Qualquer coisa diferente produz exclusão e gera
insustentabilidade perigosa. Os esquemas estabelecidos e ferrenhamente
defendidos em alguns círculos, o poder por todos os meios, devem ser vistos
como os verdadeiros atentados para a unicidade de Moçambique. É conversa fiada e enganadora repetir e mediatizar uma “unidade nacional” que
não se sente nem se vive. Sem participação e comparticipação, sem democracia
política e económica, dilui-se o sentido e significado de pátria. Pelo facto de a elite ou nomenclatura nacional recusar-se a compartilhar o
país, milhões de moçambicanos vegetam, no lugar de viver com dignidade.
Os espectáculos dispendiosos chamados comícios são como os circos da antiga
Roma. Finda a apresentação dos figurinos escolhidos a dedo, os jornais
regimentalistas e estacões televisivas espalham a mensagem preparada, mas, no
concreto, nada muda, pois o alvo continua a se não sentir envolvido nas lides
nacionais.
Depois de tantos anos de promoção de assimetrias e estratégias de afunilamento
e concentração do poder através de artifícios étnico-políticos, chegou-se a um
fim de linha. De dentro do partido no poder surgem sinais preocupantes de
clivagens em linhas supostamente raciais, que denotam um divórcio entre gente
que antes era “camarada”. Na defesa daquilo que pode ser considerado de espólio
de guerra, jamais vencida, mas oferecida de bandeja por outros “camaradas de
Lisboa”, testemunha-se uma incoerência gritante por parte de pessoas com
responsabilidades históricas.
Como já se concluiu que não é possível continuar a excluir a maioria, adopta-se
corta-matos, para mostrar que todos beneficiam da riqueza nacional. Mas é por
demais evidente que quem beneficia são os mesmos de sempre. Onde haja rubi ou
turmalinas, ouro ou ferro, carvão ou gás, são os mesmos que atacam e agarram
tudo. Como deve ser propagandeado que outros participam, até se concedem
posições de accionistas a alguns eleitos, mas, no essencial, tudo está tomado e
de forma ilícita por uma elite que se julga proprietária do país.
Numa situação de completa desigualdade e de regras de jogo diferentes, é
caricato falar de “unidade nacional”. Os moçambicanos não estão à espera de
distribuição gratuita de riqueza nem de esmolas.
Afastar a guerra do vocabulário das pessoas e concorrer efectivamente para a
consolidação da paz passa por haver uma atitude de responsabilidade,
honestidade e coerência entre os políticos.
Processos eleitorais vencidos através de manipulação e violência policial e
política e através de conluios entre “toupeiras judiciais” e poder político são
de utilidade reduzida e limitada. Como se pode ver, as eleições de Outubro de 2014 produziram toda a tensão
actual por terem acontecido sob o signo da fraude organizada nos mais altos
escalões politico-governamentais.
A mobilização dos pesos-pesados do partido no poder para o processo só confirma
que havia consciência do risco de aquelas eleições não correrem de afeição e de
passar de posição a oposição.
Este Moçambique precisa de normalizar-se, e isso só pode acontecer se houver
disposição e realismo por parte de todos.
Um dos pilares da sustentabilidade nacional é a Justiça, que não pode continuar
amarrada ao partido Frelimo. Foi a impunidade em Gaza que distorceu o jogo
democrático. Foi a violência policial e coerção que mancharam o processo
eleitoral. Se os observadores fazem vista grossa e se a máquina eleitoral está infiltrada
por especialistas informáticos que antecipadamente decidem quem é o vencedor,
não se pode designar os resultados finais como livres, justos e transparentes.
Se a elite detentora do poder decide que, para manter-se no topo da pirâmide,
deve rapidamente distribuir parte do bolo, essa opção pode ser acertada, mas é
insuficiente, pois continua a não responder aos anseios de milhões de
moçambicanos.
Enquanto persistir a incapacidade de ver os assuntos discordantes ou as razões
para a discórdia e tratá-los de forma realista, estaremos promovendo crises e
alimentando o oportunismo divisionista.
Precisa ser dito que quem divide são aqueles que desde os primeiros dias após a
Independência se colocaram como senhores inquestionáveis e donos da verdade
absoluta.
Começaram com pequenos gestos como “lojas dos responsáveis”, depois avançaram
para outros patamares, até se apresentarem com frontalidade como senhores
todo-poderosos, senhores da vida e da morte dos outros. Quem viveu não se esquecerá jamais do que significava ser “estrutura” e o poder
conferido a esta entidade. Depois de uma longa e sangrenta guerra civil, chegou-se a um entendimento e
acordo chamado AGP. Regista a história que o AGP foi um fiasco no essencial,
pois não conseguiu trazer a separação efectiva dos poderes democráticos.
Será que há seriedade e realismo para abordar os verdadeiros “dossiers”
nacionais e tratá-los de forma adequada, promotora da paz e da estabilidade?
A ver vamos, pois o tempo escasseia, e os moçambicanos esperam por muito mais
do que comícios e proclamações. O que é lamentável é que, após 40 anos, se toquem os mesmos “discos furados”.
Há oportunidade de incluir os outros na discussão sobre e por Moçambique.
Ninguém sabe tudo e ninguém nada sabe.
Os moçambicanos não querem esmolas, “frozy” nem bolachas oferecidas para
baterem palmas ocasionalmente.Haja sensatez e seriedade e que se assuma que a “mentira tem pernas curtas”.Os “históricos” têm o seu lugar garantido na História de Moçambique, mas
entendam que não são deuses para porem e disporem conforme lhes apeteça. (N.N.)
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