O Arquivo Histórico Sul-Africano
(SAHA) divulgou recentemente o depoimento do antigo Comandante da Força Aérea
Moçambicana, Coronel João Bernardo Honwana, perante a Comissão da Verdade e
Reconciliação (TRC) da África do Sul. O depoimento do Coronel Honwana, que
integrou a Comissão de Inquérito moçambicana instaurada para investigar as
causas do acidente de Mbuzini, foi feito numa sessão à porta fechada da TRC,
realizada na Cidade do Cabo em 3 de Junho de 1998. A divulgação do depoimento
cumpre o estipulado na Lei da Promoção do Acesso à Informação em vigor na
África do Sul desde 2000.
De acordo com o Coronel João
Honwava, as relações entre Armando Guebuza e o Presidente Samora Machel, pouco
antes do acidente de Mbuzini, “eram muito tensas”. O ex-comandante da Força
Aérea Moçambicana acrescentou que “havia rumores de que Guebuza estava a
preparar uma força especial, eventualmente com o objectivo de derrubar o
Presidente Machel”. Em face desta situação, disse Honwana, “Guebuza deixou de
ser ministro do Interior, passando a deter um cargo que, basicamente, não tinha
nenhum significado”.
A sessão à porta fechada da TRC
foi presidida por Dumisa Ntsebeza, membro do Comité para as Violações de
Direitos Humanos, tendo contado com a presença de Wilson Magadhla, chefe de
investigações especiais da Comissão da Verdade e Reconciliação, para além das
jornalistas Debora Patta e Christelle Terreblanche.
No depoimento, Honwana referiu-se
a uma série de reuniões do Bureau Político do Partido Frelimo, que “discutiram
toda a questão em torno de Guebuza”, no decurso das quais “houve uma troca de
palavras bastante tensas entre Guebuza e o Presidente Samora Machel”.
Honwana disse que as forças
governamentais haviam perdido o controlo da situação militar em Moçambique, e
que Samora Machel havia declarado “numa reunião em Maputo três dias antes do
acidente de Mbuzini, que “desconhecia a gravidade da situação militar no
terreno”. Salientou o Coronel Honwana: “Ele deu a entender que havia sido
induzido em erro, e levado a acreditar que as Forças Armadas tinham o controlo
da situação”, quando a realidade era outra. Numa visita à Base Aérea de Nacala,
por ocasião do encerramento de um curso de formação de batalhões de forças
pára-quedistas, Machel declarou, de acordo com o depoimento de Honwana, que
“uma vitória contra a Renamo dependia da colocação da pessoa certa no lugar
certo”. Na sequência destas declarações do Presidente Machel, acrescentou
Honwana, “o General Sebastião Mabote foi substituído no cargo de Chefe de
Estado-Maior da Forças Armadas de Moçambique por Armando Panguene, tendo Mabote
seguido para Cuba”. Ainda de acordo com o depoimento do Coronel João Honwana,
no regresso de Samora Machel da viagem à Zâmbia, em 19 de Outubro de 1986, o
chefe do Estado moçambicano “preparava-se para remodelar a estrutura de comando
das Forças Armadas de Moçambique”. (Redacção)
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