Em primeiro lugar, tenho de saudar a coragem e a
determinação que o ex-ministro das Finanças Manuel Chang demonstrou ao
manifestar publicamente a intenção de se candidatar para as próximas eleições
da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), numa altura em que o actual titular
do cargo, Feizal Sidat, por força da lei, não mais poderá concorrer.A aparição de Manuel Chang é bem-vinda à família
do futebol moçambicano, pois a sua experiência, acumulada ao longo de muitos
anos como governante, poderá trazer uma mais-valia para a modalidade, só que,
caro Chang, quem avisa amigo é.
Em abono da verdade, candidato Chang, as pessoas
que o rodeiam, em algum momento, não lhe estão a ser fiéis. Elas não lhe
transmitem fielmente a actual realidade do futebol nacional. Quando lhe aconselham
a dizer que hoje em dia muita gente não vai ao futebol, induzem-no em erro ou
seja, não estão a ser realistas. Não é verdade que as pessoas não vão ao
futebol. E não é verdade que os campos andam às moscas. O que deve estar a
acontecer, na minha modesta opinião, é que as pessoas que o rodeiam devem ser
elas primeiro que não vão aos campos. Por consequência, estão totalmente
desfasadas da realidade futebolística do país.
Eu, que por obrigações profissionais tenho ido aos
campos aos fins-de-semana, não posso admitir que haja pronunciamentos deste
género, porque nos jogos do Moçambola, principalmente nas províncias, os campos
andam abarrotados. Por exemplo, quando os “Mambas” jogam, mesmo que os
resultados não sejam abonatórios, tanto o Estádio Nacional do Zimpeto como o
Estádio da Machava ficam prenhes de espectadores.
Afinal de que campos estão a falar os seus
sequazes, Manuel Chang? Acho que de todos menos dos que eu, como profissional,
frequento com muita regularidade, sobretudo em cobertura dos jogos do
Moçambola. Acho que deve haver outros campos algures, onde essa gente deve
praticar outra modalidade que não seja futebol.
Aliás, entristece-me quando se fala do que
acontecia há 20 anos. Queremos trazer o futebol de há 20 anos? Onde se jogava
nos pelados e os atletas treinavam depois das horas normais de serviço? É isto
que queremos trazer de volta? Gosto muito de comparações, sobretudo quando elas
são sustentadas com dados, o que não deve estar a acontecer. Neste caso, acho
que estamos diante de discursos infundados, elaborados por pessoas que não
conhecem a actual realidade do futebol no país.
Afinal o que move esta gente toda a andar atrás do
ex-ministro das Finanças? Será mesmo por questão de pura e simples vontade de
ajudar o futebol nacional a desenvolver? Abra o olho, Chang, sob o risco de
manchar o seu “bom” nome e a reputação de que goza em vários meandros do país.
Uma outra vertente, Chang, talvez por indicação
dos seus seguidores, terá dito na Beira, na sua campanha, que quer potenciar a
componente de infra-estruturas, sobretudo através dos campos nos bairros para a
descoberta de novos talentos.
Não acredito que isto tenha saído da boca de uma
figura idónea como Manuel Chang, um ex-governante que durante muito tempo teve
o “saco azul” deste país nos seus pés. É muito delicado falar deste assunto,
porque já tem “barbas brancas”.O que o candidato Chang devia ter feito, quando
governante, era ter evitado que esses espaços nos bairros destinados à prática
desportiva fossem usurpados por pessoas que não são da área para fins ilícitos
como a construção de barracas, bombas de gasolina, etc., etc.Não acho que este assunto de infra-estruturas nos
bairros seja da competência da Federação Moçambicana de Futebol. Talvez seja,
em dose maior, do Governo que tem a função de proteger o seu cidadão de
qualquer que seja a infracção. O bem-estar do povo é competência exclusivamente
do Governo e do Estado.
Portanto, se o ex-ministro Chang quer granjear a
simpatia dos amantes do futebol tem de falar mais do futuro do que do passado,
porque efectivamente o que nos preocupa a nós todos são os resultados
desportivos que raramente aparecem, principalmente nas competições
internacionais. A não ser que Chang queira ser presidente de uma Federação
Moçambicana de Futebol de Veteranos.
Abra o olho, Manuel Chang, sob o risco de cair no
descrédito!
(Por Gil Carvalho/jornalista Notícias)
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