério do
Trabalho como técnico de treinamento empresarial. Durante sensivelmente três
anos foi amealhando algum dinheiro resultante do salário que ganhava. Não tinha
despesas, porque morava na casa da sua irmã. Tempos depois, decidiu voltar ao
Brasil para concorrer a uma bolsa de estudo oferecida pelo Governo brasileiro
apenas com a isenção das propinas. Naquele país, não cruzou os braços, tendo
continuado a trabalhar num projecto desempenhando as mesmas funções de técnico
de treinamento e auferindo um salário mínimo de 300 dólares norte-americanos. O
dinheiro era, ainda, insuficiente e arranjou outras alternativas de
sobrevivência. Trabalhou em restaurantes e bares. Com muito sacrifício,
conquistou a simpatia de alguns brasileiros, tendo obtido emprego em duas
instituições, sendo o Banco Brasileiro como estagiário durante a noite e o
Instituto de Previdência de Servidores Públicos.
Depois dos estudos, teve
muitas ofertas de trabalho naquele país latino-americano. Contudo, mostrou-se
determinado a regressar a Moçambique, porque a sua formação envolveu muito
sacrifício e precisava de voltar à sua terra. “Moçambique precisava mais de mim
do que o Brasil”, confessou ao @Verdade pouco depois das eleições de 2013. Há
quem diga que Deus o terá castigado, porque depois de recusar as ofertas no
Brasil percorreu toda a cidade de Maputo de lés a lés à procura de emprego.
Mais tarde, arranjou um emprego na Medis Famaceutica Limitada como coordenador
administrativo e financeiro. Foi aí onde tomou a iniciativa de ter a sua
própria farmácia, porque descobriu que o negócio de medicamentos gerava muito
dinheiro. Além disso, não estava satisfeito com as suas funções, pois sentia-se
pouco valorizado e a rotina do trabalho era estática. O seu trabalho
limitava-se a controlar o armazém, incluindo todo o processo de vendas. Em
2000, abandonou o seu posto de trabalho e foi leccionar no Instituto Médio da
Administração Pública em Maputo. No ano seguinte, começou a trabalhar como
docente do Instituto Politécnico Universitário, na cidade de Quelimane, onde
assinou outro contrato de trabalho como assessor da administração e gestão na
Direcção Provincial de Saúde da Zambézia, através do Fundo Europeu para o
Desenvolvimento.
Em 2003, conseguiu uma vaga como docente na Universidade Mussa
Bin Bique no período pós-laboral. Durante o dia, desempenhava as funções de
assessor de administração e gestão na Direcção Provincial de Saúde de Nampula.
No ano seguinte, recebe um convite para assessorar a Direcção Provincial de
Saúde de Cabo Delgado na área de administração e gestão.O contrato foi
celebrado a curto prazo, tendo regressado a Nampula, onde continuou a dar aulas
em gestão de projectos na Universidade Mussa Bin Bique. Já em 2006, recebeu uma
proposta para o cargo de oficial de programas de Educação num projecto de uma
ONG espanhola que, na altura, desenvolvia as suas actividades na província de
Niassa. Há quem diga que Amurane foi um profissional (in)grato, mas a sua
vontade foi sempre a de trabalhar assumindo cargos com funções dinâmicas.
Por
isso, em 2007 integrou a equipa de trabalho da GIZ Pro Educação como assessor
financeiro na província de Sofala. Em 2012, regressa à terra dos macuas para
assumir as funções de consultor financeiro da UNICEF.Antes de ser eleito edil
da chamada capital Norte, a 1 de Dezembro de 2013, trabalhava por conta própria
num estabelecimento comercial denominado Farmácia Amurane, especializado na
venda de produtos farmacêuticos e cosméticos, local onde sofreu o atentado.
Procurando fazer jus a
sua promessa, de ser um edil que ia imprimir uma nova dinâmica na governação da
cidade de Nampula, e acreditando que “através do trabalho é possível mostrar
que as coisas podem ser feitas de forma diferente e produzir resultados com
efeitos de desenvolvimento” revelou em 2013.Contudo não se sujeitou aos
caprichos do partido que o elegeu e em Agosto passado anunciou a sua
desfiliação do terceiro maior partido do nosso País. “Fui convencido para vir
gerir o município e vou mostrar aos moçambicanos como são geridos os fundos do erário
e o exemplo de boas práticas de gestão municipal. Vou continuar até ao fim do
meu mandato, não estou aqui para defender interesses partidário ou de
singulares, mas de todos moçambicanos", afirmou na altura.
“A paz que hoje
celebramos reveste-nos de esperanças (...), se todos nós nos apropriarmos da
cultura da paz no convívio social e privilegiarmos sempre o diálogo na solução
dos nossos problemas”, foram as última palavras em público por ocasião do Dia
da Paz em Moçambique.
O edil, que participou
nas cerimónias de celebração dos 25 anos do Acordo de Paz na praça dos heróis
na cidade de Nampula, terá dispensado a sua segurança pessoal e dirigido-se à
sua residência particular, no bairro de Namutequeliua, na zona conhecida por
“quatro caminhos”, onde funciona uma Farmácia de que é proprietário.
Testemunhas
ouvidas pela Polícia da República de Moçambique(PRM) relataram que foram feitos
três disparos, de uma arma de fogo do tipo pistola, “dois dos disparos
atingiram a zona do tórax e uma das munições passou pela lateral e quando
chegou ao hospital foi declarado óbito” precisou Inácio Dina, o porta-voz da
corporação, à Televisão de Moçambique.Segundo o vereador de Mercados e Feiras
no município de Nampula, Saide Ali, que acompanhava Amurane na altura do
atentado o atirador, um indivíduo alto e escuro, chegou numa viatura ligeira,
cerca das 18 horas, aproximou-se do edil que estava defronte da sua Farmácia em
conversa com ele e alvejou-o.Mahamudo Amurane deixa viúva e três filhos.
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